4 x 0 por quê? (por Mauro Jácome)

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Muito aguardado, o confronto entre Bayern e Barcelona, pelas semifinais da Copa dos Campeões da UEFA, teve um resultado pouco imaginado. Ora, mas o Barcelona não é o melhor time do mundo? Bom, para quem não está acompanhando de perto o futebol europeu, pode ficar se perguntando o porquê da peia que o time catalão tomou dos bávaros.

O Bayern é, também, um baita time. Encurtou muito a distância para os superfavoritos. Talvez, tenha até igualado. Os quatro semifinalistas são parelhos e a astúcia dos técnicos fará a diferença nessa reta final.O time do Barcelona baseia seu jogo no toque de bola. Sim, todos sabem disso. O Barcelona tem jogadores muito acima da média. Isso, também, não é novidade para ninguém. Mas como essas qualidades são postas em prática? O time espanhol joga, invariavelmente, formando um triângulo entre o meio-campo e intermediária adversária. Messi, Xavi e Iniesta são as pontas desse triângulo. Ora, um deles está na intermediária e dois, no meio-campo; ora, dois deles estão na intermediária e um, no meio-campo. A bola transita pelos três. Quando os dois que não estão com a bola encontram-se marcados, Sérgio, Daniel Alves, Piqué aproximam-se para trocar passes curtos e atrair a marcação. Enquanto isso, os outros dois componentes do triângulo se aproveitam da distração e procuram um espaço livre. A triangulação é reestabelecida. Assim, fazem até que alguém se descole e receba um toque mais longo ou o próprio triângulo avance até a área adversária para proporcionar uma rápida jogada e o arremate. Isso é feito à exaustão durante os 90 minutos.

O que fez o técnico Jupp Heynckes? Isolou duas das três pontas da figura geométrica móvel. É certo que a tarefa foi facilitada devido às más condições físicas de Messi, mas no jogo contra o PSG, nesse mesmo estado, bastou uma chance para o argentino decidir. Prosseguindo, Xavi, quando tinha a posse da bola, não encontrava Messi, nem Iniesta. Mesmo vindo o socorro dos demais jogadores do time, Messi e Iniesta continuavam marcados, cerradamente. Ambos estavam anulados por atentos adversários, que não caíam no truque. Quando a função da armação era de Iniesta, Xavi e Messi estavam presos. Em momento algum, os marcadores soltavam, pelo menos, duas das três referências. Teve momentos do jogo em que todos eles estavam fora de combate.

Mas não só de astúcia defensiva vive o Bayern. Ao recuperar a bola, a velocidade dos seus atacantes, Robben, Ribéry e Muller, fazia com que o time chegasse ao gol de Valdés com relativa folga. O esquema defensivo e o de organização do Bayern baseiam-se num craque: Schweinsteiger. Ele tem muitas características do jogador brasileiro: Clássico, visão de jogo, passe preciso e criativo, lançamento, chute. Essas virtudes misturam-se à enorme consciência tática e condicionamento físico. Esses fatores dão a esse jogador um grande poder durante os jogos. É um ótimo controlador de jogo.

É preciso dissociar a vitória da goleada. O placar maiúsculo foi construído com a ajuda dos erros de arbitragem e à contusão do Messi, mas a vitória, que aconteceria de qualquer forma, foi fruto do planejamento de jogo do Bayern.

Vale à pena assistir a esses jogos da Champions, principalmente, para quem gosta de táticas. Isso, inclusive, deixa-me preocupado com o Brasil. O que fazíamos aqui, eles estão fazendo lá; o que eles faziam lá, estamos fazendo aqui.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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