Banana nanica, banana grossa (por Alva Benigno)

alva japonês tricolor

ATENÇÃO: LEITURA IMPRÓPRIA PARA MENORES DE 18 ANOS

Chiquinho Zanzibar acordou com a macaca. Maltratou Marialva, a diarista. Assustou Moreira e Pompom, os mimosos gatos da casa. E não telefonou para Esmeralda, que saíra cedo para ir à academia.

Jogou o robe grená no chão e vestiu a roupa sem trocar de cueca ou tomar banho. Estava possesso. Foi à rua, rumo à Avenida Atlântica. Um leão ferido, tal como o grande hit de Byafra. Ok, na verdade uma leoa.

“Fecho os olhos/ não te quero mais/ dentro do coração”

O enputecimento da bicha crápula se deu na madrugada anterior, ao ler na rede social Facebook o discurso comunista dos blogueiros tricolores de merda, meros laranjas da democracia que ele tanto abomina. Para piorar, dois dos seus principais alvos de ódio: os patifes Antonio Gonzalez e Paulo Andel. Para piorar ainda mais, com um comentário do professor Luiz Alberto Couceiro, referência intelecto-social e coautor de um dos livros mais impactantes da defesa institucional do Fluminense: “Esse doutorzinho está pensando o quê? Eu é que tenho o poder! O meu time se resume em AC/DC. Antes de Chiquinho e depois de Chiquinho. Comunistas de merda, bofes que me desprezam mas não me enganam. Ainda vou fazer os três, nem que tenha que acordar com Maria Padilha. Eu sou a rainha do Fluminense, porra! Eu é que mando nessa merda! Os súditos têm que beijar os meus pés.”

Resmungando, passou lépido e fagueiro pelo calçadão, sem muito tempo para abafar diante de garotões da praia. Caminhou cerca de meia hora quase bufando, então decidiu voltar para casa. Abriu e bateu a porta com força, enquanto Marialva se escondia no canto da área de serviço. Ligou o notebook e foi notificado na rede antissocial Facebook por meio de seu fake: 500 recados de parabéns para Andel, um detestável escritor. Deu um grito como se estivesse tendo um dente extraído sem anestesia e quase quebrou o computador. Ódio, ódio, ódio. Não podia ver com seu perfil original, porque Andel supostamente bloqueou todos os sócios do clube que pertencem ao famoso grupo das “Marias Saunas a Vapor”. Largou tudo e foi para a sala.

Enfim, um momento de paz. Sacou da estante um velho LP da era de ouro do rádio e colocou na vitrola. Pelo menos nisso, a bicha escroque tem bom gosto: registro de Carmen Mirandola, “Chiquita Bacana”, 1949. E subitamente começou a rodopiar na sala, cantando e fazendo evoluções como se ele mesmo fosse uma Chiquita. Tivesse uma indumentária à altura para a ocasião, seria uma transformer capaz de se apresentar nos palcos do Buraco da Lacraia, uma de suas filiais de Pecadópolis. “Chiquita Bacana lá da Martinica/ se veste com a casca de banana nanica”.

https://youtu.be/krrVyJzR2Ns

Quando mais desmunhecava e rebolava, a festa foi interrompida: Esmeralda chegou e abriu a porta, depois de intensa atividade física. Ela lhe deu um beijo na testa e o maníaco fingiu contentamento: detestava o suor feminino, pior ainda da ex-obesa. Antes de tomar banho, Esmeralda avisou ao marido esquisitão: “Amor, o notebook está tocando com vários recados para você”. E foi para o toalete da alegria.

Chiquinho correu para o quarto, sentou-se levemente roçando o veterano traseiro na almofadinha, como se sentisse calores do sexo, sonhando com recados de amor: um conselheiro discreto, um soldadinho de chumbo da militância ou até mesmo um ex-dirigente que lhe desse o famoso “banho da alegria”. Ou de algum companheiro de torcida que lhe apoiasse na tese estapafúrdia de que o Fluminense deveria perder o jogo contra o Ypiranga pela Copa do Brasil, para obter vaga na Copa Sulamericana. Afinal, o que é entregar um jogo para quem dá tudo o que pode em nome de dinheiro, poder e escrotidão?

Muitas mensagens de alerta no notebook. Num segundo, tudo mudou ao abrir a primeira que viu, na rede antissocial Twitter:

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Apesar de seu racismo evidente, os olhos de Chiquinho saltitaram: o perfil era quase uma declaração de amor. Uma imagem máscula, viril, ideal para o amor que não ousa dizer seu nome. Nem o racismo impediria sua paixão: gamou.

“Oi.”

“Tudo bem, filhão?”

(Brasil-sil-sil)

Enquanto Esmeralda tomava uma demorada ducha, aliviando-se da vigorosa jornada na academia, o pilantra de acaju só tinha olhos para seu novo amigo virtual, que poderia se tornar até um sobrinho ou um afilhado em breve. Esqueceu dos blogueiros comunistas de merda. Esqueceu até do jogo do Fluminense, ainda era cedo. Para que pensar no ódio por laranjas vermelhas tendo em mãos uma suculenta e vistosa banana africana?

Carmen Mirandola na vitrola deu sorte. A tarde da nossa querida bichona reacionária estava só começando. Se o Fluzão ganhar, banana para comemorar. Se perder, banana para esquecer.

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Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: a2

1 Comments

  1. As aventuras do Zanzibar são tão incríveis que rasgam a minha indecente curiosidade. Sempre fico na expectativa de um final feliz.

    Alva, você deveria escrever novelas da Globo!

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