A prestação de contas do fim do mundo (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, a entrevista de “prestação de contas” do presidente Mário Bittencourt foi desoladora sob inúmeros aspectos e em nenhum aspecto nos traz qualquer esperança no futuro. É como se dissesse que “é isso aí que vocês estão vendo e não vai mudar”.

Não sei se é pior ter dito que foi boa a venda de um jogador top de linha internacional, atacante de Seleção Brasileira, por míseros trinta e poucos milhões. Isso mostra uma mistura de foco exclusivo no curto prazo com total e convicta crença na total incapacidade crítica da torcida do Fluminense.

Não sei se foi pior afirmar que as vendas vão continuar, com a perspectiva de, num futuro indeterminado, o volume delas diminuir. Significa dizer que continuaremos tendo que gerar mais de R$ 100 milhões em receitas com transferências para pagar as despesas, parcelas da dívida equacionada e as penhoras decorrentes das execuções.

Se era para dizer isso, o que nós já havíamos percebido, não era preciso dar uma entrevista de prestação de contas, dizendo que há medidas em curso existentes no plano de gestão, sendo que nenhuma delas foi revelada, tampouco o seu propósito. Para informar o preço da venda de Pedro bastava uma daquelas notas no site oficial.

O pior de tudo é o recado dado ao mercado. Estamos em crise financeira, nossa dívida é monstruosa, não conseguimos pagar as contas e, por isso, temos todo interesse em vender nossos melhores jogadores por preços camaradas.

Apesar disso, convoca-se a torcida para operar o suave milagre da multiplicação dos sócios. Não é para gerar poder de investimento e times minimamente competitivos. É para pagar a conta de inúmeras gestões desastradas, mas a única conta mencionada, com finalidades políticas, é a da dispensa por Whatsapp, sempre tratada fora do contexto, mas agora com números surreais. Como é que uma dívida de menos de R$ 30 milhões, da qual parte já foi paga, com multa de 60% a 70%, se transformou numa dívida de R$ 80 milhões.

Será que a dívida é atualizada de acordo com a taxa do cheque especial?

Enfim, o recado está dado e em nada desmente aquilo que vem sendo dito. Não há projeto de curto, médio ou longo prazo. O que teremos é um clube estagnado, incapaz de oferecer respostas inteligentes aos seus problemas. Nenhuma reestruturação, nada de profissionalização, nada de captação de investimentos, nada de projetos.

É a continuação do projeto Peter Siemsen, que consiste em enxugar gelo o resto da vida, até que chegue o momento em que Xerém não será mais capaz de gerar caixa, haja a perda de qualidade na gestão do projeto de formação em curso. Nesse momento, Xerém também não será mais capaz de gerar valor esportivo. Em consequência, teremos elencos cada vez mais fracos. Se escaparmos da Série B em 2019, dificilmente repetiremos o feito em 2020, até porque não há mais qualquer lógica na gestão do futebol.

Esse é o recado para o bom entendedor. A quem achar que eu estou sendo pessimista, eu apenas estou fazendo o que sempre fiz, que é ser honesto e entregar informações baseadas em análise, conhecimento e fatos. Eu falo com paixão desmedida, mas analiso com lógica fria, porque não aceito participar de qualquer movimento para desinformar pessoas, seja qual for o tema sobre o qual discorra.

Para piorar o quadro escatológico que se desenha em frente aos nossos narizes, outrora empinados de vaidade, o projeto Laranjeiras está “em estudo, com abertura a outros projetos”, o que significa dizer que ganhou um lugar na gaveta ao lado do projeto de reestruturação da Ernst & Young. Trata-se do único projeto real de geração de receitas, corte de custos e sustentabilidade financeira e econômica que temos, mas não sairá do papel.

Enquanto isso, caminhamos para tornarmo-nos inquilinos no Maracanã, enquanto jogadores sem mercado povoam nosso elenco, tirando o lugar de jogadores que podem dar alto retorno esportivo e econômico, mas serão desvalorizados e vendidos pelo peço de um cafezinho na padaria.

O que podemos fazer? Essa é a parte mais angustiante, porque não tenho mais respostas para essa pergunta. O que eu podia propor eu já propus, mas joguei palavras ao vento. Talvez nos reste o amor, lutar até o fim, não pela esperança de dias melhores, mas pela glória de  morrer no campo de batalha, honrando as três cores que um dia honraram o verde e o amarelo da bandeira nacional.

Nós somos os que amam o Fluminense, então vamos mostrar isso ao mundo inteiro lotando os estádios, associando-nos ao clube, fazendo a nossa parte, mas como se não houvesse perspectiva do amanhã, sem o verde da esperança, mas com o sangue do encarnado nos olhos, na mente e na alma, como  foi nos anos de chumbo, quando a humilhação foi a sombra dos nossos passos.

Quem sabe os Deuses, desditosos com nossos descaminhos, se compadeçam de nossa dor e ofereçam-nos sabedoria, força e recursos para sairmos desse labirinto sem fim, reconduzindo o Fluminense Football Club ao lugar que lhe cabe? Não para um voo de galinha, mas para o voo eterno da fênix.

***

Parabéns ao Atlético PR pelo título da Copa do Brasil! Um clube que tem arrojo, gestão, visão de futuro e coragem para peitar o sistema perverso, distorcido e falacioso, alguns atributos tudo que o Fluminense um dia teve, mas que se perdeu na rota da ganância e do desrespeito a uma das maiores grifes esportivas do mundo.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

1 Comments

  1. Bom dia, Savioli. Hoje parabenizamos o Athlético-PR. Um clube/time erguido por um homem que transita como poucos no meio empresarial paranaense. Um cara que, fora o seu poder de gestão, tem, me permita, “culhão” para peitar quem quer que seja. E fim de papo. No Rio, temos o antes famigerado Flmaengo que, do nada, me veio com um cara que transita como poucos no meio financeiro do País. Esculachou a Lei de licitações 8666, se agarrou à CEF e hoje é “exemplo de gestão” (?????!!!!!). Duas…

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