90.000 segundos de ansiedade tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

Desta quarta até a hora do reencontro do Fluminense com a Copa Libertadores da América restam 24 horas, cerca de 90 mil segundos. Cada um deles está pintado em três cores e cheio de ansiedade.

A história do clube é recheada de times inicialmente desacreditados e que conquistaram títulos heróicos, independentemente da qualidade de treinadores, dirigentes (argh) e até mesmo da qualidade de alguns jogadores. Temos lindos troféus com a montagem de times e elencos que mais pareciam comandados por Odorico Paraguaçu, o mitológico personagem de Dias Gomes. Não que fosse desejável, mas a história foi assim.

Portanto, todos os cronistas desta casa que desancaram a montagem do elenco tricolor para a esperada Libertadores têm razão. Sejamos sinceros: foi um cata-cata. Porém, isso significa que nosso insucesso é certo? De forma alguma.

Discutir a grandeza dos clubes é sempre relativizar a questão. O River Plate é gigantesco, sem dúvidas, e provavelmente é o favorito ao título, ou um dos favoritos. Só que ele nunca ganhou uma decisão sobre o time que tinha o melhor jogador do mundo no Maracanã com mais de cem mil pessoas. E não foi o River quem bateu a Seleção Uruguaia campeã do mundo, vestida de amarelo e preto, para ganhar o Mundial de Clubes. São façanhas do Fluminense. E se alguém acha que o River é superação porque jogou a segunda divisão, nós somos especialistas em sair do inferno…

O time deles é melhor, certamente melhor, mas o futebol é o único esporte do mundo onde o melhor não tem a menor garantia de vitória. Tem tática, lógica, preparação e os neologismos como “assistência”, “intensidade” e “marcação alta” – eu fico com passe, ofensividade e pressão. Garantia de vitória, não. Lá dentro tudo pode ficar igual por detalhes.

A maior façanha do Fluminense não foi chegar à Libertadores. Na verdade, foi conseguir a quinta colocação no Brasileirão 2020, ganhando 18 jogos, vários deles com atuações sofríveis. Ninguém esperava o que aconteceu. Angioni declarou no começo que o G10 era uma boa. Deu no que deu. Ficamos entre os cinco melhores do país aguentando o odairismo, a granja de Muriel, a avenida Egidium e o inacreditável Felippe Cardoso, felizmente exilado. Se depois disso, meus amigos, o Fluminense ficou no top 5, não sou eu que vou duvidar de uma vitória estrambótica sobre o River Plate, por menos provável que possa parecer e que, se acontecer, nada tem a ver com os discursos pernósticos de defesa de gestão.

Apesar dos pesares, apesar de tudo, estamos na festa e vamos brigar para ir à frente. Jogar sem público nos prejudica, sem a beleza coletiva da nossa torcida, mas os três adversários perdem muito com isso também. Fica tudo nivelado.

Pode acontecer qualquer coisa daqui a 90 mil segundos, mas aí eu deixo de lado meus cabelos brancos, meus 52 anos e volto aos tempos de criança, onde o Fluminense vence a tudo e a todos. Só espero que haja pulso firme para administrar as cobras criadas, inteligência para usar o melhor dos nossos jovens da base e, por fim, algo que anda escasso quando o assunto é Fluminense, mas que não custa sempre tentar: lucidez.

É bem difícil, ninguém é bobo, todos sabemos. Mas não custa lembrar que o espírito da Libertadores exige times 100% guerreiros jogando em casa. Intensidade é o cacete: pressão mesmo. Garra, atitude. Ao Fluminense, cabe a máxima de Sinhozinho, o pioneiro da preparação física no Brasil: “Ganha a luta quem bater primeiro”.

Por isso, carrego comigo uma saudável contradição para esta quinta-feira: acho que é difícil paca, mas ao mesmo tempo acredito muito.

Tricolor ou branca, a velha camisa já desafiou definições, amassou o impossível feito paçoca e já deu pano para a manga de muitos livros por aí. Sou mais Flu, mesmo quando a barra está pesada.

Com todo o respeito, River Plate: sai da frente.

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AQUI SE ESCREVE A HISTÓRIA DO FLUMINENSE

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