A torcida de outrora (por Marcus Vinicius Caldeira)

 

Antes de começar a escrever sobre o tema, gostaria de deixar bem claro que não sou nenhum senhor de idade, embora espero chegar lá. Sou um homem de meia-idade, com vinte e cinco anos de arquibancada, onde se perco cinco jogos do Flu no Rio, por ano,  no estádio, é muito.

Feita esta contextualização, quero  dizer também que não sou nenhum saudosista e muito menos fatalista. Olho sempre pra frente e tenho a plena convicção que muita coisa que passou é difícil ser resgatada. O mundo avança e a humanidade, também!.Pra pior ou pra melhor, mas avança.

Resolvo escrever estas mal-traçadas linhas, e será à ultima vez que escrevo sobre isso – pelo menos vou tentar – porque realmente as torcedores de futebol de hoje deixam muito a desejar em relação aos torcedores de outrora! Muito!

 Este é um dos aspectos em que o mundo involuiu. Tornou-se pior!

Quando comecei a frequentar estádios e, neste caso, principalmente Maracanã e Laranjeiras, não tinha nada essa de longe, perto, confortável, desconfortável, barato ou caro. A galeria simplesmente ia. Se não tinha dinheiro,  dava-se um jeito. Nada mais importava, a não ser ir pro estádio ver o nosso time jogar. Esta é a principal diferença para os torcedores de hoje. Na minha adolescência este era o programa do final de semana.

Hoje, é apenas mais um programa.

O Maracanã recebia oitenta mil pessoas, fácil! E não tinha essa de público sentadinho em cadeiras. Era no cimento da arquibancada, muitas vezes quente pelo calor ou em pé! Quem é da minha época se lembra das almofadas de couro com o escudo do time? Normalmente nossos pais usavam.

Quando dava mais de cem mil e isto era a toda hora, era papo de um sentar de frente e outro de lado  atrás de você para poder ver o jogo! E não tinha “mimimi”.

E tinha de tudo! Gente mijando no anel em torno do Mracanã porque os banheiros não comportavam o grande público. Torcidas separadas apenas por um cordão de policiais que muitas vezes não era capaz de conter a invasão da torcida adversária e a porradaria comia! Era catraca manual. Torcedores adversários entrando e saindo juntos e se estranhando. Filas intermináveis nas bilheterias! Fila pra entrar! Fila pra comprar bebida! Calor! Desconforto.

Agora: pergunte se não éramos felizes. Éramos e muito! Adorávamos estar ali!

Hoje, o caboclo compra ingressos pela Internet, tem planos de sócio-futebol, os estádios estão vazios, cadeirinha com encosto, catracas eletrônicas, torcidas isoladas, rampas enormes de acesso ao estádio e uma série de confortos e ainda sim, a “nova torcida” reclama.

Hoje é uma molezinha em relação ao que era e ainda sim a torcida reclama!

Sinto saudade do povão no estádio! Hoje, desculpe o termo, a “classe-merda” é a frequentadora dos estádios por conta do preço dos ingressos. E aí, realmente o “mimimi” impera.

Saudade do cachorro-quente Geneal, do vendedor do mate em cumbuca que nem na praia, do pó de arroz, da festa de papel picado, de ter cem mil no estádio, enfim, de ver o povão alegre e feliz pelo simples fato de estar ali ao lado do seu time. Hoje, parece que é um favor o torcedor ir ao estádio!

Enquanto isso, o Fluminense campeão brasileiro duas vezes nos últimos três anos, com um puta elenco, não consegue colocar mais que vinte e duas mil pessoas no estádio. Ridículo! E mais rídiculas são as desculpas para não ir que sempre existirão mesmo que os ingressos sejam gratuitos.

Saudade do torcedor Careca! É capaz da nova torcida de hoje, se o Careca fosse vivo, reclamar dele jogando talco nos outros. Tenho certeza disso!

Sou um Dom Quixote! Quero o torcedor de outrora de volta ao estádio! Este torcedor de hoje, até que provem ao contrário, não serve!

Continuarei fazendo o que sempre gosto: cumprir com os meus deveres clubísticos e ir ao estádio, apesar de tudo! Mas, sinto saudade daqueles tempos que não voltam mais! Éramos felizes e nem sabíamos!

Marcus Vinicius Caldeira

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira

Contato: Vitor Franklin

7 Comments

  1. Concordo com a frescura de hoje em dia, mas discordo de alguns pontos.

    1- A briga no estádio não passaria de um safanão aqui e outro ali – hoje vira covardia e morte, fácil. Sinto saudade quando o torcedor de organizada ou comeum (ou o ser humano em geral) era mais homem e menos covarde.

    2- Eu e meu pai sempre íamos de arquibancada. Quando eram os ingressos mais caros, mesmo assim não havia “sofrimento” para pagar. Hoje em dia, o melhor lugar é R$ 80,00 ou R$ 40,00 contra times pra lá de medíocres.

    Já paguei R$ 40,00 em semifinal de Libertadores. Hoje, a primeira fase é R$ 80,00! E não tivemos 100% de inflação no período, muito menos 100% de reajuste salarial.

    Isso é fato, não é desculpa nem chororô.

    3- Gostei da inovação de cantos (que começaram em 2007/2008) que tomaram lugar de um problema que tínhamos, pois muitos cantos exaltavam organizadas e uma não cantava o canto da outra – e isso enfraquecia o grito e tomavam lugar da exaltação ao clube. Mas sinto falta de gritar simplesmente “Nense” – parece que é “feio” ou sem graça hoje em dia.

    Como as mudanças vem sempre, que venham também para perceber os erros e corrigi-los.

    S.T.

  2. Muito legal. Fico pensando: moro em Brasília, doido para ir aos jogos, mas, lógico, não dá. Enquanto isso, o cara está ali do lado, mas tudo é difícil. Mas, Marcus, por motivos que não dá para discutir aqui, há um processo fortíssimo em curso no Brasil de negativação. Conscientização generalizada de “Tudo está uma merda…”. Em todos os aspectos.

  3. Mais uma vez concordo integralmente com seu texto. Vivenciei esta época (tenho 42 anos) e sinto enormes saudades. Realmente, ir ao Maraca era um programaço! Me lembro que pensava no clássico do domingo a semana inteira. Na véspera, dormia sonhando com a nossa vitória! Como fazia parte da Garra Tricolor (na época do Marcelo Cheniaux, Ricardo Padeiro, Carlos, Hélio, Raul, Geneal, Mazinho, Marcelo Pintinho, Pinah, Clô, Rodrigo, Fabiano, Marcelho ILha, Léo 22, Nelson etc) ia bem cedo pro estádio (por volta das 11h!) e passava o dia inteiro respirando os “ares do jogo”. Jogávamos um futebolzinho improvisado no anel externo do Maraca, ficávamos colocando bandeiras pra secar ao sol, enchíamos saquinhos de pó de arroz, “afinávamos” os instrumentos da bateria…enfim….que época!! Enfim, vivíamos de verdade o Fluminense!
    E hoje, assim como você, vejo o perfil de nosso torcedor e me entristeço de verdade…mas no fundo, agradeço a Deus por ter vivido em uma época onde a palavra torcedor tinha verdadeiramente algum significado. ST!

    1. Esse Sanser é um pateta! Ano passado fez um crônica dizendo que o time era bom após conquista do Carioca e mais terde escreveu outra falando que tinah avisado que o time era ruim após a eliminação da Libertadores!

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