1984 – XIII (por Mauro Jácome)

1984 – Capítulo 13 - Fluminense avassalador

1984 – Capítulo 13 – Fluminense avassalador

1984 começou em 1983. O time titular do Fluminense que Parreira escalaria, a partir do mata-mata contra o Coritiba, foi o que ganhou o Carioca de 1983, reforçado de Romerito e com Tato titular. O time que entrou em campo naquela decisão contra o Flamengo, no dia 11 de dezembro de 1983, decidida pelo histórico gol de Assis, foi: Paulo Vítor; Aldo, Duílio, Ricardo Gomes, Branco; Jandir, Delei, Assis, Leomir; Washington e Paulinho.

No Coritiba, jogavam Jairo e Lela, ambos ex-jogadores do Fluminense. O goleiro-gigante Jairo jogou no começo dos anos 70 e foi reserva de Félix e de Jorge Vitório. Lela saiu do Fluminense para o Coritiba trocado por Leomir, em 1983; primeiro por empréstimo de um ano, depois, em definitivo. Lela era um jogador atípico: tinha muita velocidade, apesar das pernas curtas. Ganhou até o apelido de Mentira. Chamava a atenção vê-lo disparar pela direita com o bumbum quase encostando no calcanhar. Fez uma excelente Copa Brasil de 84 e seria um dos protagonistas do título brasileiro de 1985, conquistado pelo time paranaense. É pai de Alecsandro e Richalysson, ambos no Atlético Mineiro. O perigosíssimo pontinha do Coxa seria marcado pelo garoto Branco: “Não jogo, mas ele também não jogará. Artilheiro tem de ter marcação implacável, não se pode dar uma oportunidade sequer (JB, 27/04/1984)”.

FICHA TÉCNICA

CORITIBA 2 X 2 FLUMINENSE

Árbitro: José de Assis Aragão (SP); Renda: Cr$ 59.944.000,00; Público: 27.061
Gols: Washington 14 e Vavá 25 do 1º Tempo; Romerito 5 e Lela 31 do 2º Tempo.
Coritiba: Jairo, André, Gomes, Vavá e Carlos Alberto Rocha; Hélcio, Tóbi e Carlinhos Maracanã (Marco Aurélio, 20 do 2º); Lela, Mauro e Édson. Técnico: Dirceu Krüger.
Fluminense: Paulo Victor, Getúlio, Duílio, Ricardo e Branco; Jandir, Delei e Assis (Wilsinho, 35 do 2º); Romerito, Washington e Tato. Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Flu esquece a técnica e usa raça sob chuva

Foi uma guerra sem tréguas, do Coritiba e da chuva, que a partir da metade do primeiro tempo, deixou o campo impraticável, tomando difícil o toque de bola e mais ainda a imposição da técnica. Pelas condições, o resultado de 2 a 2 até que foi bom para o Fluminense, que só precisa empatar domingo, outra vez com o Coritiba, agora no Maracanã, para se classificar para a próxima fase (JB, 30/04/1984).

Ainda merece destaque no time do Coritiba o ponta-de-lança Marco Aurélio. Marquinhos, como era conhecido quando começou no Fluminense, foi campeão carioca em 1973. Era um jogador de muita habilidade e visão de jogo. Seria campeão brasileiro pelo Coritiba, em 1985. Antes, ainda nos anos 70, fez muito sucesso, formando, com Dicá, um excepcional meio-campo na Ponte Preta. Depois, como técnico, treinou, entre outros, Cruzeiro (três vezes), Palmeiras, Atlético-MG, Ponte Preta (cinco vezes).

Diferentemente das fases anteriores, os jogos contra o Coritiba, pela quarta fase da Copa Brasil de 1984, aconteceram nos fins de semana, ou seja, Parreira tinha uma semana inteira para preparar o time para o jogo da volta no Maracanã, no dia 6 de maio. Também, tinha-se tempo para resolver problemas circunstanciais. Ao contrário de hoje, naqueles tempos, os contratos encerravam-se a qualquer momento, podendo, inclusive, provocar desfalques importantes nos momentos decisivos: “Desde ontem sem contrato, falta pouco para Jandir acertar a renovação. A diretoria ofereceu Cr$ 18 milhões de luvas e ele aceitou. mas não está de acordo com o salário” (JB, 01/05/1984).

Do outro lado, Dirceu Krüger, técnico do Coritiba, tinha problemas maiores: “Os problemas aumentaram para o técnico Dirceu Krüger, do Coritiba. Além de Tobi, Édson e Lela, que estão com terceiro cartão amarelo, ele talvez não possa contar com Carlinhos Maracanã no jogo de domingo. O apoiador sofreu um estiramento muscular na coxa direita e vai ficar fora dos treinamentos da semana” (JB, 01/05/1984).

