Assis 30 (por Paulo-Roberto Andel)

ASSIS 30 2

Não importa que esta foto esteja distorcida ou desfocada, nem mesmo lúcida.

Não há um torcedor vivo ou morto do Fluminense que não reconheça tais imagens, mesmo rabiscadas, nubladas, amassadas. Isso é absolutamente desimportante.

Toda atenção é que se faz presente.

Aquele homem negro, esguio, de sorriso a contagiar mil Maracanãs, de voz doce e pausada, o carregar elegante da bola, com sua alegria infinita a explodir em cada gol marcado e depois dar pulos sem sair do lugar, geralmente comemorando com o companheiro Washington, observa atentamente a trajetória da bola que acabou de chutar.

E isso tem um fundamento definitivo: a imagem seguinte à dessa foto é a de um dos maiores gols da história, um gol antológico que hoje, quase trinta anos depois, ninguém esquece.

Aquele homem negro, esguio, de fácil sorriso, tinha chegado timidamente ao Fluminense meses antes. Era um contrapeso, por incrível que pareça.

Só que o destino tem na ironia o seu forte. E aquele que parecia vir apenas para ser coadjuvante se tornou a estrela da companhia.

Recordar é viver.

Tudo começou num humilde 3 x 0 contra o São Cristóvão e depois desembocou num mar de vitórias e taças.

Aquele homem negro e esguio, de sorriso fácil, vê a bola entrar mansamente no gol de Raul e inaugura a praça da apoteose em pleno gramado, para o delírio dos nossos admiráveis maníacos. Os flamengos numa desolação de morte.

Dia desses eu vi Benedito de Assis fazer o gol que ninguém mais acreditava, exceto ele, exceto Ricardo e Delei também, com um lançamento primoroso. Com esse gol, o Fluminense não foi campeão ali – teve que esperar mais três dias – mas a Gávea chorou oceanos de sangue.

Para desafiar a ordem vigente e mostrar que um raio cai duas vezes sim no mesmo lugar, passou um ano e lá estava o Benedito de Assis com sua cabeçada infinita a congelar a arrogância de Ubaldo Fillol, um dos melhores goleiros do mundo.

No futebol carioca, em toda a era Maracanã, apenas um jogador fez, em dois anos seguidos, dois gols que alijaram um grande rival local de um título.

Assis.

Foi daí que lhe deram o apelido de Carrasco. E tudo isso parece que foi ontem.

No entanto, já se foram trinta anos. E foi Assis quem ratificou para sempre um paradigma tricolor: o de acreditar obstinadamente no triunfo até o último suspiro, tal como ele fez em 1983.

Impossível ter dúvidas de que a genialidade esperta de Assis, o nosso Benedito, está condenada à eternidade, na mesma vocação que o Fluminense tem – como nos ensinou o mestre Nelson Rodrigues.

Hoje, Assis é 30 anos de Fluminense, é nome na camisa, é glória em carne, músculo e osso. No fim do ano, 30 anos de um senhor gol. Em 2014, 30 anos de outro senhor gol e dois grandes títulos.

E Assis será 50, 80, 200, 500. Um milhão.

Os clássicos são eternos e imortais.

Queridos e admirados maníacos tricolores, Assis é o que há!

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

4 Comments

  1. O Raul Plassman como comentarista prova que nunca esqueceu aquele gol. Sempre que comenta jogo do Flu torce contra. E eu gozo rios!

  2. Andel, muito bem lembrado esses 3 x 0 no São Cristóvão… foi realmente onde tudo começou! Me lembro bem desse dia, eu e meu pai lavamos o Voyage e ele ansioso com a estréia, me convencia que aquele time finalmente ia dar liga e daríamos um basta nas conquistas seguidas do Flamengo.

    Trocamos Lela e Gilcimar por Leomir e Duilio, chegaram do Inter o Tato e o Jandir. Nos livramos do Cristóvão e mais 2 para a chegada do Washington e do contra-peso Assis…

    Mas na estréia foi o meu conterrâneo Deley que fez os dois primeiros e eu tive a impressão que não tinha mudado muita coisa, afinal já tinha uns 3 anos que eu só lembrava o Jorge Cury narrando gol do mesmo Deley. Até que Washington marcou um gol feio, ao estilo Dadá Maravilha e pensei: É mesmo, agora o time é bom e vamos ser campeões! hehe…

    Na verdade era improvável que tudo desse tão certo, era só um monte de desconhecidos e eu nem sabia disso. Me lembrava apenas do Washington acabando com o Flamengo pelo Atletico-PR. Mas meu pai me convenceu que eu finalmente eu iria calar a boca dos flamenguistas da minha escola… Três anos depois eles é que queriam calar a minha boca. huahauaha.

    Esse time fez uma grande história!

    Alias, o time de hoje já escreveu uma história tão grande quanto aquele, talvez maior ainda, e por incrível que pareça, muita gente ainda nem se deu conta.

    abraços

  3. Assis inesquecível; Time inesquecível esse dos anos 80!
    ‘…a Gávea chorou oceanos de sangue…’
    Sensacional, Andel!
    ST.

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