1995, 25 anos depois (por Paulo-Roberto Andel)

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Foi ontem. Foi outro dia.

Poderia falar de muitas coisas agora. Daquele dia para cá a minha vida mudou em tanta coisa. Mas aquele domingo nunca mudou.

O jogo está no YouTube. A TV tem reprisado em tempos de pandemia. Mas o que foi vivido lá, ninguém iguala.

Já falei e escrevi muitas coisas disso. Quem nos acompanha sabe disso.

Neste aniversário de 25 anos, vou me ater à parte que mais me toca: os oito ou nove minutos entre o gol de Fabinho e o de Renato Gaúcho, mais os minutos que se sucederam até o fim da partida.

Por instantes, tudo estava perdido. Tudo. Aquela entrada furiosa do Lira. Nove contra dez.

Do outro lado, eles berravam tão alto que o bafo parecia vir em cima da gente. Foi o maior berro que deram contra nós em todos os tempos. E nós éramos silêncio.

O que já era um jogaço ficou ainda maior. Parecia uma luta de boxe, Ali contra Frazier. Ou o ballet da Fórmula 1, Senna contra Prost. Era futebol, vida, desilusão, esperança.

Engana-se quem pensava que o Fluminense iria às cordas com o empate. Dali ele ficou ainda maior, gigantesco.

Quando o gol saiu, não acreditei. Olhei para o bandeira, ele correu e me senti gelado. Agora não era o bafo do outro lado, mas um silêncio de 95 mil cemitérios.

No meio da arquibancada esvaziada e enlameada, pessoas rolavam, se abraçavam, se beijavam. Um velhinho ajoelhado e gritando “EU VIVI PARA VER ISSO!”. Ele não está mais entre nós, mas é como se estivesse.

Depois do silêncio, o Flamengo foi gigante e ainda tentou a vantagem. O problema é que tinha à sua frente um gigante ainda maior. Um monstro insuperável, um aríete, um senhor do universo em três cores de vitória.

As pessoas que tinham desistido depois do empate voltaram e se jogaram na lama. Viveram um Woodstock. E aí fomos nós que gritamos até o fim, com nosso fiapo de voz e fúria.

Calado a seguir, olhei tudo e guardei comigo.

Por muitos anos, cheguei cedo no antigo Maracanã e várias vezes voltei ao mesmo lugar vazio, olhei para o campo e revi tudo.

Um dia, achei melhor escrever aquele dia para não correr os riscos de memória. Lá se foram quinhentas páginas.

Vi o Fluminense em vitórias inesquecíveis e derrotas dolorosas. Vi céu e inferno. Vi morte e vida. Muitas vezes em silêncio e sozinho.

O campeonato de 1995 e o jogo final do gol de barriga, ninguém me contou: eu estava lá. E sei que nada vai superar aquilo, por muitos motivos. É que nunca mais o Maracanã vai ter mais de cem mil pessoas. Nunca mais o Flamengo vai ter oito pontos de vantagem num campeonato e perder sete até o jogo final. Nunca mais eles vão ter o melhor jogador do mundo. E, salvo se o destino lhes proporcionar uma peça que só nós sabemos pregar, nunca mais ninguém ganha um título deles com oito jogadores em campo.

Somente nós. Absolutamente nós.

Foi o dia mais feliz da minha vida como torcedor. Deve ter sido um dos dois ou três dias mais felizes da minha vida. E por isso a contracapa de meu terceiro livro sobre o gol de barriga saiu assim.

Não é mais futebol. É Cinema Novo. É Glauber, Joaquim, Ruy, Leon.

O Fluminense campeão de 1995 é cinema. Quem não viu, entenda.

Faria tudo para viver aquele domingo outra vez. Na impossibilidade, penso, rio, choro. O Fluminense é o eterno campeão do centenário.

Em memória de um de meus poucos e sinceros ídolos, Super Ézio, deixo o meu abraço e apreço a todos os tricolores que se emocionam quando veem aquelas imagens e ouvem aqueles sons únicos.

O que está escrito não morre. Do alto, só revejo uma vitória monumental.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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