A dedada de Kenedy (por João Leonardo Medeiros)

KenedyO jovem Kenedy tem apenas 18 anos. Foi destaque naquelas seleções brasileiras sub-tudo e, portanto, tem sido cuidado na base do leite com pera, primeiro em Xerém, depois nas Laranjeiras. Lembro-me de ter sido apontado por Neymar com a grande estrela em potencial dentre os meninos um pouco mais jovens do que ele mesmo. Dizem ter temperamento forte e, por isso, ter se estranhado com outra promessa das nossas divisões de base, que por sinal é seu xará, Robert (Kenedy é Robert Kenedy, sendo o “sobrenome” com um “n” só, o que afasta qualquer possibilidade de que ele seja da famosa família dos EUA!).

Domingo, Kenedy mandou uma dedada para a torcida do Flu. Certamente o ato idiota vai cobrar uma imediata reparação preparada pelos assessores de imprensa do garoto e do clube para evitar uma reação pouco amistosa da torcida. Mesmo com a reparação, vai ser difícil impedir uma cobrança ainda maior sobre Kenedy, que terá, na verdade, de fazer muitos outros gols e boas jogadas para conquistar o coração do tricolor mediano.

De minha parte, creio que alguém deveria conversar com o menino e, talvez, orientá-lo. Alguém com um pé na própria torcida, como o Mario Bittencourt. Alguém deveria explicar a ele que a torcida de um clube grande como o Flu é soberana, manda no clube, queiram ou não os dirigentes. Aliás, a torcida é o clube, porque quando se vai o time, o patrimônio, tudo mais, o que sobra é o amor incondicional do torcedor. Isso tem de ser ensinado ao menino, que aparentemente tem sido mal orientado. E este é o problema de fundo, que me importa aqui comentar.

Nosso elenco tem uma peculiaridade: muitos estão há muito tempo no Fluminense. Isso é raríssimo no Brasil, principalmente porque os clubes são balcões de negócio motivados, muitas vezes, por interesses obscuros. Mas no Flu, o elenco tem remanescentes diversos de 2010 e quase toda a base do campeão de 2012. São os cascudos deste elenco que certamente orientaram o menino, porque mudou presidente, dirigente, treinador, mas eles ficaram. Refiro-me aqui particularmente a Fred, Valência, Diguinho, Carlinhos, Cavalieri, Bruno, Jean, Wagner, Sóbis, Gum e, com idas e vindas, o próprio Conca.

Pois bem, tirando Sóbis, Gum e Conca, todos os outros já se indispuseram com a torcida. Não raramente, a performance em campo dos outros todos tem sido bastante questionada há muito tempo não apenas pelo fraco futebol, mas principalmente pela dedicação aleatória, ocasional. Alguém pode lembrar, por exemplo, que Diguinho e Wagner melhoraram muito, mas pergunto eu: a base de comparação (o Diguinho de 2011 e o Wagner de 2013) não era muito fraca? O fato é que, aparentemente, os jogadores mencionados – reforço aqui, à exceção de Sóbis, Gum e Conca – NÃO desenvolveram um sentimento verdadeiro pelo clube em que jogam. São profissionais, bem orientados, ricos e, portanto, cautelosos o suficiente para não mandar uma dedada para a torcida todas as vezes que ficam contrariados com ela. Mas que eles gostariam de fazê-lo, para mim parece claro.

O que fazer? Primeiro: 47 pontos. Segundo: deixar sair os jogadores à medida que seu contrato se encerra, para não onerar ainda mais nossos cofres. Este ano, vão Carlinhos, Valência e Cavalieri. Ano que vem outros tantos. Assim renovaremos o elenco e a relação dos jogadores com o clube e a torcida. O time vai ficar enfraquecido? Não sei, porque, de 2012 para cá, nosso time sequer disputa os campeonatos de que participa. Pode ficar pior, mas acho que vale a aposta.

