Bom senso… (da Redação)

BOM SENSO

reunião bom senso 2

Há exatos nove dias, matéria publicada pelo diário Lance!, assinada pelo jornalista Igor Siqueira, relatava a dificuldade de se estabelecer o amplo debate a respeito de uma liga nacional de clubes.
Claro, a CBF tentou inviabilizar a discussão e muitos clubes não aderiram ao tema.

Nas entrelinhas, um conhecido nome passou completamente batido; o do principal fomentador da discussão, Sr. Mario Celso Petraglia.

De acordo com a mesma matéria, os últimos dirigentes a deixar o salão de debates além do próprio Sr. Petraglia foram os presidentes do Bahia, Marcelo Sant’Ana, e Peter Siemsen, o mandatário tricolor, além do zagueiro Paulo André, representante do Bom Senso F.C.

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Para os mais jovens, desavisados e distraídos, convém ligar a seta antes de fazer a curva.

Naturalmente, o Fluminense precisa ter a sua representação institucional fortalecida, de modo que os interesses tricolores sejam respeitados e exercidos. Cláusula social indiscutível e, na reunião, bem praticada pelo presidente do clube das Laranjeiras.

A questão mais complexa é tentar entender como algo que seja do bom interesse do Sr. Petraglia atenda também o Fluminense em qualquer assunto.

Dia 24 de novembro de 1996. Última rodada do Campeonato Brasileiro. Desesperado, depois de uma campanha ruim e também muito prejudicado pela arbitragem, o Fluminense entrava em campo contra o Vitória, precisando vencer o jogo e torcer pelo insucesso de dois rivais na briga contra o rebaixamento: o Criciúma, que enfrentaria o Atlético Paranaense na Arena da Baixada, mais o Bahia, que enfrentaria o Flamengo em… São Januário!

Antes desta rodada final, havia acontecido a grande confusão nas Laranjeiras depois da derrota de 3 a 2 para o próprio Atlético.

O Fluminense fez sua parte e venceu o rubro-negro baiano, mas é claro que já estava condenado: os resultados improváveis aconteceram, o Criciúma conseguiu virar um jogo que perdia na Baixada e, claro, o Bahia venceu com facilidade o Flamengo em “casa”. Ao término do jogo no Paraná, a torcida atleticana soltava fogos e festejava a derrota como se fosse um título. Sobre o jogo de São Januário, a imprensa ficou tão esquecida como em 2013 no caso André Santos-Heverton.

Até aqui, apenas um rol de coincidências. Mas ia piorar. Muito.

“Meses depois, em maio de 1997, o Jornal Nacional divulgou gravações do então presidente da CONAF (Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol), Ivens Mendes, que denunciavam a venda de resultados e o financiamento de campanhas políticas.

Em uma das gravações, Mendes foi flagrado pedindo R$ 25.000,00 ao então presidente do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, e sugerindo-lhe de que, em troca, beneficiaria a equipe paranaense nas oitavas de final da Copa do Brasil daquele ano, nas quais o time paranaense enfrentaria o Vasco.

No jogo de ida, no Pinheirão, o Atlético-PR bateu o Vasco, por 3 a 1, e o então craque vascaíno Edmundo acabou sendo expulso. No jogo de volta, o Vasco chegou a abrir 4 a 1 no Furacão, mas acabou tendo a vantagem diminuída para 4 a 3 e, desta vez, o meia Felipe foi expulso de campo.

Em outra gravação, também divulgada pelo Jornal Nacional, a voz de Ivens Mendes pedia ao presidente corintiano Alberto Dualibi uma ajuda financeira. O valor a ser pago? “1-0-0”, respondeu Mendes, dando a entender que a quantia a ser arcada pelo presidente alvinegro seria de R$ 100.000,00. O Corinthians, que havia passado nas quartas de final pelo Atlético-PR, enfrentou o Grêmio nas semifinais e acabou eliminado.

Em ambos os casos, o dinheiro seria supostamente utilizado para financiar a campanha de Mendes, que sairia como candidato a Deputado Federal em 1998, pelo estado de Minas Gerais.

Em 14 de maio, foi criada uma Subcomissão Especial na Câmara dos Deputados para averiguar o caso. Um de seus integrantes era o então deputado Eurico Miranda (pois é…), que foi presidente do Vasco mais tarde. Eurico clamou pela suspensão de uma das semifinais da Copa do Brasil, entre Grêmio e Corinthians, uma vez que o time paulista havia eliminado o Atlético-PR, que por sua vez eliminara o Vasco em condições suspeitas. Porém, a CBF não alterou nenhum resultado.

Alberto Dualibi, afirmou que não sabia de nada, mas depois declarou à Subcomissão que seu envolvimento com Ivens Mendes era “apenas pessoal”. Já Petraglia se disse coagido por Mendes a prometer dinheiro para a campanha, mas negou quaisquer participações no escândalo. No dia seguinte à divulgação das denúncias, Ivens Mendes, que presidira a CONAF por dez anos, pediu afastamento de seu cargo.

Embora se declarasse inocente, Mendes justificou seu afastamento pelo fato de sua família estar sofrendo ameaças. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) baniu Mendes do futebol e impediu legalmente Dualib e Petraglia de representarem seus clubes perante a CBF, mas isso não afetou suas atribuições à frente das diretorias dos clubes. Dualibi foi suspenso por dois anos, mas nunca cumpriu e Petraglia foi eliminado do futebol(?).

O Atlético-PR foi suspenso por 360 dias, mas a suspensão não o afastou de nenhum torneio. O Corinthians nada sofreu.

No Campeonato Brasileiro de 1997, o Atlético-PR começou com cinco pontos negativos, no torneio que começou com dois clubes a mais porque a CBF cancelou os rebaixamentos de Fluminense e Bragantino no ano anterior. A Subcomissão Especial criada na Câmara para investigar o assunto não teve seus trabalhos concluídos. Nenhum dirigente da CBF foi envolvido no caso e nenhum árbitro foi acusado de fazer parte do esquema de armação de resultados.”

Leia AGÊNCIA FOLHA

Leia BLOG DO PVC

O Sr. Petraglia voltou às suas funções, digamos, esportivas normalmente.

Em 2007, Alberto Dualibi renunciou à presidência do Corinthians para evitar o impeachment.

Leia RENÚNCIA

Alguns anos depois do escândalo das arbitragens, Ivens Mendes faleceu.

A culpa de toda a história caiu nas costas do Fluminense.

Quase vinte anos depois, o Sr. Petraglia faz o papel de sopro de renovação na condução do futebol brasileiro.

Se cabe a este PANORAMA um conselho de companheiro de torcida ao presidente tricolor, ele pode ser resumido em uma discreta e humilde palavra: prudência.

Ao zagueiro Paulo André, um garoto na época dos acontecimentos nefastos, a humilde sugestão é a de uma breve pesquisa no Google.

Tudo pelo bom senso, naturalmente.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: diário do centro do mundo

1 Comments

  1. Um pouco de estudo de História (assim, com H maiúsculo) nunca fez mal a ninguém!
    Ótimo artigo!
    SSTT4!!!!

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