1984 – X (por Mauro Jácome)

1984 – Capítulo 10 – A Estrela da Companhia

1984 – Capítulo 10 – A Estrela da Companhia

O paraguaio Julio Cesar Romero Isfrán nasceu em 28/08/1960, na cidade de Luque. Começou, aos 17 anos, no Sportivo Luqueño. Logo chegou à Seleção Paraguaia. Primeiramente, disputando o Sul-Americano de Juniores de 79, no Uruguai. Foi o artilheiro da competição com cinco gols e destaque, juntamente, com Maradona e Rubén Paz. No mesmo ano, pela Seleção principal, conquistou a Copa América. Nas semifinais, marcou o gol no empate de 2 x 2 que eliminou o Brasil, no Maracanã. A Seleção Canarinha tinha em seu elenco alguns jogadores consagrados e que foram desbancados por Romerito: Leão, Edinho, Marco Antônio, Carpegiani, Falcão, Sócrates. No primeiro jogo da final, contra o Chile, marcou dois gols da goleada de 3 x 0. Mal começara e seu nome estava definitivamente na história do futebol dos Guaranis.

Óbvio que um sucesso tão ligeiro não ficaria imune à sedução do capital. Em 1980, transferiu-se para o Cosmos, time americano de propriedade da gigante Warner Communications, que contratava jogadores de renome internacional para alavancar o futebol americano, o Soccer. Começou por Pelé, depois, Beckenbauer, Carlos Alberto Torres, Chinaglia.

Romerito é ídolo no Paraguai, onde é considerado o maior jogador da história daquele país, e da torcida do Fluminense. Pelo tricolor, jogou de 1984 a 1989. Foi campeão Brasileiro em 1984, bi estadual (84/85) e conquistou os torneios de Seul 84, de Paris e a Copa Kirin de 87. Fez 211 jogos e marcou 59 gols.

Romerito estreia com ingressos mais caros

Com a estreia de Romerito confirmada para esta noite, no Maracanã, contra o Santo André, a expectativa da diretoria do Fluminense, ontem, ficou voltada para a arrecadação. Nas Laranjeiras todos contam com um grande comparecimento da torcida, para ver se conseguem a primeira renda superior aos Cr$ 50 milhões, uma marca que o clube, até agora, não ultrapassou nesta Copa Brasil. Mas hoje é provável que isso aconteça, devido ao aumento no preço dos ingressos (JB, 07/04/84).

FICHA TÉCNICA

FLUMINENSE 1 X 0 SANTO ANDRÉ

Fluminense: Paulo Victor, Getúlio, Vica, Carlos Eduardo e Branco; Leomir (Washington, 22 do 2º), Delei e Assis; Wilsinho, Romerito e Tato (Paulinho, intervalo). Técnico: Carbone.
Santo André: Tonho, Sôni, Marcos, Ramiro e Jaime Bôni; Rota, Arnaldo e Marco Antônio; Barbosa, Jones e Esquerdinha. Técnico: Jair Picerni.
A renda não foi a esperada: 41 milhões de cruzeiros e o público de 23.231. Nada mal para um jogo, naquele tempo de descrédito do futebol. O esporte mais popular do país passava por uma crise de credibilidade, de motivação, de organização. Independentemente desses problemas, a partir desse jogo, o Fluminense dava à torcida tricolor um dos maiores ídolos da sua história recente.

No segundo jogo da terceira fase, o Fluminense visitou o Operário de Campo Grande. Jogo complicado e estranha situação. No comando do adversário, talvez, o maior ídolo da história do Fluminense: Castilho. Ele mesmo, aquele que, hoje, tem até busto, nas Laranjeiras, em sua homenagem, que defendeu o tricolor por 696 vezes entre 1947 e 1964, que disputou quatro Copas (1950, 1954, 1958, 1962), que amputou parte do dedo mínimo contundido para retornar mais rápido aos campos. Além de Castilho, o Operário tinha no seu meio-campo um jogador revelado no Fluminense, em 1974: Gérson Andreotti.

FICHA TÉCNICA

OPERÁRIO/CG 0 X 0 FLUMINENSE

Operário: Paulão, Dito, Odair, Beto Fuscão e Dionísio; Gérson Andreotti, Marcinho e Adílson; Edinho, Lima e Nenê. Técnico: Carlos Castilho.
Fluminense: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Leomir, Renê (Ronaldo, 22 do 2º) e Assis; Romerito, Washington e Tato. Técnico: Carbone.

