A sina II (por Paulo-Roberto Andel)

eu sou a subversão
do óbvio
a execração das evidências
alvorada no entardecer
e, por isso
canto e canto
faço da minha sina
uma reza
da minha arquibancada
uma procissão
até que um joão de deus
me abençoa e,
quando fito,
tudo o que parecia
impossível
faz-se tédio
de tão simples

eu não sou perfeito
e nisso mora minha maior
qualidade:
a humanidade
que me inunda
quando tropeço, caio
rio e levanto
rio e prossigo –
o chão não me limita
o céu não tem fronteiras
apenas estrelas que persigo
para fazê-las de luzes
à minha cidade
se pareço derrotado
sou infinito
se estou aos pés
do cadafalso
não há corda que me
condene –
eu sou carlito e carlitos!

eu não sou rico
nem favorito
nem gallant
e gosto quando
me chamam de
azarão derrotado;
assim, não percebem
que eu sou
o noves-fora
a contraprova
o estandarte que não se abala
diante de qualquer
intempérie
ou pecado

minha namorada
é a esperança
minha mulher amada
é a conquista
e enquanto os outros
contam prosas no salão,
sou fênix em vôo
rasante
combatente do fronte –
enquanto eles jogam
a petulância fora,
por ora eu vibro a camisa
e a platéia rediviva
grita meu apelido:
campeão!

meus braços abertos
apertam a Guanabara
e arrastam um Brasil
minhas cores pulsantes
são aquarela do horizonte:
dá-lhe, verde!
sacode, grená!
alvo que traduz a paz!
a próxima estação
é mais acima –
trem da meia-noite
águia do Atlântico Sul
gigante de concreto
em berço esplêndido*
da metrópole,
meu apelido revela
o nome tão evidente:
Álvaro Chaves,
muito prazer,
Futebol Clube,
Fluminense!

* Contém citação do hino nacional brasileiro, de Joaquim Osório Duque Estrada e Francisco Manoel da Silva

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

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