Agora é que vem a pior parte, ou a tragédia anunciada do Flu (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, agora é que vem a pior parte do roteiro de horrores escrito pelo Fluminense em 2019.

Quando chegamos ao final de 2018 tínhamos uma atmosfera de terra arrasada. Depois do desmanche do caro e controverso elenco de 2017, fomos salvos do rebaixamento pelos gols de Pedro, mesmo que este tenha ficado ausente desde agosto de 2018, devido a uma grave lesão.

Terminávamos o ano com um pesadelo vivido no Maracanã diante do América MG, que quase nos leva para a Série B.

Verdade seja dita, naquele final de 2018 podíamos contar com o retorno de Daniel, que nunca deveria ter saído. Tínhamos a iminência do retorno de Pedro. Tínhamos Ibañez e Mascarenhas. Tínhamos, enfim, João Pedro e Marcos Paulo para dar uma turbinada no elenco.

Terminamos 2019, em campo, bem melhor do que terminamos 2018. Se não brilhamos no segundo semestre, temos um modelo de jogo, implantado por Diniz e honrosamente resgatado por Marcão. Temos um time, ainda hoje, que pratica um futebol que os resultados da temporada não retratam.

Só que a partir de segunda-feira tudo isso acabou. O próprio modelo de jogo, que se transformou na carteira de identidade do Fluminense, está seriamente ameaçado. Pouca coisa restará do que temos de melhor no elenco.

Perderemos, de uma só vez, Allan, Caio Henrique, Daniel, Yony e João Pedro. Todos referências do elenco em 2019, quatro deles titulares durante toda a temporada. Não teremos um Ibañez para começar o ano comendo a bola. Não temos mais Pedro. Provavelmente, perderemos Gilberto, que pode até viver um momento ruim, mas teria tudo para se recuperar em uma pré-temporada bem feita.

Para piorar, perderemos Evanilson, que era a esperança no ataque, de graça, por pura incompetência de duas gestões consecutivas. Nada tão grave quanto a perda de Daniel, que era para ter sido posto no altar, recebido uma proposta tentadora, com o maior salário do elenco e contrato de pelo menos 3 anos.

Sairá de graça.

Portanto, temos um cenário de terra arrasada muito pior esse ano do que foi no final de 2018. Olhar para 2020 é um exercício que provoca calafrios.

Vejamos, abaixo, o elenco que teremos ao final da próxima semana:

Goleiros

Muriel, Marcos Felipe e Marcelo

Zagueiros

Matheus Ferraz, Digão, Nino, Frazan, Lucas Claro e Luan

Laterais

Igor Julião, Calegari, Mascarenhas, César e Orinho

Meias

Zé Ricardo, Caio, Dodi, Yuri, Ganso, Nenê e Miguel Silveira

Atacantes

Marcos Paulo e Pablo Dyego

Reparem que temos goleiros e zagueiros. Nas laterais o que temos são apostas, pois não se sabe quais serão as condições de Mascarenhas, César e Calegari são apostas, Orinho é somente razoável e Igor Julião não superou a margem da mediocridade até hoje.

Com uma situação assustadora no meio e no ataque, setor esse último para o qual sequer temos peças, nossos bravos dirigentes se desfizeram no meio do ano de Resende e Spadacio, que se destacavam no Sub-20, o segundo comendo a bola e fazendo até chover, numa transação para lá de obscura, mal explicada e, em dúvida alguma, lesiva aos interesses do clube.

Diante disso, vejo muitos torcedores clamando pela vinda de um técnico estrangeiro. Eu acho que o técnico é o ponto de partida no planejamento para 2020. Mas o que nós queremos não é um técnico estrangeiro e sim alguém que entenda de futebol como ele é jogado na atualidade.

O Fluminense jogou sua carteira de identidade pela janela e vai caminhando para se tornar um indigente futebolístico. A marca da incompetência e do descaso está em cada centímetro de nossa caminhada. Todos os acertos do início do ano foram simplesmente jogados na lata do lixo.

Mas o pior de tudo é que eu consigo antever o golpe final, porque o Fluminense de 2020, mais que em 2019, será o paraíso dos empresários. Vamos ser o destino do rebotalho do futebol brasileiro. Podem anotar o que eu estou falando.

Se 2019 foi o ano de celebridades como Ewandro, Kelvin, Brenner, Guilherme, Yuri, Dodi, Lucas Claro, Orinho, Nenê, Lucão e Wellington Nem, o que teremos em 2020 será muito pior.

Não será o nosso bom scout o parâmetro para contratações, se é que ele ainda existe. Seremos a feira permanente de exposição de mercadoria de quinta categoria. A diferença é que, muito provavelmente, esse rebotalho virá com contratos longos e salários inacreditáveis.

Para piorar, o Fluminense segue sem qualquer projeto estratégico ou financeiro. Isso significa dizer que perderemos Marcos Paulo tão logo surja uma proposta de duas balas juquinha e um pirulito zorro.

Reparem que Marcos Paulo é o único atacante em condições de ser titular que restará em nosso elenco, mas talvez nem inicie a temporada entre nós, de forma que perderemos quase todas as nossas referências técnicas, restando os goleiros (os três), Matheus Ferraz (que não se sabe em que condições vai voltar) e Paulo Henrique Ganso. Tomara que Miguel Silveira comece o ano fazendo chover, o que é bem possível.

A partir de segunda-feira poderemos dizer que não temos sequer um time completo para colocar em campo. É uma tragédia anunciada, porque sabemos que o clube sequer tem recursos para contratar, mas o pior de tudo é que os critérios tendem a ser assaz duvidosos.

Resta-nos a torcida, que, nesse final de ano, mostrou que está disposta a entrar em campo, mas até nisso o Fluminense é de uma incompetência desconsertante. Enquanto o Vasco soube aproveitar o efeito “cafés com leite” para, em uma semana – pasmem! – ascender à condição de maior base de sócios torcedores do Brasil, ultrapassando o time da Globo, gerando uma receita adicional anual na casa dos R$ 30 milhões, o Fluminense segue com cara de paisagem.

O Botafogo, por seu lado, tenta estruturar um fundo gestor e investidor para controlar o futebol e tentar combater a gigantesca dívida. Vale lembrar que o Botafogo, caso contabilizasse suas dívidas da mesma forma que o Fluminense, incluindo no passivo as disputas judiciais, como contingência, teria um escandaloso endividamento próximo a R$ 1 bilhão.

Nós temos R$ 700 milhões, mais torcida e maior potencial de geração de receitas, mas falar em fundo de investimento, gestão profissional, separação do futebol, governança, entrega do futebol ao fundo gestor nas Laranjeiras é o mesmo que xingar a mãe.

Não é só a indigência futebolística, mais um ano brigando para não cair… não. O que 2020 promete é coisa muito pior, porque já não temos mais nem ativos para vender, não temos perspectiva de montagem de um elenco minimamente digno. A previsão é afundarmos em penhoras e um pesadelo futebolístico que nos levará à Série B e ao fechamento das portas de forma indigna.

Ora, é óbvio que eu torço para que isso não aconteça, mas a minha função não é dizer aqui o que eu quero que seja e sim analisar friamente o que é. O torcedor tem no mínimo o direito a análises transparentes, porque transparência na gestão do clube não há, é quase uma não conformidade, um palavrão, uma excrescência.

Venderão a ideia de que é só a torcida se associar em massa que o problema estará resolvido. Sim, estará resolvido se alcançarmos uns 200 mil sócios com ticket médio mensal de R$ 50,00, o que levaria a uma receita anual com a rubrica de R$ 120 milhões.

Alguém acredita nisso? O Vasco, para chegar aos 160 mil sócios, vendeu seu plano a um ticket médio mensal de aproximadamente R$ 17,00. Não dá para comprar meio quilo de alcatra ou colocar gasolina para dar a volta no quarteirão.

O melhor que tínhamos a fazer é seguir o exemplo vascaíno. Mais R$ 30 milhões anuais já ajuda a pagar as penhoras.

Amanhã entramos em campo para nos despedirmos de uma temporada devastadora. Não pelo desempenho, em si, mas pelo inacreditável desperdício. Uma temporada em que chegamos a estar entre os quatro clubes que praticavam o melhor futebol do Brasil, em que jogamos pela janela uma Sul-Americana em que éramos disparado os grandes favoritos.

Uma temporada em que perdemos Pedro por uma mixaria e que terminaremos perdendo Daniel, Evanilson, Spadacio e Resende por pura incompetência e falta de compromisso com o sucesso do clube.

Jogaremos por uma vaga na Sul-Americana, pensando em possíveis 3 ou 4 milhões que, é bem provável, sequer teremos time para conquistar, mais uns trocados por terminarmos o Campeonato Brasileiro na frente do falido Botafogo.

A partir de segunda-feira, é muito suco de maracujá na veia, porque vamos precisar.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

2 Comments

  1. Marcelo, esse cenário já está se desenhando desde o meio do ano. Pela atuação da nossa diretoria nesse segundo semestre, acho que podemos cravar a queda para a série B em 2020. Eu não vejo saída para o Flu, embora ela exista. O problema é que os donos do poder não parecem interessados em uma solução. ST

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