Que ninguém se iluda: o momento é muito delicado e se agravou depois de quinta-feira, menos pela desclassificação do que pela atuação do time do Fluminense. Pareceu um retrocesso e a resposta da torcida foi sábia: depois de apoiar e ajudar o tempo todo, ela deixou o Maracanã num silêncio de dois mil cemitérios, só rompido à saída pelas cenas de violência estúpida vistas nos arredores do estádio e no metrô.
Depois do sonho da Sul-americana, voltamos à realidade. Em setembro, o Fluminense ainda não tem os requisitos de um time de competição quando se pensa em sistema de jogo, estrutura tática e equilíbrio dos seus setores. Bem ou mal, tinha um desenho com Diniz, mas foi completamente desfeito agora. Não se trata de desrespeitar Oswaldo e nem de precipitação, mas o treinador terá que correr alucinadamente contra o tempo para impor seu trabalho e superá-lo em relação às dez últimas temporadas no Brasil.
Alguns desafios: retomar o futebol ofensivo, transformando as chances de ataque em finalizações reais; encontrar a uma posição produtiva para Ganso, sabidamente jogador de técnica refinada mas com poucos resultados para o time; aproveitar o potencial de Caio Henrique em sua posição de origem; refazer a referência do camisa 9 tricolor, especialmente se Pedro deixar o clube pela inevitável necessidade de caixa. E tudo isso para ontem, porque o tempo não espera.
Diante de cinco, dez ou quinze vezes menos gente do que diante do Corinthians, na próxima segunda-feira o Fluminense volta a um velho drama que tem se repetido no século XXI: viver os últimos meses do ano na luta contra o rebaixamento. Numa segunda-feira opaca e silenciosa, é preciso reagir. Os mais otimistas apontam que há muito tempo etc mas, fechado o turno, o Tricolor precisará de uma pontuação estilo G4 ou G6 para sobreviver. Não se pode pensar em outro resultado que não seja vencer o Avaí.
Temos jogadores para a reação no Brasileiro? Sim. Mas até aqui será que não cometemos um erro de avaliação sobre o que realmente dispomos? Temos mesmo ou achamos que temos? O tempo dirá. Uma coisa é certa: não estamos mais em 2009, com Conca e Fred voando e jovens, mais Alan e Maicon. Já se passaram dez anos. A superação precisará de dobra.
Com todos os sabores da eliminação na Sula, ficou ao menos a grandeza do público. Fazia cinco anos que o Fluminense não colocava mais de 50 mil pessoas no Maracanã. A torcida fez a parte dela e reencontrou seu lugar na história. Oxalá não seja preciso esperar mais cinco anos pela repetição da casa cheia mas, para isso, o Tricolor terá que se reinventar.
Com uma dívida astronômica e sobrevivendo da rifa regular de jogadores da base – às vezes descompensada pelo entra e sai de contratações inexpressivas e até exóticas -, o Fluminense terá que deixar o boleirismo de lado se quiser permanecer na primeira divisão, o que exigirá habilidade política, capacidade administrativa, diálogo e humildade, itens raros nos últimos anos em Laranjeiras.
O apoio para reerguer o Fluminense, mencionado pelo presidente do clube em declaração a um veículo de comunicação, é tão fundamental que o próprio poderia ser o primeiro a dar o exemplo, parando de tratar os que se opõem, eventual ou regularmente, às suas ideias e atos como inimigos, chamando de verdade todas as correntes legítimas das Laranjeiras para a pretensa reconstrução. Aliás, deveria ter sido seu primeiro ato depois de eleito.
O que não dá é para reerguer o Fluminense com tuitagem de ódio, blogueiragem de brodagem e nanocelebridades sob desgoverno mental. Tais fórmulas navegaram nas trilhas do desastre bilionário em que o clube vive hoje.
Será preciso uma junção de gente com capacidade de realizações, estofo, currículo, atitude e RESPEITO.
No mais, que venha a vitória contra o Avaí. É o primeiro passo de uma longa estrada.
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Na próxima terça-feira, a Frente Ampla Tricolor convida a todos para um debate sobre o nosso Fluzão, mediado pelo nosso craque Ricardo Mazella, mais as presenças ilustres dos jornalistas Toninho Nascimento, Caio Barbosa, Vicente Dattoli e deste colunista. Com este elenco de craques, onde sou coadjuvante, o que se espera é um jogão dos microfones.
O debate é na próxima terça-feira (3), às 18:30h, no Edifício Flexcenter do Largo do Machado. Espero vocês lá.
Aos que não puderem comparecer, o Facebook do PANORAMA transmitirá ao vivo.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
Existe algum canal na web que possa transmitir o debate. Sua lucidez em conclamar a união de todos deve ser amplificada e reverberada. Não há mais tempo para egos e orgulhos, temos uma paixão a ser resgatada.
Manuel, o Facebook do PANORAMA transmitirá o debate ao vivo.
Ok. Obrigado pela informação. Vou acompanhar por lá.