Bowie e o Flu (por Paulo-Roberto Andel)

BOWIE E O FLU

Horas atrás, David Bowie faleceu. Um dos maiores artistas do século XX, que chegou ao XXI ainda com grandes obras musicais, casos de “The Next Day” e “Blackstar” – este, ainda sequer disponível fisicamente nas lojas.

É de se imaginar o que David Bowie tenha a ver com este PANORAMA. Eu explico, ao menos a respeito do Fluminense que eu vivi – aquele, dos jovens leões do fim dos anos 1970 e começo dos 1980.

Durante certo tempo, Bowie, embora um artista consagrado, experimentava um certo ocaso depois de seus grandes trabalhos da época em que vivia em Berlim e lançou sua trilogia musical,  com os álbuns “Heroes”, “Low “ e “Lodger”, entre os anos de 1977 e 1979. Para muitos jovens roqueiros tricolores, uma trilha sonora do pós-Máquina, tempos difíceis para o Flu, sem conquistas, sendo quebrados pontualmente pelo timaço de 1980, e infelizmente retomados nas duas temporadas seguintes.

Quando veio 1983, o Fluminense renasceu com um time fantástico e inesperado, formado por jogadores remanescentes de outras temporadas, mais contratações sem muito alarde e jovens jogadores da base e de fora. A politizada torcida tricolor teve enorme participação neste processo, cobrando dos dirigentes, organizando greves e repudiando tempos que em até um picadeiro de circo – literalmente! – esteve alojado em pleno gramado das Laranjeiras. Sim, a nossa turma não tratava os gols sofridos como algo palatável, nem acreditava na primeira história da carochinha.

Deu no que deu: o supertime tricampeão carioca até 1985, também campeão brasileiro em 1984, desafiando definições e constrangendo as redações. Apesar de não conquistar títulos nos anos seguintes, pode-se dizer que as sobras do time tricampeão ainda repercutiram até o começo de 1989 – afinal, lá estavam ainda Romerito e Washington na partida monumental das quartas de final contra o Vasco, pela Copa União: eles eram os absolutos favoritos e nós os eliminamos.

Num paralelo, em toda aquela época mágica do Fluminense de Assis, David Bowie emergia da pasmaceira e com seu clássico “Let´s dance” ganhou as pistas e as rádios de todo o planeta – era uma audição obrigatória de todos os adolescentes e jovens adultos daquele tempo no Rio de Janeiro, fosse por Copacabana, Tijuca ou Madureira. Quem se lembra das danceterias? Ao lado do Rock Brasil e de nomes como Yes, Van Halen, Kiss, Duran Duran e o iniciante U2, Bowie é uma referência radiofônica clássica daqueles tempos – embora fosse torcedor do Manchester United e, em certa época, tenha usado nomes de jogadores do Arsenal para se hospedar em hotéis sem ser reconhecido.

Recolhido desde o início do século XXI e sem conceder entrevistas, ele reapareceu apenas por sua incomparável arte em “The Next Day”, álbum do começo de 2013, que não foi um bom momento para o Flu.  Justamente agora que o Tricolor luta para se reencontrar e buscar o caminho dos títulos, num cenário bem parecido com o de 1983, ainda que em outras condições econômico-financeiras e até mais badalado (contratações, novo uniforme e patrocinador a caminho), Bowie tinha acabado de lançar “Blackstar” na sexta-feira passada, data de seu aniversário de 69 anos. Era a espetacular despedida e ninguém sabia: o artista estava doente de câncer há quase dois anos.

O que resta é torcer para que “Blackstar” venha a ser uma trilha sonora de grandes momentos do Fluminense neste 2016, assim como aconteceu nos anos 1980, quando Bowie foi quase um amuleto musical de Alvaro Chaves. Que o Camaleão nos ajude de onde estiver. Sua canção derradeira é “Lazarus”, que fala de ressurreição. Faz todo sentido para as três cores.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: google/globo/gustavo gigio

bowie gustavo gigio

3 Comments

  1. Alô Andel. Chame esse pessoal de volta pô. As férias deles são de 60 dias?. Estou sentindo falta dos comentários.

  2. “A politizada torcida tricolor teve enorme participação neste processo, cobrando dos dirigentes, organizando greves e repudiando tempos que em até um picadeiro de circo – literalmente! – esteve alojado em pleno gramado das Laranjeiras. Sim, a nossa turma não tratava os gols sofridos como algo palatável, nem acreditava na primeira história da carochinha.”

    Que essa atitude volte o quanto antes…

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