A lebre e a tartaruga (por Jorge Dantas)

Penso que os dirigentes do Flu precisam rever os conceitos que trouxeram do ano passado e que estão a atrapalhar, por assim dizer, o ano de 2013. Primeiro, ao vencer o brasileiro da forma como fez, o Flu parece que se sentou na síndrome do melhor do Brasil e, como aquela fábula da lebre e da tartaruga, embriagou-se no próprio sucesso, adormeceu e viu os adversários passarem a sua frente.

O primeiro sinal dessa pequena tragédia foi o discurso de final de ano de que o maior reforço do time seria a manutenção do plantel de 2012, como se ele fosse irretocável. Seguiu-se uma série de equívocos, a começar pelo desprezo pelas possíveis contratações do Ronaldinho e do Montillo, trocando-os pelo Felipe. Talvez a diretoria + Abel tenham entendido que o nosso meio de campo fosse perfeito, esquecendo-se que o Deco joga de vez em quando e quando o faz não tem fôlego para uma partida inteira, muito menos uma sequência razoável. O Thiago neves não está jogando nada que justifique o investimento na sua contratação e seu alto salário. O Wagner é esforçado, mas não é o craque que sonhamos e o Sobis parece que já deu o que tinha que dar. Assim, nosso meio de campo não cria jogadas e sacrifica o Fred, que passa de matador a garçon, tamanho o isolamento dele. Os volantes, a exceção do Jean, são limitados e não protegem a zaga como deviam, expondo-a a seus limites técnicos. Em face dessa dissonância no meio de campo vemos grandes claros entre o ataque e a defesa, o que força chutões de trás diretamente para o ataque e propicia que os adversários trabalhem a bola até a entrada da área sem combate. Os laterais, à exceção de alguns lampejos do Carlinhos, não apoiam bem, centram mal e criam avenidas nas suas costas sem cobertura dos volantes. Os zagueiros, que não são nenhuma “Brastemp”, estão no sacrifício, expondo as suas limitações técnicas e comprometendo o time com repetidas jogadas bisonhas. Por conta disso, tomamos sete gols em três jogos com o time principal, dois deles levando três gols, coisa que não acontecia a noventa jogos. E pensar que não fomos atrás de jogadores que estavam disponíveis como o Diogo Souza e o Lúcio.

Enquanto isso, o SP, o Atlético Mineiro, o Grêmio e o Corinthians, sem a empáfia do melhor do mundo, trataram de se reforçar e estão dando sinais que estão na nossa frente. Seguiram o exemplo do próprio Flu, aperfeiçoando a forma de montar times fortes. Além disso, seus técnicos parecem ser muito mais qualificados que o nosso valoroso Abel.

Bem, não é o fim do mundo, mas não dá para continuar pensando como lebre e agindo como tartaruga. Os jogos contra os grandes do Rio nesse início de temporada já deram sinais suficientes de que não somos os mesmos de 2012 e que a fama não ganha jogo. A derrota para o Vasco deve servir de alerta para que o Fluminense acorde e olhe em volta de si, para o panorama que o cerca, corrija suas deficiências e encare os torneios e adversários com respeito e humildade. Não somos (mais) os melhores, temos concorrentes fortalecidos e não temos muito tempo para mudar de rumo. Ou o time joga com mais garra e organização, conscientes de seus pontos fortes e fracos, ou teremos muita coisa a lamentar no ano.

Continuo acreditando que podemos mudar e que há tempo ainda para reverter a tendência que parece estar rondando o time. Se não podemos (ou soubemos) contratar os craques que desejávamos, pelo menos teremos que ter humildade para baixar a bola e jogar com mais empenho, vontade e determinação.

Jorge Dantas

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

4 Comments

  1. Muito bom, Jorge.

    Lembrando que para a 2a fase da Liberta, novos jogadores podem ser incluídos. Pelo menos um zagueiro é fundamental para que a gente tenha chances reais de título. É claro que em uma fase eliminatória tudo pode acontecer, mas hoje temos o elenco enfraquecido em relação a Corinthians e Grêmio. Ainda mais com o Deco fora de forma como está. Tomara que nesses 11 dias sem jogar ele recupere o seu melhor condicionamento, já que não fez pré-temporada.

  2. “jogar com mais empenho, vontade e determinação”. Pronto. Mais faca nos dentes. Hoje, o time terá boa oportunidade para recuperar a confiança e ter tranquilidade para trabalhar até o próximo jogo. A marcação deve ser trabalhada, está frouxa, e novas opções de ataque devem ser criadas, principalmente, com o Nem, que está sendo marcado em cima. O Fluminense foi muito estudado nesses últimos meses.

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