À flor da terra (por Walace Cestari)

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O que será, que será que andam suspirando pelas alcovas? Há um cheiro de crise na Granja Comary. Mistérios, segredos e confabulações. O ar parece pesado na seleção brasileira às vésperas de um jogo decisivo. A sucessão de fatos desde o jogo contra o Chile não traz tranquilidade a ninguém. A imprensa resolveu crucificar atletas e Felipão – não se sabe ao certo – ou faz jogo de cena, ou demonstra estar perdido no comando do time da CBF.

De fato, realmente, apenas a crítica – justa por sinal – ao futebol que vem sendo apresentado pela Canarinho na Copa. Este time não joga como jogou a Copa das Confederações e alguns fatores explicam. Alguns jogadores não estão na mesma forma técnica, casos de Dani Alves, Paulinho e Oscar, especialmente. Taticamente, o treinador não parece ter encontrado uma solução eficiente para contornar esse problema.

De outro lado, a imprensa – com a tradicional má vontade contra o Fluminense – critica com veemência descabida os atletas que, de alguma forma, estão ligados ao Tricolor. Marcelo sofreu um achincalhe por ter feito um gol contra na partida de estreia, na qual, diga-se de passagem, foi dos melhores em campo. As críticas só não lhe foram mais pesadas por conta da vitória brasileira.

Nessa carona, Fred foi bombardeado de críticas. Os jornais o estampam como poste ou cone e apontam-lhe como o problema da seleção. Haja desonestidade. Esperar que o centroavante de uma equipe caracterize-se pela mobilidade, velocidade, armação de jogo entre outras “qualidades” é de uma covardia sem tamanho. E isso só é falado porque o público consumidor de notícias da Copa não é formado somente por apaixonados no futebol. Os leigos, torcedores de ocasião, que vestem a camisa amarela quadrienalmente, e comportam-se pachecamente, entendem bulhufas de táticas, posicionamentos ou qualquer conceito futebolístico que não esteja na superfície dos comentários sórdidos de muitos.

Qualquer um que acompanhe futebol percebe inúmeros problemas na seleção, mas não passa, em momento algum pela peça do centroavante. O meio não cria, os laterais vão pouco à linha de fundo e as jogadas não são construídas para a finalização de nosso 9, situação na qual ele é praticamente imbatível. Ainda assim, Fred desempenha bem o papel que o treinador lhe dá (ainda que eu ache que isso é pouco para o jogador): prende os zagueiros na área a fim de gerar espaço para Neymar e Hulk atuarem pelas pontas.

A última moda da imprensa é condenar Thiago Silva por ter chorado e não ter se apresentado para bater os pênaltis contra o Chile. Ora às favas o sensacionalismo! Melhor que um jogador assuma que não se sente em condições de bater uma penalidade e deixe que outro atleta melhor preparado o faça que, como já ocorreu em copas anteriores, bata sem ter condições e perca. O capitão deve ser o líder de uma equipe? Sim, deve. E Thiago provou ser humano e humilde, o que é uma qualidade sem tamanho para líderes.

Entretanto, o verdadeiro chefe é que é responsável pelo destempero do selecionado nacional. Quem colocou o título como “obrigação” é que incendiou uma pressão absurda sobre o elenco. A história de chamar “jornalistas eleitos” para apaziguar a relação com a imprensa e expor problemas internos do grupo à mídia foi a maior covardia e traição que um comandante poderia fazer. Mas, como Felipão não é tricolor, pode ser poupado de julgamentos por esta vilania.

O dono do bigode deve se preocupar em armar a equipe de forma decente. Como hoje está, o futebol alegre, moleque e bem jogado veste a camisa da Colômbia. Vamos precisar mais do que choro no hino para vencer os colombianos. Um dos possíveis cenários é que, jogando aberta, a Colômbia dará espaços ao Brasil e, assim, é possível reencontrar o bom futebol e a confiança em – quem sabe? – um placar elástico.

Lembremo-nos, entretanto, que essa análise ignora solenemente o fato de que, em seus ataques, a Colômbia pode marcar primeiro. A seleção vai ter de mostrar reação sem desespero, pois, o contrário também pode acontecer: jogar aberto para os contra-ataques colombianos pode ser fatal. O Castelão é o estádio das zebras e não deve se subestimar o futebol que vem jogando Los Cafeteros. Sinceramente, acredito que a camisa brasileira se imporá. A forma como será conseguido o resultado vai revelar o tamanho do desafio nas semifinais. Independente de vencer ou perder, a imprensa irá malhar os mesmos judas de sempre. Isso é o que não tem decência nem nunca terá.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Genesis, “Wind & Wuthering”, 1976

1 Comments

  1. Cestari, em geral não ligo muito para esse trem de seleção. Mas, com a canalhice midiática direcionada ao FFC, é difícil não aflorar o lado Pacheco, mesmo com esses problemas em apresentar um futebol convincente. A Colômbia é um belo time, muito organizado, técnico e de muita movimentação, se Falcão estivesse aqui, acho que seria finalista. Torço para que Dom Fredom meta dois hoje e sigamos em frente, mas se tudo der ruim, Colômbia x Holanda tem tudo para ser o melhor jogo dessa incrível Copa

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