Chegou o dia de arrancar a vaga para as semifinais. Um bom público (60 mil) foi ao Maracanã. E a torcida tricolor viu uma excelente atuação do Fluminense:

FICHA TÉCNICA

FLUMINENSE 5 X 0 CORITIBA

Árbitro: Emídio Marques de Mesquita (SP); Renda: Cr$ 110.813.200,00; Público: 60.385
Gols: Assis 19 e Washington 23 do 1º T; Washington 30, Renê 37 e Romerito 45 do 2º T.
Fluminense: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco (Renê, 32 do 1º); Leomir, Delei (Wilsinho, 17 do 2º) e Assis; Romerito, Washington e Tato. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
Coritiba: Jairo, André, Gomes, Vavá e Carlos Alberto Rocha; Élvio (Petróleo, 28 do 2º), Hélcio e Marco Aurélio; Eliseu, Mauro e Aladim (Gílson, intervalo). Técnico: Dirceu Krüger.

O Fluminense começava a ter a cara do Parreira. Naquelas partidas finais foi, taticamente falando, um dos times que vi jogar, que chegou mais perto da perfeição. Tudo era sincronizado. O posicionamento da defesa, o senso de cobertura dos zagueiros e, também, de Jandir; as ultrapassagens de Branco, com o deslocamento de Tato para a meia-esquerda; as rápidas trocas de posição entre Assis e Washington; as chegadas esporádicas, mas precisas de Aldo; a ocupação dos espaços vazios por Romerito; a distribuição de jogo com passes curtos ou longos do Delei. O time recompunha-se muito rápido, mantendo, sempre, nove , dez ou todos jogadores atrás da linha da bola. Tudo era feito com precisão, velocidade, sincronia.

Flu goleia e mantêm vantagem na semifinal

O Fluminense mostrou ontem, no Maracanã, um futebol frio e calculista, técnico e solidário, compacto e criativo. Foi tudo isso na goleada que aplicou no Coritiba por 5 a 0 e que o classificou para as semifinais da Copa Brasil. (JB, 7/5/1984)

De candidato a reserva de Romerito, ainda quando aguardava-se a chegada do paraguaio, a um dos artilheiros do time no campeonato. Esse foi Washington, no Brasileiro de 84. A má fase que o acompanhava saiu de campo quando Romerito chegou e, também, quando Parreira colocou a mão no time. Tudo se ajustou e, tal qual Assis, o centroavante fez 9 gols. E no jogo do Maracanã, contra o Coritiba, Washington deitou e rolou. No seu primeiro gol, recebeu uma bola à meia altura na entrada da área e, sem deixá-la cair, deu de “chaleira” sobre os zagueiros Coxas-Brancas, arrancando para o gol. Quando o goleirão Jairo fechou o ângulo, esperando um chute rasteiro, Washington deu um toque por baixo da bola, encobrindo o goleiro. Um “golaçoaçoaçoaço”, conforme narraria Jorge Cury.

Fechando o domingo com chave-de-ouro, o rival Flamengo foi escorraçado em São Paulo:

Flamengo leva goleada e se despede da Copa

O Flamengo se despediu da Copa Brasil de forma melancólica. Poderia perder por diferença de até um gol, mas acabou massacrado pelo Coríntians, que, com uma atuação magnífica, chegou facilmente aos 4 a 1. Se Fillol não fizesse defesas incríveis, o resultado seria ainda mais contundente (JB, 7/5/1984).

No próximo capítulo, a perfeição em campo.

Até lá.

Revisão: Rosa Jácome

Foto: www.imortaisdofutebol.com

Capítulo 12: www.panoramatricolor.com/1984-xii-por-mauro-jacome

Demais fontes:
www.futebol80.com.br
www.fluminense.com.br

11 Comments

  1. Além do Fluminense ter jogado um partidaço contra o Coritiba (QUE SERIA O CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1985, FATO POUCO LEMBRADO!), foi uma partida divertidíssima para os mais de 70.000 (pagantes + não pagantes) tricolores que foram ao jogo, pois a Torcida Tricolor comemorou 9 gols (os 5 do FFC e os 4 que o urubu levou)!
    Jogo inesquecível!

  2. Eu estava no Maracanã neste domingo contra o Coxa , com os meus 13 anos de idade junto com o meu pai. Jogamos sem deixar o time deles respirar. Fomos cruéis e implacáveis. O Coritiba praticamente não viu a cor da bola , como se diz na gíria. Os 5 x 0 talvez não refletiu o que aconteceu dentro de campo. Era para ter sido de mais. Dentro de um contexto , como um time equilibrado num campeonato difícil e à partir dessa partida maravilhosa , a nossa torcida já sentia o cheiro do título.
    Estou ansioso para o próximo capítulo , do domingo seguinte , a qual dita por muitos , inclusive pelo próprio C. A. Parreira como uma das partidas mais perfeitas feitas pelo Flu.
    No próximo capítulo comentamos.
    Parabéns pelo belo trabalho e ST sempre !
    Abraços !

  3. FUI NESSE 5 X O, FOI A MELHOR PARTIDA QUE VI O WASHINGTON FAZER COM A CAMISA DO FLU! E OS GOLS SAIAM EM FLA X CORINTHIANS E A GALERA VIBRAVA! TARDE MÁGICA!

  4. Esse domingo, seis de maio, foi apoteótico! Ganhamos de nove!
    Metemos 5 nos coxinhas, e em Sampa, o urubu foi devidamente depenado pelos gambás.
    Partidaça dos comandados do Parreira.
    No domingo seguinte fizemos outra partidaça. Mas isso, eu comento no próximo domingo…
    S.T

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