1984 – XV (por Mauro Jácome)

1984 – Capítulo 15 - Primeiro Round

1984 – Capítulo 15 – Primeiro Round

1984. Época em que o Fluminense podia escalar onze cones com a camisa tricolor que ganhava do Vasco da Gama.

Para chegar à final, o time de São Januário jogou contra o Grêmio na semifinal. Primeiro jogo em Porto Alegre e a volta no Maracanã. No Olímpico, o jogo terminou 1 x 0 para os gaúchos, gol de Tarcísio, ponta-direita veloz e forte que teve relativo sucesso. No Rio, o Vasco goleou por 3 x 0, com dois gols de Roberto Dinamite e um de Marquinho Carioca.

Cumpridos os jogos semifinais, os números mostravam o Fluminense com uma campanha superior. Ambos haviam vencido 14 vezes, no entanto, o Fluminense empatara 8 vezes e perdera, somente, duas. O Vasco empatara menos (4) e perdera mais (6). A única vantagem vascaína era nos gols marcados: 51. Bem mais do que os 36 gols tricolores. O Fluminense tinha a defesa menos vazada (13), mas o Vasco não ficava muito longe: 19 gols sofridos.

O elenco do Vasco era ótimo. A começar pelo extraordinário goleiro Roberto Costa. Ganhou duas bolas de ouro da Revista Placar (83 e 84), o que comprovava a grande fase vivida por ele naquele tempo. Lembro-me de um jogo pelo Brasileiro de 83, quartas-de-final, entre São Paulo e Atlético-PR, no Morumbi. O time paranaense havia ganhado de 2 x 1 em Curitiba, no jogo de ida. O São Paulo precisava reverter o placar e bombardeou o rubro-negro. Roberto Costa teve uma das maiores atuações que vi de um goleiro. Foram todos os tipos de defesas que se possa imaginar. Resultado: 1 x 0 para o Atlético. Gol de quem? Dele, Assis, aos 30 do segundo tempo, num contra-ataque. 1984 não foi muito diferente para o goleiro e o Vasco estava na final, muito, graças a ele.

Dos onze titulares vascaínos, três surgiram para o futebol no Fluminense: Edevaldo, Mário e Arturzinho. Os dois primeiros foram campeões pelo Fluminense, contra o próprio Vasco, em 81, num time formado, basicamente, por pratas-da-casa. Arturzinho era mais velho. Surgira ainda no tempo da Máquina, mas concorria com Rivellino, logo, não durou nas Laranjeiras.

Ainda merecem destaque Mauricinho e Roberto Dinamite. O primeiro era um ponta-direita e exímio driblador. Tinha um estilo de jogo muito parecido com o de Paulinho. Inclusive, juntos e titulares, foram destaques e campeões mundiais de juniores em 1983. Dinamite dispensa comentários: junto com Romário, foram os maiores ídolos da história mais recente do Vasco.

Os demais jogadores compunham o forte time do técnico Edu, o Eduzinho, grande jogador e ídolo do América nos anos 60 e 70.

Apresentado o coadjuvante, os jogos decisivos foram marcados para os dias 24 e 27 de maio. O dia 30 também estava reservado, se fosse necessário um jogo-extra. Os jogos de mata-mata das fases anteriores foram realizados somente nos fins de semana. No entanto, nas finais, o primeiro jogo foi numa quinta-feira. Vai entender! Talvez, isso explique o porquê de o público desse jogo ter sido a metade do público do segundo.

Um time de estrelas que se move com harmonia

É como se fosse um sistema planetário, em que estrelas, planetas e asteroides se movimentam dentro de um equilíbrio tal que nada colide e a harmonia se reflete da mesma forma que na Natureza, com a precisão dos dias, noites e estações do ano (JB, 24/05/1984).

E a constelação foi a campo e confirmou o que muito se falava:

FICHA TÉCNICA

VASCO DA GAMA 0 X 1 FLUMINENSE

Árbitro: Luís Carlos Félix (RJ); Renda: Cr$ 316.125.000,00 Público: 63.156
Gol: Romerito 23 do 1º Tempo.
Vasco da Gama: Roberto Costa, Edevaldo, Ivã, Daniel González e Aírton; Pires, Arturzinho e Mário (Geovani, 25 do 2º); Mauricinho (Jussiê, 16 do 2º), Roberto Dinamite e Marquinho. Técnico: Edu.
Fluminense: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Renato; Jandir, Delei (Renê, 31 do 2º) e Assis; Romerito, Washington (Wilsinho, 31 do 2º) e Tato. Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Muitos dos que acompanham o futebol hoje não tiveram a sorte de ler ou ouvir João Saldanha. Profundo conhecedor do futebol, dentro do campo e, também, de seus bastidores, Saldanha tinha um jeito simples e direto de falar. Fugia do lugar-comum, do óbvio. Trazia sempre para o centro da conversa, detalhes importantes para a compreensão do futebol, numa época em que não havia, ainda, TV filmando o pensamento dos jogadores. Seus comentários sobre o primeiro jogo da decisão foram precisos. Refletiu o que aconteceu naquela noite no Maracanã:

