“Adeus também foi feito para se dizer” (por Walace Cestari)

960_8b6f7afd-7458-3bb4-bcb7-473d8eb1c1a5

Palmares, símbolo de luta e resistência. O dia vinte de novembro homenageia o líder Zumbi e a consciência de ser necessária a obstinação, a determinação e os brios. Enfim, a data marca a celebração de guerreiros, para que eles nos inspirem a continuar suas conquistas. E, neste mesmo dia vinte, em campo, aqueles que outrora já tiveram a alcunha de “guerreiros” entravam sob aplausos de quase trinta mil apoiadores.

Mas o destino, escrito para nós desde meados de 2013, quis mais uma vez que o verde, grená e branco se fizessem símbolos da preguiça, do desânimo e da indolência. Nós que já fomos operários na década de noventa e guerreiros há tão pouco tempo, vimos de assalto nossa camisa ser vilipendiada por uma plutocracia que se instaurou nas quatro linhas. De companheiros a latifundiários, na improdutiva grama por onde passam os pés mais bem pagos do futebol brasileiro.

O jogo em si deu a falsa impressão de que seria nosso. O Flu começou em cima, dominando até a metade do primeiro tempo, perdendo boas oportunidades, apesar de nitidamente mal escalado. A presença de Cícero no ataque, jogando quase como um segundo centroavante, deixava o meio-campo vazio, semiocupado por um Rafael Sobis que não sabia onde deveria jogar. Assim, correndo desorganizadamente na frente, em dia de Conca pouco inspirado, não havia com quem sair a bola. Valência e Édson limitavam-se a passes laterais (como exigir mais que isso?) e o Flu batia cabeça, mesmo se lançando à frente.

Por outro lado, a Chapecoense demorou a parar de respeitar o Flu. Depois de um pênalti claro não marcado pela arbitragem, o Flu desacelerou, a Chapecoense encaixou a marcação e subiu, passando a pressionar a saída de bola do Tricolor. E o Flu deixou. Preguiçosamente aceitou a condição de dominado e ruminou lentidão até que o apito do árbitro findasse aquele sofrimento.

O placar do Estádio-que-já-foi-o-Maracanã anunciava a substituição no Flu. O problema revelava-se maior que o imaginado: escalar mal, mexer mal. Cícero, que deveria atuar no meio, onde havia um eterno vazio, deu lugar a Walter. Sim, presos à marcação e necessitados de movimentação, passamos a ter três atacantes, nenhum que possuísse qualquer marca de velocidade. Em que pese (com trocadilho, por favor) Walter ter lutado, sua entrada não alterou para melhor a situação.

No primeiro minuto do segundo tempo, uma lambança coletiva sem tamanho e a Chapecoense já tinha mais do que viera buscar no Rio: 1 x 0. O gol não mexeria com os brios de quem não os possui. Presos e acomodados, nossos jogadores não buscavam qualquer reação. Meio-campo inexistente, laterais inoperantes, defesa esburacada, ataque de nervos. O Flu era um arremedo de equipe em campo. Um time de “masters”, que lembrava as peladas patrocinadas por Luciano do Vale – sem, entretanto, o talento daqueles craques.

Sem vontade e sem vergonha, o Flu era mera audiência. Os gols da Chapecoense soaram como notas musicais, uma após a outra, harmonicamente engendradas. Uma marcha fúnebre a anunciar o enterro de nossas últimas quimeras. Houve quem gritasse por Carlinhos no estádio. E também o coro “burro” fartou-se de ressoar. Assim, como para justificar um pelo outro, Cristóvão pôs Carlinhos no lugar do tenebroso Chiquinho.

Estava o desânimo completo. A festa da displicência. O conjunto de jogadores aposentados-em-atividade, mas generosamente bem pagos, desfilava sua apatia em campo. Ainda houve tempo para um gol contra, que de honra nada nos trouxe. Os gritos de olé sobravam nas arquibancadas vazias, abandonadas por aqueles mesmo que pediram Carlinhos no time. Xingamentos, insultos, ofensas. Justas.

E o capitão, no gramado, em lugar de desculpar-se humildemente e aceitar a crítica da torcida, achou-se na soberba de dizer o que a torcida deveria ou não cantar. Ora, faça-me um favor! Fora daqui. E leve consigo a turma da gula, da luxúria e da preguiça. Que a diretoria consiga sair das garras do patrocinador de avarezas, que inveja o cargo alheio. E que isso possa abrandar-nos a ira. Nossos pecados. Cada vez mais capitais.

Não pequemos pela ingratidão: é necessário agradecer os serviços prestados por esses jogadores no passado. Mas, acabou. Sua omissão em campo é um grave desrespeito aos tricolores. Que sigam seus rumos, que sejam felizes, mas que estejam longe. Mesmo sem tempestade, é mister que as nuvens dispersem para deixar o sol entrar. E que seus raios nos tragam a força e o axé de Palmares. Precisamos de novos guerreiros.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: espn.com.br

6 Comments

  1. Já não passou da hora de vcs pararem com essa historia de culpar SEMPRE o Fred qdo. perde?! Já deu gente!! Nosso maior problema ontem foi o Conca, não só pq nao estava num dia inspirado, mas pq, sozinho na criação com a ausência do Vagner, foi presa fácil para a marcação. Quarta tem reunião do conselho e, depois desse vexame pelo menos alguma coisa vai prestar: Vai lotar!

    *** Antispam disabled. Check access key in CleanTalk plugin options. Request number 9df87ef63abe3fb1bdbd90a66cbda4b3…

    1. Se você leu a coluna, viu que não foi creditada a derrota ao Fred.

      O que não dá é para aturar que o capitão da equipe, líder do elenco e inspiração para quem venha da base, diga, após uma acachapante goleada sofrida diante de um time sem expressão vindo da zona do rebaixamento, o que a torcida não pode fazer.

      O torcedor não tem direito à violência. Mas à vaia, dentro do estádio, quando foi convocado a participar? Fred é ídolo de quem? É um funcionário. Caro demais, inclusive.

      Amplexos.

  2. Tudo tem seu tempo… quase tudo tem prazo de validade… acabou esse prazo para esse time… ST!

    1. Existiu um momento em que até mesmo os Beatles não se aguentavam mais, não rendiam mais como grupo, apesar de todo o talento que tinham. Há sempre o momento da separação. Simples assim.

      Amplexos.

  3. Então tá bom. Trocam-se os jogadores e está tudo resolvido, pois esse projeto de técnico continuará com esse pulso “firme” e essa tática “vira lata” que leva vareio de qualquer outro técnico brasileiro.
    De saco cheio de tudo e de todos.

    1. Não! Troca-se tudo. Inclusive de treinador que, como falei, “escalou mal e mexeu mal”. De novo.

      Trocar só o treinador é “vender o sofá”.

      Amplexos.

Comments are closed.