1970 – Post-Scriptum (por Mauro Jácome)

Por regra, ao lembrarmos das conquistas, somos impelidos a nos fixar, predominantemente, nos seus heróis. Natural, mas um time de futebol é igual a uma orquestra. Cada instrumento, cada músico, o maestro, a harmonia definem a qualidade do resultado. O que seria do Fluminense, se Flávio não tivesse se machucado e Mickey permanecesse no banco? Se Jorge Vitório não ajudasse a garantir as duas primeiras vitórias do torneio? Se Wilton não mantivesse a qualidade de Cafuringa? Se Silveira não fosse polivalente?

Retorno para fechar esta história de vencedores, de heróis, relatando o destino de cada um dos titulares e dos principais reservas. Antes, porém, merecem destaque trechos da crônica de Armando Nogueira, escrita dois dias após o jogo que deu o título de 1970. A meu ver, resume o time que era o melhor do melhor futebol do mundo:

“(…) Extraordinária, sem dúvida, a intervenção do artilheiro Mickey no lance do gol tricolor: qualquer atacante acomodado teria assistido, passivamente, ao desenrolar da jogada: era uma bola alta, que pela trajetória, ou seria de Vantuir ou de Humberto que estava atrás dele. Pois bem, antecipando-se a Humberto, o atacante Mickey saltou e testou violentamente, surpreendendo o goleiro Renato. Uma cabeçada tecnicamente perfeita. (…) Félix; Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Didi e Denílson; Cafuringa, Flávio (Mickey), Samarone e Lula. Nome por nome, o torcedor não encontra um só jogador fora de série. Mas, em compensação, não encontra um perna de pau, não encontra nem mesmo um medíocre. Todos são bons jogadores e, o que é mais importante, juntos eles representam virtudes que se somam: Samarone não sabe fazer gol, mas sabe criar situação de gol; Flávio não sabe criar situação de gol, mas sabe fazer gol, como poucos atacantes no mundo; Denílson passa mal, mas, em contrapartida, não deixa o adversário passar (a bola); Cafuringa não dá consequência a todas as investidas pela extrema, mas tem a preciosa virtude de minar fisicamente o adversário direto, levando-o sempre à exaustão e provocando, com isso, o desmoronamento do sistema de cobertura do time adversário; Didi é imaturo no lançamento preciso da bola, mas, no momento, supera Denílson em capacidade de destruição e ainda lhe sobra fôlego para ir oferecer uma opção de ataque a Samarone, a Cafuringa, a Mickey e a Lula, eis que vem lá de trás em alta velocidade, numa ação que transtorna o equilíbrio defensivo do rival; Oliveira e Marco Antônio, convenhamos, não precisam nem ser justificados: eles foram, a meu ver, as peças decisivas na operação de apoio ofensivo com que o time do Fluminense assustou sempre todos os adversários. Da mesma forma, em matéria defensiva, o Fluminense deve muito à zaga Galhardo-Assis, o primeiro, com seu estilo vistoso, passou a Taça de Prata jogando futebol de alto nível e o segundo superando o outro na agilidade com que executa o responsável trabalho de cobertura de todos os beques, em certos lances, até mesmo de Oliveira. Por fim, o mais respeitável de todos os campeões do Brasil com o Flu que é o goleiro Félix: negado aqui e ali, o goleiro tricolor foi o único dos campeões mundiais que, de volta do México, não caiu de produção. Pelo contrário, jogou uma Taça de Prata com irrepreensível aplicação técnica e psicológica. Essa é uma grande alegria para quem, como eu, aprovou sua reconvocação pelo treinador Zagalo: no Mundial e, agora, na Taça de Prata, Félix demonstrou, com os melhores gestos de seu ofício, que é realmente o mais eficiente goleiro do Brasil. (…) Fluminense, nobre vencedor da Taça de Prata. O futebol brasileiro não merecia melhor campeão.”

Félix

Ídolo maior daquele time, jogou no Fluminense até o começo de 76 e encerrou a carreira. Foi o goleiro da Máquina, versão 75. Na Seleção, jogou até 72. Morreu em agosto passado.

Oliveira

Rodou pelo país depois que saiu do Fluminense: Atlético-PR, Coritiba, CRB, CSA. Encerrou seu ciclo no Pará, jogando por Remo, Castanhal e Esporte Clube Belém. Morreu em 2000.

Galhardo

Encerrou a carreira em 71, depois de ter conquistado o título carioca daquele ano. Aos 70 anos de idade, mora em Araraquara. Frequentemente, vai ao clube para receber homenagens.

Assis

Atuou em 424 partidas pelo Fluminense até 1975. Conquistou, ainda, os cariocas de 71, 73 e 75. Encerrou a carreira no ASA, depois de ter jogado por Sport e Ceará. Mora no Pará.

Marco Antônio

Saiu do Fluminense em 76 para o Vasco, junto com Abel e Dirceu, numa troca por Miguel e Luiz Carlos. Depois jogou por Bangu e Botafogo. Foi campeão carioca por 5 vezes (69, 71, 73, e 75 pelo Flu, 77 pelo Vasco). Jogou as Copas de 70 e 74. Encerrou a carreira em 84.

Denílson

Atuou pelo Fluminense de 64 a 73. Conquistou, ainda, os estaduais de 71 e 73. Depois foi para o Rio Negro de Manaus e, em 75, encerrou a carreira no Vitória.

Didi

Em 69, foi promovido por Pinheiro ao time profissional. Jogou todas as partidas da Taça de Prata. Foi, também, campeão carioca em 71. Rodou, ainda, por Vitória, Portuguesa Santista, Santos, Toluca, Jalisco, Ceará e Francana. Atualmente, mora no México.

Cafuringa

Jogou pelo Fluminense até 75. Em 76, transferiu-se para o Atlético Mineiro. Depois jogou pelo Grêmio Maringá. Voltou ao Fluminense em 78. Em 79, foi para a Caldense. Encerrou a carreira no Deportivo Táchira. Além da Taça de Prata, foi campeão em 69, 71, 73 e 75. Morreu novo, aos 42 anos, vítima de septicemia.

Flávio

Além da Taça de Praça e dos cariocas de 69 e 71, foi artilheiro do Carioca de 69 (15 gols) e de 70 (18 gols). Marcou 92 gols em 115 jogos. Saiu, em 72, para o Porto de Portugal. Jogou pelo Internacional em 75 e 76, conquistando o Brasileiro de 75 e a artilharia com 16 gols. Depois, jogou pelo Pelotas (RS), Santos, Figueirense, Brasília (DF) e Jorge Wilstermann, da Bolívia, quando encerrou a carreira em 81. Mora em São Paulo e trabalha em escolinha de futebol.

Mickey

Pelo Fluminense, jogou 97 vezes e fez 25 gols. Após a conquista do estadual de 71, saiu para o Junior Barranquilla. Depois jogou no Deportivo Cali, Olaria, Bahia, São Paulo, Ceará e Avaí. Teve uma rápida passagem pelo Fluminense em 74. Parou em 79 e mora em Camboriú.

Samarone

Jogou 211 vezes pelo Fluminense, de 65 a 71. Marcou 51 gols. Ainda foi campeão em 71. Ganhou a Bola de Prata, da Revista Placar, da Taça de Prata. Depois foi para o Corinthians, Flamengo, Portuguesa de Desportos e Bonsucesso. Mora em Cascavel (PR).

Lula

Jogou pelo Fluminense até 74 e conquistou, além da Taça de Prata em 70, os cariocas de 69, 71 e 73. Em 74, foi para o Internacional, onde conquistou um tri gaúcho (74/75/76) e um bi brasileiro (74/75). Terminou a carreira no Sport. Mora em Recife.

Jorge Vitório

Jogou no Fluminense até 73. Teve passagens, também, no Vila Nova e no futebol árabe. Foi campeão em 69, 71 e 73. Foi, por muitos anos, reserva de Félix. Vive em Volta Redonda.

Cláudio Garcia

Destino dos traidores: ostracismo.

Wilton               

Jogou pelo Fluminense de 65 a 75, como juvenil e profissional. Ainda, jogou pelo São Paulo (emprestado), Santa Cruz (emprestado), Coritiba, Vitória, Blizard Toronto (Canadá), Náutico, Leônico-BA e Galícia-BA. Parou em 1983. Morreu em 2009.

Silveira

Jogou, pelo Fluminense, até 1975, onde conquistou os cariocas de 69, 71 e 73. Depois, jogou pelo Sport, Operário de Mato Grosso, Guarani e Guarapari.

1970 – Parte I: http://www.panoramatricolor.com/1970-parte-i-por-mauro-jacome/

1970 – Parte II: http://www.panoramatricolor.com/1970-parte-ii-por-mauro-jacome/

1970 – Parte III: http://www.panoramatricolor.com/1970-parte-3-por-mauro-jacome/

1970 – Parte IV: http://www.panoramatricolor.com/1970-parte-iv-por-mauro-jacome/
Mauro Jácome

Panorama Tricolor

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Imagem: reliquiasdofutebol.blogpsot.com

Contato: Vitor Franklin

Revisão prévia: Rosa Jácome

Fontes de pesquisa: Wikipédia

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