Fluminense mereceu

Em um jogo decisivo, um termômetro que não falha é o da torcida e quem mais vibrou foi o pessoal do Fluminense, porque seu time esteve sempre mais ativo e mais perto do gol, que acabou conseguindo aí pelos 23 minutos, numa jogada muito bem completada por esse cracaço Romerito. (…) Depois de fazer o gol, o Fluminense se encolheu um pouco mais e começou a sair só na boa, embora Romerito e Assis continuassem desequilibrando e ameaçando mais o Roberto Costa nos contra-ataques, muito perigosos, quase sempre. (…) Gostei muito do Fluminense, que me pareceu mais seguro. É bem verdade que o Geovani e o Jussiê melhoraram muito o Vasco, mas o ataque vascaíno, com Roberto sempre muito isolado, não chegou a ameaçar o Paulo Vítor (…) O Romerito esteve notável e o Assis também desequilibrou. O Vasco se limitou a tentar o gol com Roberto, que acabou não saindo, porque seus baixinhos não conseguiram impor seu jogo de velocidade. O Fluminense matou essa jogada e mereceu (JB, 25/05/1984).

Vivia-se uma época de transição no futebol. Competitividade, ocupação de espaços, força física, linha da bola, múltiplas funções em campo foram termos que entraram no dicionário dos “professores”. Parreira estava um passo à frente e deu sorte de pegar um time precisando, somente, de uma lapidação, de um banho de futebol-científico:

Futebol total

Muitos fatores contribuíram para o Fluminense impor seu ritmo de jogo e domínio sobre o Vasco. Mas, sem dúvida, o que mais influiu foi a atuação de Romerito, um jogador que entrou em campo com espírito de campeão e contagiou todos os companheiros. Além disso, o Fluminense ocupou com inteligência todos os espaços do campo. Seus jogadores bloqueavam a saída de bola do Vasco sem qualquer dificuldade e se deslocavam por todos os lados, dando sempre uma opção ao companheiro marcado (JB, 25/05/1984).

O investimento valeu à pena. O Brasil se encantava com o paraguaio, que aliava habilidade e categoria, com garra, vontade e, principalmente, inteligência. Muita inteligência:

Romerito paga dívida com coração e técnica

Se Romerito devia uma grande atuação à torcida do Fluminense, pagou ontem jogando uma partida impecável. Aliando técnica a um grande espírito de luta, o paraguaio foi, sem dúvida, o grande nome do time tricolor. Além de marcar o meio-campo adversário, mostrando uma garra impecável, ainda encontrou forças para ir ao ataque e, aí, mostrar toda a sua habilidade, marcando o gol da vitória e proporcionando aos companheiros outras oportunidades, como aconteceu aos 37 minutos do segundo tempo, quando Assis não conseguiu fazer o gol (JB, 25/05/1984)

No próximo capítulo, enfim, o título.

Até lá.

Revisão: Rosa Jácome

Foto: www.flumania.com.br

Capítulo 14: www.panoramatricolor.com/1984-xiv-por-mauro-jacome/

Demais fontes: www.futebol80.com.br

8 Comments

  1. Fato raro, mas que aconteceu também contra a Portuguesa: assisiti este jogo da Geral, pois amigos meus de bom poder aquisistivo estavam com esta vontade nestes jogos.

    No gol de Romerito, estava perto da bandeira de escanteio mais perto de onde ele concluiu a jogada, na direção do gol, que vi muito claro.

  2. Eu já lhe disse isso, e repito: lendo os textos sobre o nosso bi, eu
    me sinto como se estivesse vivenciando, esse já longínquo ano de 1984.
    Paramos esse excelente time do vasco, que contra os sulistas, simplismente
    ‘sapecaram’ um 3 a zero acachapante.
    Que time formidável esse!
    Que venha o jogo da taça!

    P.S Mário e Edevaldo ‘cavalo’, foram campeões pelo flu, em 1980 contra o vasco, e não em 1981.
    Abraço, Jácome!
    ST.

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