A base (por Ernesto Xavier)

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Meu nome verdadeiro é Ernesto Theodoro de Morais Junior. O “Xavier” veio do orgulho que tenho da avó por parte de mãe, que chegou ao Rio de Janeiro em 6 de janeiro de 1953, dia de Reis, junto com meu avô, que ainda era seu namorado. O lado materno da família é todo rubro-negro, enquanto o paterno se caracteriza por maioria tricolor. Já perceberam que o “Junior” denota que tenho o mesmo nome do meu pai.

Quando eu era pequeno e sonhava em jogar futebol assim como ele, herdei também o apelido de infância e campo: Tito. Quando eu estava na quadra de futebol do Clube Náutico do Recôncavo, em Sepetiba, o treinador Zé Emílio me chamava assim. Ao contrário de papai, que foi zagueiro dos bons da base do América e depois se transferiu para o futebol paraense, eu gostava de jogar na posição mais ingrata, o gol. Era ali que eu me sentia feliz. Ganhei o uniforme completo em um aniversário. Participei de diversos campeonatos de base e um belo dia o treinador me chamou para fazer um teste no Flamengo. Eu fui.

Vesti a camisa rubro-negra mais uma vez, pois até uns 6 ou 7 anos de idade era essa a camisa que colocavam em mim. Não era uma escolha. Quando pude escolher foi o tricolor que quis trajar. Depois daquele dia em um treinamento no campo do Flamengo, nunca mais voltei a treinar. Eu não queria ter que vibrar com a camisa do adversário. A paixão pelo Fluminense falava mais alto. Preferi desistir do futebol.

Eu também valorizava muito o estudo. Conciliar as duas coisas era inviável.

Dessa época guardo as lembranças dos jogos decisivos, dos gols nos fins das partidas, das defesas salvadoras e dos treinamentos exaustivos que eu tanto curtia. Talvez se eu tivesse ido para Xerém (acho que nem existia naquela época) eu teria ficado mais tempo no futebol. Apenas especulação. Não tenho como saber.

Contei essa história para falar de como é bom passar pela base. Envolve família, diversão e responsabilidade ao mesmo tempo e sobretudo paixão.

O menino sonha em crescer, quer que o tempo passe rápido e ele possa estrear nos profissionais. Sonha com o estádio lotado gritando seu nome, vislumbra a oportunidade de melhorar de vida, conhecer outros países, culturas.

A transformação que um garoto desses pode fazer em sua família é estupenda. Eles viram o centro de atenção e dedicação dos parentes. Não é preciso explicar que a grande maioria vem de origem humilde, com pouca instrução. É a realidade do nosso futebol.

Muitos desses meninos/adolescentes passam a conviver com um universo diferente desde cedo. Disputam campeonatos no exterior, compram roupas de marca, sofrem o assédio de meninas-chuteira, ganham o salário que os pais nunca sonharam receber, enfim, tornam-se projeto de celebridade. Exigir deles a maturidade para que cheguem aos profissionais sem deslumbramento é utópico. Pouquíssimos tem família estruturada que lhes deem o mínimo de orientação para não perder o rumo. Geralmente o que fazem é o contrário.

Agravando esse cenário temos os empresários, que desejam tirar o garoto do Brasil para firmar contratos com clubes europeus, tirando o foco do jogador em crescer primeiro no futebol brasileiro, em se dedicar ao clube. Nesse caminho perdemos várias “promessas”, “joias”, que nunca vingam nas categorias de cima, enquanto na base, “destruíam” as partidas. Exemplos não faltam: Toró e Lenny são os primeiros que vieram à cabeça.

Hoje o Fluminense entrará em campo com Marlon, Gerson e Kennedy. Três promessas vindas de Xerém. No banco de reservas ainda temos Robert. Todos jogadores das seleções de base do Brasil, cobiçados por olheiros do mundo todo. Vão vingar? Impossível afirmar. Farão história com a camisa tricolor? Depende deles, do clube, dos empresários, até da torcida. É neles que ao menos deposito minha esperança. São garotos que vivem, respiram Fluminense há anos. Podem não ser tricolores de coração ou jogar por amor à camisa, mas sabem o que é defender o clube das Laranjeiras.

Nosso futuro vem de duas bases: a de Xerém e a que permaneceu no clube pós-Unimed. A mistura desses dois será a mola propulsora da equipe. É uma aposta. No futebol vence quem aposta nas fichas certas. Alea jacta est (A sorte está lançada).

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @nestoxavier

Imagem: uol

#SejasóciodoFlu