A vitória dos fiéis (por Paulo-Roberto Andel)

SJ

Você tenta pegar um táxi na avenida Presidente Vargas, coração da cidade, e é praticamente impossível às seis e meia da tarde-noite. Ao conseguir, tome o caminho da Quinta da Boa Vista e veja uma profissional do sexo completamente despida, em tempos de marketing agressivo no mundo moderno. Chegue à rua São Luiz Gonzaga e veja o trânsito interditado por três procissões nas igrejas vizinhas. Esse era mais ou menos o meu desenho ao me dirigir para São Januário, vitória tricolor por 3 x 1 contra o Macaé. No fim, deu tudo quase certo, mesmo com o tresloucadíssimo horário imposto pela respeitável patrocinadora-mor da competição. Setecentos pagantes. Sinal dos tempos e das organizações.

Nas arquibancadas de São Januário, os velhos maníacos, os fiéis de sempre, vindo do trabalho, do estudo, de casa, lutando para manter viva a chama de uma paixão que o mundo moderno parece querer eliminar a cada dia – a da torcida no estádio, junto a seu time. Chego a ter pena de alguns torcedores que se consideram mais “espertos” ou “superiores” aos presentes no estádio, porque não “perdem tempo” com “jogos inúteis”: preferem a idiotice das palavras mofadas em redes anti-sociais. Felizmente são meia-dúzia insignificante. Todo jogo do Fluminense é importante, toda vez que a camisa do Fluminense adentra o campo existe uma história secular a ser honrada. E quantos da nossa torcida gostariam de estar na arquibancada, mas não podem por diversos motivos? Nossa torcida é uma só, mas uns poucos perniciosos insistem em dividi-la, segmentá-la. Aos idiotas, o ocaso.

Em campo, o time bastante modificado começou de maneira diferente do que vinha sendo visto neste ano. Os garotos vieram a campo e mostraram a atitude que se espera com a nossa camisa. Marcus Junio, que nem no banco ficava, entrou com titular. Noutros jogos, o Fluminense ia com tudo à frente, mas não marcava os gols, caindo na modorra na segunda etapa. Desta vez, começamos mais lentos e o Macaé fez seu gol numa bobeada nossa; contudo, é preciso reconhecer que o gol foi bonito. E nos despertou na partida: reagimos rápido, o garoto Michael brilhou com perícia e frieza, fez três gols e descemos para o vestiário com uma tranquilidade inédita em 2013. Ufa! Finalmente quinze minutos de calmaria num jogo tricolor.

No segundo tempo, a sorte não mudou: o Fluminense manteve sua combatividade, dominou as ações e se impôs diante de uma equipe de menor tradição. Depois Junio saiu machucado e veio Sobis, sem maiores jogadas relevantes. Perdemos uns cinco gols, o principal deles com Euzébio. E Rhayner, batalhador incansável em campo num comovente ir e vir atrás da bola – e mesmo em confronto com ela – sofreu o pênalti que ele mesmo bateu com tudo e chutou longe, mantendo a escrita de não marcar gols. Alguns veriam ridículo nisso, mas quero dizer que muito dessa partida e seu resultado foi escrito por Rhayner, uma espécie de escudo tricolor em campo: sempre a provocar desconfiança, sempre desacreditado, mas disputando cada bola como se fosse um prato de comida. No futebol, o talento é elogiável e essencial, mas convém frisar que, sem vontade, ninguém vence nem um cara-ou-coroa. E no espírito batalhador de Rhayner pode estar o caminho do Fluminense daqui por diante: sem estrelismos, nenhum faniquito e muita determinação em busca das vitórias. Os setecentos fiéis entenderam o cenário e aplaudiram outros gols que perdemos a seguir, mostrando que o Fluminense ainda pode muito mais.

Bangu é logo ali, no meio do feriado. Aleluia.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: ebc.com.br

16 Comments

  1. A que serve a contratação e a renitente escalação como titular desse rapaz chamado Rahyner, que não tem a menor vocação para jogar futebol?
    Ao Fluminense, é que não serve.
    Aos que tanto admiram demonstrações exacerbadas de vontade, aproveito o ensejo para demonstrar a minha, gigantesca, de mandar o voluntarioso Rahyner tomar na olh#ta, antes que eu me esqueça. 😛

  2. Comprovando que voce realmente esteve presente, eu vi pela TV assistindo daqui de Campinas-SP a torcida sendo foi focalizada no final da trasmissão e voce estava lá, em destaque, com esse corpinho “esbelto”… hehehe

  3. Muito boa critica do jogo. Teve a visão que a maioria dos presentes tiveram no estádio. Que fique claro, o apoio da torcida ao Rhainner, foi a forma de mostrar para todo o time, que está jogando junto, não importando o que aconteça. Pelo menos esta é a maneira simples que enxergo o nosso comportamento. Abraços tricolores a todos.

