Assim quis o destino (por Paulo-Roberto Andel)

fluminense 3 x 0 botafogo 15 11 1982

Os mais atentos hão de entender: jogadores, por melhores que sejam, vêm e vão.

Pode o clube ter imensa disponibilidade financeira ou navegar na penúria.

O grande perigo é quando se deixa escapar um craque por bobagens, caso dos tempos unimedianos onde a ordem era a dos medalhões. Um ou dois times inteiros de jogadores foram jogados fora. Nem todos vingaram, alguns brilham por toda a Oropa, outros parecem ter sido abduzidos.

E dinheiro? Também é terrível. Você perde um ás por ninharia e ele explode, vide o Marcelo com dez anos na lateral do Real Madrid. Os gêmeos. Alan. Maicon.

Sensação ruim mesmo é aquela de saber que o craque tem tudo para vingar, mas não acontece pelos mais variados motivos.

O Walter mesmo, com enorme talento e ainda uma dúvida no futebol, mesmo tendo passado por trocentos times.

Fica a certeza de que futebol não é apenas treinar e jogar. Quantos craques ficaram pelo caminho por absoluta falta de preparo e amparo psicológicos?

Era uma vez o Gilcimar, ponta-direita. Irmão de Gilson “Gênio”, craque da base do Flu, ponta-esquerda. Quem o viu em 1981 e 1982 sabia que ali estava uma potência. Foi embora antes do timaço de 1983, rodou o mundo, ganhou dinheiro, mas certamente não conseguiu um centésimo da fama que sua habilidade merecia. Imaginar ele com Assis, Deley e Tato? Céus.

E Paulo Andrioli? Jogou muito pouco pelo Flu, talentosíssimo. Chegou a ser campeão da Taça Rio em 1990. Ganhou moral e dinheiro no futebol suíco, está bem, tem uma escola de futebol, fala vários idiomas. Deveria ter sido um herói tricolor, mas não aconteceu. A grana veio firme, mas a história se perdeu.

O Edgar jogava demais nas peladas do fim dos anos 70. Certa vez, ganhamos um campeonato da vila que ficava na rua Tenreiro Aranha, em Copacabana, hoje simbolicamente falecida por causa da estação do metrô Siqueira Campos. Ele fazendo os gols, eu era o goleiro. Peguei até pênalti, nem sei como. Curiosamente, depois de ter jogado anos e anos na praia e no salão como zagueiro e meia, desde aquele título eu só voltei a jogar como goleiro uma única vez, no grupo de escoteiros – após grave contusão no tornozelo, acabou minha carreira. Poderia ter sido útil aos fanfarrões da Matemática nas Olimpíadas da UERJ se tivesse condições. O tempo não espera. O Edgar tinha tudo para se consagrar, mas era zagueiro, colocaram-no de lateral esquerdo (com razão, pois Edinho era o titular supremo), o time perdeu as semifinais de 1988 para o Bahia e tudo se desfez.

Antes do Thiago Silva ser O Monstro que todos conhecem, ele era o parceiro do outro Thiago, o Gosling, na zaga. Fizeram onze partidas juntos talvez, entre abril e maio de 2006. Se durasse um ou dois anos, talvez o Flu tivesse tido a melhor dupla de zaga da Terra. O Monstro seguiu a trajetória que lhe cabia; Gosling, não.

E o garoto Alexandre, que entrou, jogou trinta segundos, decidiu um Fla-Flu em 199 e nunca mais atuou?

fluminense 2 1 flamengo 14 11 1993

fluminense 2 1 flamengo 14 01 1993 2 alexandre

Braulino? Paulo Lino? Rangel? Marcelo Barreto?

O Julinho que veio do Bangu? O Juninho de 2005? O Wellington Silva, atacante de 2010?

Valtair 1981?

Zezé Gomes contra Zico no placar eletrônico em 1982? Levamos uma sova de 3 x 0 no primeiro tempo.

O futebol passa rápido demais e escorre pelas mãos.

Pelo menos aí estão Gerson, Robert e, do jeito que lhe cabe, o Kenedy. Fernando precisa se cuidar. Eduardo, mesmo lento, seria uma boa opção caso tivesse retornado do Ceará. Jovem Flu.

O que vai acontecer com essa turma?

Se fosse literatura, ninguém melhor do que Ivan Lessa para definir: “A crônica vai registrando, o cronista vai falando sozinho diante de todo mundo”.

Que fim levou o Delano das preliminares do Maracanã?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: jb

capas o espirito da copa + cartas do tetra 02 2015

1 Comments

  1. Bela crônica, como sempre!
    Abraço, fera!
    Que vençamos, domingo!
    ST

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