1984 (II) – O começo e as Diretas (por Mauro Jácome)


Presos suspeitos do roubo da taça

A Polícia Federal prendeu ontem no Rio de Janeiro três suspeitos de terem roubado a Taça Jules Rimet, no dia 19 de dezembro, da sede da CBF. Ontem, o comandante Edilberto Braga, superintendente regional da PF, anunciou os nomes dos envolvidos, que teriam, inclusive, derretido a taça e vendido o ouro (Folha de São Paulo, 28/01/1984).

Em meio ao alvoroço que provocou a captura dos responsáveis pelo roubo que constrangeu o Brasil ante o resto do mundo, começou o campeonato. A primeira partida, a única do sábado, 28 de janeiro, foi entre Flamengo e Palmeiras. O rubro-negro disputaria o Brasileiro sem sua estrela maior – Zico – que fora vendido para a Udinese em junho do ano anterior, pouco depois da conquista nacional.

No domingo, o Fluminense estreou visitando o time do Santos. Naqueles tempos, o campeonato brasileiro era disputado antes dos estaduais. Além disso, era mais curto. Com o passar dos anos e o crescimento da importância do torneio nacional, houve a inversão na ordem: os estaduais abrindo a temporada e o Brasileiro fechando. Com relação ao tempo de duração, paulatinamente, o Campeonato Brasileiro foi ocupando a maior parte do calendário.

Ao contrário do Fluminense, campeão carioca de 1983, o Santos, não chegou nem à final do Paulista do ano anterior. Fora eliminado pelo São Paulo nas semifinais. No cenário nacional, fez a final do Campeonato Brasileiro anterior contra o Flamengo, ganhando em São Paulo (2 x 1) e perdendo no Maracanã (3 x 0) diante de uma multidão de 155.523 pessoas, quase todos rubro-negros. Esse público é recorde em campeonatos brasileiros e 14º no ranking brasileiro de todos os tempos.

O Santos tinha no gol um dos maiores goleiros que vi jogar, Rodolfo Rodrigues; na zaga, um jogador que batia como poucos, Márcio; no meio-campo, o eficiente Paulo Isidoro e o craque Pita; no ataque, o superartilheiro Serginho.

Do time tricolor que ficaria imortalizado nos pôsteres de homenagem ao campeão de 1984, não jogaram Paulo Vitor e Ricardo Gomes, ambos na Seleção Brasileira; Aldo, sem contrato; Romerito, que só estrearia em abril; e Tato, que ainda era reserva de Paulinho.

O Fluminense saiu na frente ainda no primeiro tempo e o Santos empatou no começo do segundo tempo. O gol tricolor foi marcado por Washington. Paulinho, nas suas tradicionais arrancadas pela esquerda, driblou Paulo Isidoro na corrida e cruzou na marca do pênalti. O artilheiro vinha na corrida, subiu entre os zagueiros e cabeceou para o chão, no canto direito do goleiro uruguaio. O gol do Santos foi marcado por Serginho num belo giro, após o zagueiro Márcio se pendurar faltosamente nas costas de Branco e escorar, de cabeça, para o meio da pequena área.

FICHA TÉCNICA

SANTOS 1 X 1 FLUMINENSE

Árbitro: Aírton Domingos Bernardoni; Renda: Cr$ 29.187.500,00; Público: 24.392;

Gols: Washington aos 23’ do 1ºT; Serginho aos 9 do 2ºT;

SANTOS: Rodriguez, Toninho Oliveira, Márcio (Pagani), Toninho Carlos e Paulo Robson; Dido (Ronaldo), Paulo Isidoro e Pita; Lino, Serginho e Camargo. Técnico: Formiga

FLUMINENSE: Ricardo Lopes, Beto (Maurão), Duílio, Vica e Branco; Jandir, Delei e Assis; Leomir (Rogério), Washington e Paulinho. Técnico: Carbone.

Politicamente, o país estava em ebulição. Era tempo de Diretas-Já. O movimento para o restabelecimento de eleições diretas para a escolha do presidente brasileiro conseguiu mobilizar o país. De um lado, o parlamento e de outro, o povo. Mas o apelo popular pelas Diretas-Já não foi vencedor. Mesmo com todas as manifestações, que tiveram o auge nos diversos comícios nas principais cidades brasileiras, o Congresso Nacional não se sensibilizou. Até o dia da votação, 25 de abril, comícios arrastaram multidões nunca antes vistas no país: 300 mil na Praça da Sé (São Paulo), em janeiro; 400 mil em Belo Horizonte, em fevereiro; 1 milhão no Rio, em abril; 1,5 milhão em São Paulo, também em abril. Ao todo, foram realizados mais de 40 comícios; no total, quase 5 milhões de presentes. Na semana do início do campeonato, São Paulo viu o primeiro megacomício:

300 mil nas ruas pelas diretas

Os números variam, mas uma coisa é certa: este comício foi a maior manifestação já realizada em São Paulo desde a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964. De acordo com os cálculos realizados pela “Folha”, 300 mil pessoas saíram às ruas para defender, na

Praça da Sé, a restauração das eleições diretas para a Presidência da República. (…) as 300 mil pessoas provaram ser possível (e desejável) fazer política com amor, garra e alegria. O povo se manifestou, cantou, dançou; trouxe bandeiras, vestiu camisetas, vaiou, aprovou. (…) O sentido da festa talvez só não tenha sido bem compreendido por Brasília. O porta-voz da Presidência, Carlos Átila, disse que o comício foi “pouco expressivo”: a seu ver, as 100 mil pessoas reunidas em São Paulo nada representam diante dos 54 milhões de eleitores que, em 82, deram ao PDS o direito de escolher o próximo presidente (Folha de São Paulo, 26/01/1984).

No primeiro dia de fevereiro, quarta-feira, o Fluminense foi a Fortaleza pegar o Ferroviário, o velho e simpático Ferrim. O jogo foi no Castelão e o resultado foi mais um empate tricolor, só que sem gols. O time do Ferroviário era bem modesto e chamava a atenção em dois pontos: alguns nomes engraçados, tipicamente brasileiros, Birungueta, Paulinho Lamparina, Escurinho, Tuca, Doca; e o surgimento de Jorge Veras no cenário nacional. Mais tarde, o atacante cearense seria apelidado de Homem Grenal. Contratado pelo Grêmio, junto ao Criciúma em 87, Jorge Veras estreou num Grenal marcando dois gols. Além desses, marcou outros nos jogos decisivos do Gauchão de 87.

FICHA TÉCNICA

FERROVIÁRIO 0 X 0 FLUMINENSE

Árbitro: Romualdo Arppi Filho (SP); Renda: Cr$ 7.542.200,00; Público: 9.866

Ferroviário: Dário, Tuca (Birungueta), Israel, Nilo e Fraga; Doca, Paulinho Lamparina e Barga; Dario (Édson), Jorge Veras e Escurinho. Técnico: Antonino.

Fluminense: Ricardo Lopes, Beto, Duílio, Vica e Branco; Jandir, Delei e Assis; Leomir, Washington e Paulinho. Técnico: Carbone.

No próximo capítulo, começam as vitórias e o presidente Manoel Schwartz pensa grande.

Até lá.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

Revisão preliminar: Rosa Jácome

Fonte: www.futebol80.com.br

4 Comments

  1. Mauro, bacana relembrar esse time histórico do flu!
    Me lembro muito pouco do time bicampeão brasileiro(sou de 1979), time
    esse que fez história.
    Estou no aguardo, pelos próximos capítulos.
    ST4!

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