André Santos-Heverton: dois anos sem respostas (por Paulo-Roberto Andel)

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Dois anos atrás, você e eu fomos ludibriados por uma das mais incríveis imagens caleidoscópicas do jornalismo brasileiro em todos os tempos.

Dia 08 de dezembro de 2013. Uma data marcante por abrigar as notas obituárias de dois gênios em anos diferentes: John Lennon (1980) e Tom Jobim (1994).

Era a última rodada do campeonato brasileiro de 2013. Na véspera, sábado, Flamengo e Cruzeiro tinham jogado no Maracanã, empatando em 1 a 1. Mas o resultado não foi o destaque negativo da partida. Causou espécie que o lateral esquerdo André Santos, suspenso por decisão do STJD, tivesse entrado em campo sem qualquer tipo de liminar ou mecanismo jurídico de proteção. Jogou como se nada tivesse acontecido. Curiosamente, a suspensão do jogador foi amplamente noticiada na véspera da partida.

ANDRÉ SANTOS LANCENET 07 12 2013

Dezenas de jornalistas cobriam o jogo naquele dia, tanto no campo quanto nos bastidores, nas redações e estúdios. Dezenas. Com a internet a pleno vapor, as informações são instantâneas. Mas NINGUÉM conseguiu se lembrar da irregularidade da escalação de André Santos, de tal modo que ela não foi noticiada em nenhum dos grandes veículos de comunicação esportiva do Sudeste e do resto do país. Um inacreditável silêncio unânime.

andré santos extra 07 12 2013

A informação da irregularidade crassa modificaria todo o cenário do desfecho do campeonato. Quem sabe dizer se, informada do caso André Santos, a Portuguesa não teria sido mais caprichosa ao não escalar Heverton, jogador também suspenso, originando o caso popularmente conhecido como “Flamenguesa”?

Dentre as funções de um jornalista, apurar informações e dar notícias com exclusividade são paradigmas universais. O que teria levado dezenas de jornalistas ao esquecimento coletivo, uníssono, de algo tão evidente, cristalino, óbvio? Seria o maior caso de renúncia involuntária coletiva ao Prêmio Esso que se tem notícia na história do Brasil?

O escândalo da Flamenguesa caiu como um terremoto no mundo do futebol. E, claro, mais uma vez o Fluminense foi massacrado para encobrir o que está por trás da verdadeira história. A torcida tricolor foi ameaçada e agredida nas ruas. O clube recebeu novamente a pecha de virador de mesa.

Os jornalistas esportivos gritavam na televisão, batiam nas mesas, vociferavam pelo fim do Flu: Antero Greco, André Loffredo, Renata Maurícia, André Rizek, Fabio Sormani, Flávio “Vanessa” Prado, Mauro Cézar Pereira, Milton Neves, Judas Kfouri e outros menos votados.

E, claro, ninguém tocou numa vírgula que fosse a respeito do inacreditável esquecimento da imprensa.

Dois anos se foram. O que pode estar por trás da incrível coincidência da escalação irregular simultânea dos dois jogadores virou pó.

Está em silêncio o procurador do MP Roberto Senise.

Está em silêncio a imprensa esportiva do Brasil.

Os poucos que se manifestam geralmente utilizam o deboche – caso de Gustavo Poli, do Globoesporte, no Twitter – como se alguém pudesse achar minimamente razoável que, contrariando a praxe, dezenas de jornalistas presentes a um evento pudessem se esquecer de prestar uma informação relevante  – e grave – sobre o futebol brasileiro.

Justiça seja feita: a imprensa esportiva ainda vive com dignidade quando se tem um PVC à frente.

Há dois anos, o que se sabe é que um jogador foi escalado irregularmente, seu time seria gravemente punido e, pela mais absoluta coincidência, um jogador do único time que, se punido, salvaria a pele do time do primeiro, foi escalado menos de 24 horas depois. Digno de se cravar uma MegaSena em termos de probabilidades.

No aniversário de onze meses do caso Flamenguesa, o Globoesporte do debochado Poli, publicou a respeito.

Há dois meses, voltou a falar do caso.

Aguardemos a desfaçatez dos grandes veículos na data de hoje.

A culpa de tudo que pode ter acontecido não foi da imprensa esportiva: ela apenas ajudou a encobrir – involuntariamente ou não – uma das passagens mais nebulosas da história do futebol neste país, ainda a ser desvelada e esclarecida.

No mais, livros como “Pagar o quê? – tendo orgulhosamente este colunista como coautor – e “O escândalo do Brasileirão”, escrito pelo amigo Paulo Ricardo Paúl, não deixam dúvidas: ainda resta muito a ser esclarecido sobre a incrível coincidência da Flamenguesa.

Nota: se Samuel não faz aquele gol contra o Bahia na rodada 38/2013, tudo isso teria sido varrido para debaixo de um tapete a 100 metros de profundidade em relação ao nível do mar. 