  4. Tô torcendo muito para que o gol desse rapaz saia logo!
    Ele é muito batalhador, pena que muita das vezes se enrola todo com á pelota.
    ST4!

  5. Bela crônica, Andel. Pelo visto, a inspiração de hoje foi o grito de “time de guerreiro” que voltou a ser ouvido no estádio. O time e a torcida se comovem com a ingenuidade do Rhayner. Ele acredita em tudo: acredita que vai alcançar uma bola, e chega; acredita que os companheiros vão se doar pelo time como ele, e consegue incutir isso; acredita que vai ser titular e tá conseguindo; acredita que é habilidoso e vai pra cima da zaga…Até o juiz se compadece com a fé desse garoto o recompensa com um penalti, que só o Rhayner acreditou. Até o torcedores mais céticos já começam a acreditar na volta dos guerreiros. Viva o Rhayner que me deu vontade de acreditar nesse time.

  6. Em tempo: Espirito batalhador sim, precisamos disso! Mas o time de guerreiros sempre teve isso, e precisa apenas voltar a ter… não podemos é achar que Rhayner, ruim de bola como ele só, tem que ficar no time porque tem vontade. Os anos 90 foram pródigos em jogadores cheios de vontade mas que não jogavam nada!

    1. Paulo-Roberto Andel comenta: Betinho, essa é a sua opinião e eu a respeito. Entretanto, em nenhum momento a minha crônica remete à permanência do jogador como titular. Basta ler.

      1. Fala Andel, eu sei, essa só uma opinião mesmo… na verdade, no meu primeiro comentário eu apenas copiei e colei o que escrevi para o Vinicius, que foi mais na linha de exaltar a “incessante luta” do rapaz… eu notei que você foi mais no sentido do que eu disse, em resumo eu apenas compartilhei o que já tinha escrito.
        abraços/Betinho

  7. A incessante luta do Rhayner é pela posse da bola mas também COM a bola.

    Eu reconheço desde o primeiro jogo que não falta vontade a esse rapaz, mas fico impressionado que até a torcida corneteira, que reclama de tudo e de todos, consegue elogiar esse pereba (até o Roberto Sander, quem diria..)

    Desculpem o mal humor pontual mas o Rhayner não tem condição de vestir a camisa do Fluminense… é pior do que o Rodriguinho!! a vontade chega a ser tanta que ele corre mais do que a bola, se enrola com ela, abaixa a cabeça, tropeça, se o adversário peida ele cai, levanta, corre mais um pouco, se joga, empurra o zagueiro, cai e o juiz dá falta de ataque… kkkkkkk, chega a ser patético! Mas o problema, amigos, é que o Fluminense não é piada!!!

    Não vou nem comentar a dificuldade de chutar em gol, isso os 82 jogos sem marcar falam por si só. Meu receio é o Abel morrer abraçado com esse merd@…. essas teimosias sempre vão me remeter ao Renato Gaucho morrendo abraço com o Ygor!

    1. Paulo-Roberto Andel comenta:

      “E Rhayner, batalhador incansável em campo num comovente ir e vir atrás da bola – e mesmo em confronto com ela – sofreu o pênalti que ele mesmo bateu com tudo e chutou longe, mantendo a escrita de não marcar gols.”

  8. Gostei da sacudidela que abel deu no time e nos brios. Que venha o boavista que será o judas da vez

  9. Foi um verdadeiro périplo pra chegar ao estádio, mas valeu! Sempre vale, menos pros tricolebas!

  10. Abelão sacudindo o time em campo e Andel – nosso Nelson Rodrigues da atualidade – fazendo o mesmo com a torcida TRICOLOR do lado de fora dos gramados!
    Demais, Andel!
    SSTT4!!!!

    “sem vontade, ninguém vence nem um cara-ou-coroa.”

  11. Rahyner lutou como um verdadeiro guerreiro e o time teve gana da Vitória. Simples assim.

  12. Depois do inconsciente coletivo do Jung, o Enchenão nos presenteia com outra definição paradoxal – o pressentimento coletivo; aquela merda tava perigando cair faz tempo, mas o que esperar da política carioca e seus vínculos nefastos com Delta, Odebrecht & % Cia.?!

    Rhayner forever!

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