A final de 95 (por Zeh Augusto Catalano)

O GOL DE BARRIGA EM LIVRO

Final de 1995. Cheguei em casa da rua sabendo que o Fluminense estava ganhando. Entrei na cozinha. Mamãe cozinhava e papai fazia a barba.

– Não tá ouvindo o jogo não?

– Não porque eu não quero ficar nervoso com isso.

Meu pai é o vascaíno mais estressado que eu conheço. Viu o Expresso da Vitória, viu Eli, Danilo e Jorge. Ipojucan. Ademir. Vavá. Então, nem os melhores times do Vasco agradavam. Imaginem hoje.

Por esta razão, e por ser homem de bem, torce pra qualquer um contra o império do mal. Já vi começar jogos dizendo que ia torcer pro Flamengo. Passam-se dez minutos e já está do lado bom da força de novo. É mais forte que ele.

Liguei o rádio. Fabinho com a bola. Gol. Papai manda todos os palavrões que eu conheço. Mamãe reclama do vocabulário.

– Não falei pra não ligar essa merda? Não quero ouvir essa merda.

– Calma que hoje eu acho que vai dar.

Algo me dizia que não era dia deles. Não, eu não sou “nós”. Mas eles são sempre eles.

Ficamos ouvindo o jogo.

Gol.

Ailton.

Papai abre um sorriso de orelha a orelha.

Não! Renato Gaúcho de barriga. Mais sorrisos. E ai, aquela eternidade.

Passam-se milênios e o jogo não acaba. Enfim, depois de três décadas, o jogo acaba. Papai feliz. Fogos nas redondezas. E da eternidade que durou, o jogo passou para a eternidade eterna.

Minhas lembranças desse jogo com certeza são distintas das de vocês tricolores. É o último de três momentos muito felizes proporcionados por vocês, junto com os dois gols de Assis. Vou hoje ao lançamento do livro do Andel satisfeito, pois ao contrário dos outros livros do meu amigo, ele não fala sobre a felicidade tricolor, sobre jogos que um vascaíno não viu. Ele fala sobre um momento histórico do futebol, um momento que alegrou a cidade inteira, provavelmente o Brasil inteiro.

Lembro do relato de um flamenguista, que já comemorava o título atrás do gol. “Quando o Ailton deu o primeiro drible, eu pressenti o que iria acontecer. Eu vi a bola bater no Renato. Eu vi que o gol foi dele.”

Jogos como esse estão na memória de todos os que amam o futebol. Vou adorar ler as memórias de alguém que também viu de perto e que sabe como poucos contar o que vê.

Andel, abraços e parabéns por mais uma conquista. Até de noite!

Zeh Augusto Catalano

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

GOL DE BARRIGA MAIO

3 Comments

  1. O mais bonito desta crônica é a amizade que une o autor, vascaíno, ao nosso cronista TRICOLOR de quatro costados, o grande Paulo-Roberto Andel!
    Parabéns pela crônica de hoje, Catalano!
    Parabéns, Andel! Por saber conquistar a amizade de pessoas como ele!
    SSTT4!!!!

  2. Tinha apenas 12 anos e me lembro de tudo..um dia para a História, um dia inesquecível…

    st

  3. Esse jogo é eterno!
    Que angústia viveu a nação tricolor, de 17:00 às 19:00 horas.
    Fizemos dois a zero, num primeiro tempo perfeito.
    Joel recuou o time, e cedemos o empate pra eles.
    Aí, veio o lindo lance, que fez com que comemorássemos um título, que não
    vinha desde dezembro de 1985; Gol de barriga, neles!
    Eles choram até hoje. Hahahaha
    ST.

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