Façamos um raciocínio. Se saírem os da antiga (aqueles que não parecem gostar do clube) e não entrar ninguém (o que não será o caso), poderíamos escalar, no próximo ano, algo como o seguinte: Klever; Igor Julião, Marlon, Gum e Fernando; Edson, Rafinha, Cícero e Conca; Sóbis e Michael. Para a reserva e/ou variações no time ou no jogo, teríamos Marcos Felipe, Elivélton, Henrique, Pablo, Ronan, Eduardo, Chiquinho, Gustavo Scarpa, Robert, Kenedy, Samuel, Biro-Biro, Gerson, entre outros. Isso contando só a volta de jogadores emprestados, SEM NENHUMA contratação.

O time é ruim? Não acho terrível, mas certamente poderia ser bem melhor, considerando que se trata do Fluminense. De todo modo, com contratações bem encaixadas, é um time suficiente para, pelo menos, brigar pelo Estadual e pela Copa do Brasil, desde que esteja bem preparado.

Em suma: não precisamos de jogadores sem qualquer relação afetiva com o clube, jogadores que não gostam de nossa torcida, que acham a cobrança exagerada etc etc etc. Não precisamos de medalhões que ensinam nossos jovens talentos a desenvolver uma relação pouco profissional com o clube e conflituosa com a torcida. O dedo de Kenedy não foi o dele, foi o dedo de Fred, de Bruno, de Wagner, de Diguinho, de Jean, de Cavalieri, de Carlinhos e mesmo do recém-chegado Walter (o obeso). Eles gostariam de ter mostrado o dedo para nós, mas não têm mais 18 anos para fazê-lo de modo irrefletido.

Entre eles e nós, nós. A porta de saída está aberta. Por favor, apaguem a luz ao sair.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Foto: Ernesto Carriço

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5 Comments

  1. Amigos, neste embate entre o João e o Zalu, fico com o João fácil. Já imaginou se a moda pega. Acho que estes jovens de Xerém são superestimados. Vi a CB sub 20, e perderam um jogo em que precisava do empate para ir a final para o Grêmio. Taça SP deram mole na final, Taça BH, nem ouvimos falar. Ganhar torneios amistosos na Disney e na Europa não vale de nada. Não vemos nenhum grande jogador. ´São marrentos ao extremo e produzem pouco. Agora dão pra desprezar a torcida. Por mim pode ir embora.

  2. Prezado Zalu,

    penso que nenhum jogador que joga no Fluminense tem o direito de ofender nossa torcida – agora a ênfase – mesmo que tenha sido vaiado e agredido verbalmente (o que não foi exatamente o caso). Os salários de jogadores são imensamente superiores ao da média dos trabalhadores do país justamente porque, como artistas que são, devem ser capazes de lidar com as reações do público, favoráveis ou hostis.

    Não seria melhor se ele batesse no peito e beijasse o escudo?

    ST,
    João

    1. Respeito sua opinião,
      principalmente, sobre as alternativas de gestual, mão em concha no ouvido seria outra possibilidade… Mas, sinceramente, João, não vejo maiores ofensas em fazer o gesto que ele fez, eu, por exemplo, estava no maraca e não me senti ofendido em nada, achei normal. 18 anos, manjas… tá começando a ter maior contato com as idiossincrasias da arquibancada agora, o Mario B. já deu corretiva, o moleque já se desculpou, bola pra frente e no filó do figueira.
      Abs

      1. Para deixar claro: no caso do menino também acho suficiente a bronca do Mário Bittencourt. O texto fala, no entanto, da relação da atitude dos menino com a dos cascudões. Não sei você, mas eu cansei de discutir a relação com Fred, Cavalieri, Carlinhos, Bruno, Wagner, Walter e Diguinho, pelo menos, embora goste do futebol de quase todos esses. Minha proposta é: que o menino fique em paz e que os outros sigam em paz.

        ST,
        João

  3. com a devida data venia, a torcida pega no pé do moleque, que só vem entrando na fria, antes mesmo dele entrar, fala sério… Essa mesma torcida pediu Walter 16t e Biro antes de vaiá-lo, ele vai, entra bem no jogo, mete a porra do gol salvador, manda o deducho e agora querem perseguir o rapaz? Fala sério, gostei, mostrou que tem bolas! Eu, que tenho 47, faria o mesmo que ele, talvez até com outro dedo… E pegar no pé do Julio Baptista que veio comemorar seus dois gols com a nossa torcida?!

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