A crônica do jogo (por Paulo-Roberto Andel)

A briga no alto

Não foi um jogo bonito, mais uma vez não fomos brilhantes e certa repetição da excessiva postura defensiva preocupou boa parte da torcida, mas o Fluminense fez o que lhe cabia: sendo o último a atuar na rodada, sabia que só a vitória interessava para continuar na briga pelo topo da tabela. E conseguiu: derrotou a Ponte Preta no Moisés Lucarelli no apagar das luzes e seguiu com força dentro da competição. Mais um passo à frente depois de completar 110 anos de luta à frente do futebol brasileiro.

Que ninguém se iluda: se o time não convenceu, se não foi brilhante, o Tricolor sobre escrever as linhas da eficiência, da regularidade, fundamentais num campeonato tão longo. Mais: a Ponte Preta, mesmo não sendo um time credenciado a brigar pela liderança, será de extremo incômodo para os times que lhe visitarem em Campinas neste ano. Equilibra a técnica mais modesta, até diminuta, com forte poder de marcação e arrancadas velozes. Neste aspecto, está clara a importância do nosso triunfo.

Foi um primeiro tempo de certa modorra e equilíbrio, ainda que em alguns momentos houvesse uma ou outra jogada de velocidade. Fred, Deco e Neves estiveram muito marcados e nosso artilheiro teve a primeira grande chance do primeiro tempo perto dos 40 minutos, quando esteve livre e cabeceou à esquerda de Edson Bastos, depois de excelente escanteio cobrado por Thiago Neves. Em boa parte do tempo, a Ponte Preta alegrou os fãs de estatísticas baratas: ocupou o meio-campo do Fluminense, teve uma ou outra chance, os tradicionais desperdícios do velho conhecido Roger no ataque e, quando necessário, Cavalieri manteve o ritmo seguro. Parecia que o empate em zero seria inevitável quando, bem no final, perto dos 45, Neves cobrou a falta da direita com precisão, a bola resvalou e Deco comemorou como nunca – todavia, o último toque foi do zagueiro da Ponte e ganhou a direita de Bastos. Vencer, vencer – eis a importância. Quantas vezes, nos tempos das jornadas trágicas, jogamos bem e perdemos jogos? O campeonato tem trinta e oito jogos para cada time, é um rali, todo ponto é precioso. Mais uma vez nosso time não foi brilhante, mas soube ser mortífero, claro, ainda faltando todo o segundo tempo pela frente. Ressalte-se que Neves tem participado cada vez mais dos gols e, com isso, dá indícios de que pode voltar à velha forma.

No segundo tempo, chegou a causar certa irritação aos tricolores o excessivo grau de reclamações dos jogadores da Ponte Preta, muitas vezes querendo conseguir marcações estapafúrdias no grito, sem sucesso diante do árbitro Manuel Lopo Garrido. Abel optou pelo sistema parecido com o utilizado na vitória do centenário e, com isso, o Fluminense ficou bastante encolhido, mas com bom bloqueio defensivo. Perdemos um ou dois gols e só. E poderia ter sido feita alguma alteração em campo, mas Abel tradicionalmente só mexe com impacto se tomar o gol – Wallace havia entrado antes, mas pela contusão de Bruno. Depois, Wagner substituiu Deco e Sobis, a Neves. A Ponte tinha o campo mas não lhe sobrava criatividade, até que aos 38 minutos, quando já contávamos as voltas do ponteiro, veio o castigo no gol de cabeça de Ferron, após cobrança de falta da intermediária feita por João Paulo e mais um cochilo da nossa defesa. E veio o empate.

Contudo, como o Fluminense tem a vocação para demolir paradigmas e a força vital de ser o time do último minuto, honrou a tradição e aos 45 minutos, em cima da pinta, Fred avançou e deu bom passe para Wellington Nem. Como já comentado pelo amigo Leo Prazeres, o jovem atacante é o “rei” de conseguir penalidades a favor do Fluminense, todas aliás com faltas de verdade e sem “cavadinhas”. Fred, que parece cada vez mais preciso nas cobranças de penais, aliou força e colocação no canto esquerdo alto para vencer Bastos, afastar o mau gosto do empate que havíamos sofrido há pouco e sacramentou mais um triunfo do time neste difícil campeonato brasileiro.

A cada rodada que passa, sabemos de vários detalhes que precisam ser acertados. Talvez estejamos exageradamente defensivos em alguns momentos. Talvez tenhamos sofrido mais pressões do que a qualidade do nosso time supõe ser razoável. Entretanto, onze rodadas já se foram e o Fluminense parece mais vigoroso, com mais conjunto, mais alinhado, embora isso nem sempre queira dizer de talento e beleza plástica das jogadas. Uma coisa é certa: hoje, é um dos times que briga novamente por uma vaga à Libertadores. Os próximos dois jogos, contra Grêmio e Atlético Mineiro, serão excelentes retratos do que podemos esperar mais á frente. E confiança não nos falta, mesmo com tudo o que ainda precisa ser melhorado.

Paulo-Roberto Andel

@pauloandel
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Crédito da imagem: Marca Brasil

1 Comments

  1. Acho que o Wellington Nem, por ser ainda muito novo, merece um conselho do Abelão: aprimorar o chute com a perna direita (que não é a boa). Poderia se mirar no exemplo do Sóbis e até do Carlinhos; ambos trabalham bem com as duas, especialmente o Sóbis com seus chutes precisos de qualquer distância.
    Concordam?
    De resto, só alegria por estar no topo e INVICTO!
    ST!!!

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