Fluminense resiste à pressão e obtém um ponto importante

A boa atuação de Duílio e Ricardo, nos momentos de maior pressão do Operário (MS), ontem à noite, em Campo Grande, garantiu para o Fluminense o empate de 0 a 0. Com este resultado, a equipe carioca manteve-se na liderança do Grupo P, beneficiando-se do empate de 1 a 1 entre a Portuguesa de Desportos e o Santo André, em São Paulo. Duílio levou o terceiro cartão amarelo e não joga domingo, no Canindé, contra a Portuguesa. O Fluminense passou por situações difíceis no Pedro Pedrossian, mas foi seu ataque que proporcionou a jogada mais bonita para o público de 17.409 pessoas. Foi aos 28 minutos do primeiro tempo, quando Washington enganou seus marcadores e deu ótimo passe para Romerito, que chutou forte, no canto esquerdo, para o goleiro Paulo espalmar para escanteio (JB, 12/04/1984).

1984 foi um ano em que o cinema rodou ótimos filmes: Memórias do Cárcere (de Nelson Pereira dos Santos); Amadeus (de Milos Forman); Gremlins (de Joe Dante); Indiana Jones e o Templo da Perdição (de Steven Spielberg); Bete Balanço (de Lael Rodrigues).

Dos filmes lançados naquele ano, 1984 (de Michael Radford) – baseado na obra de George Orwell, foi o que mais me marcou. Apesar de escrita em 1949, é uma obra cujas mensagens podem ser aplicadas de forma múltipla, em diversas épocas dos tempos modernos.

Politicamente, pode-se considerar uma crítica ao terror nazifascista, derrotado pouco antes do lançamento do livro. Ou, ainda, pode ser visto como uma representação do Stalinismo, que ganhara força descomunal interna – com a política de expurgo de opositores – e externamente, com a decisiva contribuição para a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Nesse segundo caso, inclusive, a obra foi utilizada como propaganda anticomunista. No entanto, o próprio George Orwell discorda da ideia, pois, não endereçava a sua crítica apenas à URSS, mas também ao partido trabalhista inglês e à polarização Ocidente/Oriente, enfim, às diversas formas de totalitarismo, mesmo os disfarçados em determinados segmentos dissimulados das democracias ocidentais.

Outro aspecto que vem à minha mente e que me faz enxergar semelhanças com os mecanismos de controle adotados pelo Estado de Orwell, são as tendências do nosso cotidiano midiático na fabricação e na imposição de opiniões, “queimando” os arquivos da própria realidade, tal qual o personagem Winston Smith. Algo como o totalitarismo estatal descrito no livro sendo, hoje, exercido pelo totalitarismo de quem controla e manipula a informação. Afinal, como o próprio autor diz: Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado.

A música brasileira estava numa fase de abertura: a MPB pura, clássica, ortodoxa, cedia espaço para as bandas de rock nacional. Estouravam nas paradas de sucesso (era assim que se dizia): Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Titãs. Do gênero tivemos: Sonífera Ilha (Titãs), Como Eu Quero (Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens), Óculos (Paralamas), Inútil (Ultraje A Rigor), Bete Balanço (Barão Vermelho), Meu Erro (Paralamas do Sucesso).

No ocaso da ditadura, ainda cabiam algumas letras de protesto como a clássica Vai Passar, do tricolor Chico Buarque: Vai passar/ Nessa avenida um samba popular/ Cada paralelepípedo/ Da velha cidade/ Essa noite vai/ Se arrepiar/ Ao lembrar/ Que aqui passaram sambas imortais/ Que aqui sangraram pelos nossos pés/ Que aqui sambaram nossos ancestrais.

No próximo capítulo, a troca de comando.

Até lá.

Revisão: Rosa Jácome

Foto: reserva-literaria.blogspot.com.br/Uol/Lancenet

Capítulo 9: http://www.panoramatricolor.com/1984-ix-por-mauro-jacome/

Demais fontes: www.flumania.com.br, www.futebol80.com.br, revistacult.uol.com.br

3 Comments

  1. Este jogo contra o Santo André foi enjoado prá caramba, pois os caras jogaram numa tremenda retranca e faziam falta a todo momento para parar o Tricolor.

  2. Não sabia que o Romero havia estreado contra o Santo André, que fez
    um bom campeonato. Inclusive, o nosso jogo contra eles, em Sampa, foi dificílimo!
    Muito bom lembras de bandas que surgiram nessa época como: Legião, Titãs, Ultraje e etc.
    ST.

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