Alguma coisa fora da ordem (por João Leonardo Medeiros)

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Quando Mario Bittencourt assumiu a vice-presidência de futebol, em uma das recorrentes situações de emergência em que o Fluminense se vê metido, muita gente ressaltou sua coragem. Afinal de contas, Bittencourt estava com o prestígio em alta no clube após a belíssima defesa no tribunal do STJD, o que já o cacifava ao posto de barbada para a sucessão de Peter Siemsen. Caso a gerência do futebol não resultasse num incontestável sucesso, as críticas poderiam até inviabilizar sua candidatura em 2016.

Creio que, infelizmente para todos os que amam o Fluminense, a experiência com Bittencourt não deu certo. Como vice-presidente de futebol, nosso personagem demonstrou-se um excelente advogado. O elenco do Fluminense é desbalanceado, com falhas na zaga, nas laterais e no ataque, o clube acumulou derrotas e eliminações, algumas bem vexatórias e trocou de técnico várias vezes sem (ainda) acertar. Pior: apresentou como solução para a saída da Unimed uma científica busca por reforços que nos trouxe quase 15 jogadores que não nos ajudam em nada, alguns custosos segundo dizem. O único submarino em uma sequência de águas – para recordar a velha e boa “batalha naval” absurdamente reproduzida nos cadernos escolares – deve escapar pelos dedos para aparecer em outro clube.

Como resultado, o prestígio de Bittencourt despencou. De fato, sua permanência no posto que hoje ocupa no futebol do clube tem servido para unir uma oposição fragmentada e, em boa medida, sem projeto e para dotá-la da capacidade de construir uma alternativa eleitoral exequível. O sentimento é bem claro e já excede o terreno da lamentável oposição visceral à Siemsen: se o futebol do Flu entregue por Bittencourt é esse que vimos este ano de 2015, é melhor buscar outro nome. Há tanta razão aí que o próprio grupo político da situação (ao que parece) tem dúvidas quanto à pertinência da candidatura Bittencourt.

Não conheço Bittencourt, não conheço Siemsen, não conheço Horcades, Barros, Bueno, Tenório, ninguém. De longe, vejo em todos dessa lista heterogênea tricolores de coração, fanáticos, apaixonados pelo clube. Entendo que sua concepção de gerenciamento do futebol é muitíssimo diversa e insustentável em alguns casos (por exemplo, a “administração” financeira de Horcades quase nos matou, ou não?). No caso particular de Bittencourt, parece-me torcer pelo clube como eu faço, com a mesma paixão, com o mesmo vigor. Mas algo nos difere crucialmente: não trabalho para o clube, com ou sem remuneração. Não tenho responsabilidades com o clube, nem poderia tê-las atualmente, considerando a jornada de trabalho que tenho de cumprir para garantir uma vida mais ou menos confortável.
Essa é uma questão crucial: se Bittencourt é tricolor e torcedor, e ele é inegavelmente, não está gostando do que viu. Se não está gostando do que viu, entende que houve algo errado no gerenciamento do futebol, sua responsabilidade atual. Se foi ele o responsável, por que não partir de uma profunda revisão de procedimentos ou da própria renúncia autocrítica ao cargo?

Alguma coisa está fora da ordem. Pelo jeito, vamos de novo de scout “científico”. Ou seja, contrataremos mais uns 15 jogadores, só por coincidência, claro, ligados a dois empresários. Mandaremos uns 10 embora, alguns bons, outros ruins. Manteremos um treinador sem títulos à frente do time. Vejam já as primeiras notícias: faltando laterais e zagueiros, anunciamos pré-contrato com um volante. Em suma: tudo a lesma lerda, tudo igual ao ano de 2015.

A bola de cristal está revoltada lá em casa. Tudo na minha casa é tricolor; ela também, claro. Contra a minha vontade, contra a sua vontade, contra a nossa vontade, projetando a imagem do futuro a partir do cenário presente, o que ela vê é terrível: outro ano sem títulos, a torcida triste e longe do estádio, o clube numa luta fraticida pelo cargo de presidente. O próprio presente ainda está em aberto, de maneira que o futuro projetado pela bola tricolor ainda é incerto. Mas essa é a imagem que se projeta atualmente.

Infelizmente, o juízo que tenho da situação atual do nosso futebol não me permite omitir minha opinião, baseada no sentimento de que ninguém está acima do clube. Se Bittencourt contraditoriamente não está satisfeito com 2015 (recuso-me a acreditar que esteja, mesmo que ele diga o contrário), mas mantém a estratégia que produziu o fracasso, alguém acima dele tem de tomar uma providência. Acima dele estão o presidente e os conselhos do clube. Honestamente, é preciso agir: ou se convence nosso atual vice-presidente da necessidade urgente da mudança ou mudem com ele. Não deixem essa situação se perpetuar até ser considerada natural.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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