Não deixe de conferir o Aqipossa.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: pra/extra/lance

pagar o quê mais o escândalo do brasileirão

16 Comments

  1. Tem mais…

    Porque Heverton e Andre Santos estão banidos do nosso futebol desde então?
    Porque blinda-los com um tipo de “exilio”?

    Quem não deve não teme.

  2. Mas, a propósito, não há qualquer prova de que a portuguesa tenha se concentrado, coisa que não fazia há tempos, por falta de grana. A “notícia” da concentração apareceu bem depois, numa matéria adulterada na página da principal torcida da portuguesa. Faça como nós: informe-se.

    St.,
    João

  3. Uma pergunta: se o Héverton foi escalado unicamente pra “salvar” o Flamengo, porque a comissão técnica da Portuguesa não foi avisada que o jogador estava irregular na sexta e no sábado? Porque Hérverton, suspenso, foi convocado pra concentração horas antes do jogo do Flamengo?

    Em outras palavras: se o objetivo era ajudar o Flamengo, porque a maracutaia estava armada antes do jogo? Não seria muito mais fácil não colocar André Santos em campo que manipular informação dois dias antes?

    1. Em tempo: é fácil perceber que o foco do texto não se dá em manipulações, mas no incrível silêncio da imprensa diante de um fato gravíssimo que poderia mudar todo o cenário da competição no dia seguinte.

      “Deve ter sido para favorecer o Fluminense…”

      1. Eu entendi o foco do texto.

        Mas o que nem o texto nem a resposta explicam é porque Héverton, suspenso, foi pra concentração ANTES do jogo do Flamengo. O Flamengo jogou e cometeu seu erro às 19 h de sábado. Por que, antes disso, a suspensão não foi comunicada à comissão técnica, Héverton treinou e foi concentrar? O fato de a Portuguesa ignorar a suspensão antes do jogo do Flamengo, não demonstra que não pode ter sido o Flamengo a arquitetar a irregularidade?

        1. O foco é: dado um acontecimento GRAVÍSSIMO na partida Flamengo x Cruzeiro, porque NENHUM dos grandes veículos de comunicação do Brasil comseguiu se lembrar de dar a notícia na cobertura do jogo imadiatamente após o término ou nas manchetes do dia seguinte, domingo.

        2. Erik,
          Não há nenhuma prova de que Heverton se concentrou. Quanto a treinar, é extremamente comum que jogadores suspensos treinem, o que não significa que já estejam escalados. Aliás, seria bem fácil a Imprensa verificar se Heverton concentrou ou não; a pergunta é porque não investigou isso até hoje! A resposta é óbvia…

          1. https://www.youtube.com/watch?v=Jl5l_KHRd4o

            Aqui um jogador do elenco afirma que ele concentrou. Como você bem disse, treinar é até normal, mas concentrar não.

            E precisamos considerar também que a maracutaia foi armada desde sexta à noite, quando a informação da suspensão saiu mas não chegou à comissão técnica da Portuguesa.

        3. Certamente, Heverton foi para a concentração, se realmente foi, pois ainda não provaram isso, por um motivo simples, caríssimo. Estava sendo julgado no mesmo dia. Se absolvido fosse, já estaria concentrado. Ganho de tempo.

          1. Parece que mesmo tentando entender mais sobre o assunto, mantendo uma conversa sadia e saudável, aparentemente tentando encontrar explicações, ou até mesmo, um ponto que certifique a inocência do Fla na questão, falta ao Erick algumas informações simples. Por exemplo, Sestário, o advogado que alegaram não ter informdo à Lusa da suspensão, pediu ele mesmo a quebra do seu sigilo telefônico, que apurou e comprovou, que ele avisou à Lusa. Outra notícia que confirma isso foi a da tal secretária.

  4. O que impressiona, “P”, é que nada que falamos nesses dois anos foi absurdo. Tudo é palpável, para não ter que dizer plausível, já que não há dúvidas do culpado. Imperssiona por não quererem dar “uma chance” à essa linha de raciocínio. Jornalismo sem vontade é só uma maneira de falar para não ser processado por eles. A verdade a ser dita para essa gente me colocaria atrás das grades.

    Não há como negar que a Imprensa está envolvida. Para que todos ficassem calados, uma ordem foi dada lá…

  5. Já detalhamos esse caso. Das tentativas pífias de mostrar coincidência, mostrar um “oh, que sorte a nossa!” na mentira do vazamento do e-mail, nas infundadas camuflagens verde e grená afim de botar o Flu como culpado, nas matérias da FlaPress falando do caso sempre citando o Flu e nunca o Fla, da renomeação do caso de Caso André Santos para Caso Héverton, e recentemente dos motivos financeiros que justificariam o Fla como o verdadeiro nome no LusaGate, mostrado pelo Aqipossa.

  6. Não só o poli. Mas a dama do caramanchão, sempre que pode, denigre o prêmio nobel do esporte brasileiro. Parabéns por não deixar esquecer nenhuma vírgula sobre este escândalo.

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