“Michael não ia treinar. Mas, eu o chamei e ele entrou chorando em campo. Isso já é uma resposta dele para a sociedade. Acontece na sua casa, na minha… Nesse momento ele pode saber que, mesmo sendo postiço, ganhou um novo pai e 30 novos irmãos.”

O nome do Abel está em minha vida desde 1978, quando minha mãe me deu os primeiros times de botão e logo comprei um becão – claro, batizando-o com seu nome que logo decorei: Abel Carlos da Silva Braga. Abelão. Tempos em que dois zagueiros vigorosos jogando juntos tinham o apelido de “Garfo e Faca”. No Maracanã, já jogando pelo Vasco e, mais tarde, pelo Botafogo, ele parecia ter três metros de altura, o que é quase verdade.

No meio do futebol, sempre foi sabido que é um tricolorzaço – o que inclusive justificou sua saída do Fluminense ainda jovem: chorava feito louco nas derrotas, ficava desesperado, colocava o coração de torcedor em campo.

Anos e anos e anos depois, Abel volta para seu habitat natural: Álvaro Chaves. O grande título estadual, o quase na Copa do Brasil, a quase vaga na Libertadores. Ficou um gosto de que podia ter sido melhor. Não deu. Um dia ele voltaria e voltou. Antes disso, ganhou o mundo com o Internacional mas sempre espiou o Fluminense como a grande paixão que nunca cessa, a força que nunca seca.

Pegou o time em 2011, venceu, perdeu, conseguimos a vaga na Libertadores de novo. Depois, o ano de ouro em 2012. Agora, acabamos de perder o estadual e temos percalços, como o dos inesperados processos de doping envolvendo Deco e, principalmente, o garoto Michael.

Abel tem erros e acertos. É humano. Domingo mesmo eu fiquei com raiva dele por cinco minutos, coisas da escalação. Depois passou. Um sujeito que está em minha vida desde que eu tinha nove anos de idade não passa impune no coração. Ele erra? Ora, como eu tenho errado nas coisas de dois meses para cá! Todos os dias sem falha nas falhas. Quem sou eu para condenar quem quer que seja?

Mas eu não estou aqui para falar do Abel treinador, que ganhou o mundo, que é um dos que mais treinou o Fluminense em toda a história. Abel está entre os melhores e mais bem-remunerados do futebol brasileiro, podia parar agora e se divertir com a família para sempre. Não teria muito o que dizer, é mais do que sabido.

Quero falar é do Abel pessoa, do Abel sujeito, do Abel que sempre demonstra ser um sujeito de bom coração, coisa tão rara no mundo e principalmente do futebol.

Repetir é fundamental.

“Michael não ia treinar. Mas, eu o chamei e ele entrou chorando em campo. Isso já é uma resposta dele para a sociedade. Acontece na sua casa, na minha… Nesse momento ele pode saber que, mesmo sendo postiço, ganhou um novo pai e 30 novos irmãos.”

Você pode não gostar do Abel como treinador e isso é um direito concreto.

Mas é impossível não reconhecer nesta sentença uma pessoa de bem, de caráter, capaz de desafiar boa parte da opinião pública que queria ver o garoto na guilhotina.

É impossível não ver o que é o Fluminense estampado no peito desse cidadão.

Abel, eu posso até discordar de algumas coisas do teu trabalho, me perdoe.

Mas ter você com a nossa camisa me dá um orgulho enorme.

Queria ser criança de novo agora e poder pedir mesada à minha amada mãe, desaparecida para sempre, só para descer à loja de brinquedos da Siqueira Campos e comprar dez beques grandões, todos com o nome de Abelão.

Eu quero muito vencer logo mais e conto contigo nisso. Não sabemos o que vai acontecer, torceremos muito, seis da tarde estou por lá.

Mas o gol que você marcou nessa questão do Michael não tem preço: não há título que pague a bondade, o caráter e a humanidade de um sujeito.

Que bom que você é dos nossos, Abel! Que bom que está aqui.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel