1970 – Parte II (por Mauro Jácome)

EUA falam do “milagre brasileiro”

Mozart Gurgel Valente, embaixador do Brasil na Casa Branca, expôs ontem a um importante grupo de homens de negócios de Filadélfia, as medidas que têm permitido o espetacular saneamento econômico de seu país. (FSP, 01/11/1970)

Padilha justifica vigência do AI-5

Para o líder da maioria na Câmara Federal, Sr. Raimundo Padilha, o pronunciamento do presidente Médici não surpreendeu, pois ele julga que o AI-5 foi editado para assegurar a sobrevivência da Revolução, só podendo admitir sua revogação, mesmo parcial, quando as causas determinantes de sua outorga tiverem sido removidas, “o que ainda não ocorreu”.  (FSP, 01/11/1970)

Vasco busca Vingança

“O clássico de hoje lembra outro: a final do Campeonato Carioca deste ano, em que os vascaínos jogaram com faixas de campeão, mas perderam de 2 a 0, tornando menos animada a festa do título. O jogo de hoje tem por isso o sabor da vingança”.  (FSP, 01/11/1970)

Isso é uma pequena amostra do nosso Brasil de 1970. No primeiro dia de novembro, o Fluminense entrou em campo para enfrentar o Vasco. Época em que, se o Fluminense entrasse com onze cabos de vassoura, mesmo assim, ganharia do Vasco. E não foi diferente: Fluminense 3 x 1. Flávio, Silveira e Marco Antônio fizeram os gols. O único titular que não jogou foi o Rei Zulu, Denílson. Silveira jogou no seu lugar e, os outros dez, o torcedor sempre soube de cor. O Vasco tinha um ataque que fez sucesso no título carioca: Luís Carlos (foi para o Fluminense, em 77, trocado por Dirceu no fim da era da Máquina), o folclórico Dé, Silva (o Batuta. Fez, também, tremendo sucesso no Flamengo) e Gilson Nunes (começou a carreira no Fluminense – 63 a 69 – e também foi técnico – 90/91).

Três dias depois, quarta-feira, ainda no Maracanã, o Fluminense enfrentou a Ponte Preta. Trucidou a Macaca, que perdeu até o galho para voltar para casa. O tricolor entrou em campo ainda sem Denílson e com Silveira no seu lugar. Marcaram: Didi, Lula duas vezes, Flávio três vezes, 6 x 1. E quem marcou para a Ponte Preta? Um futuro ídolo tricolor: Antônio Monfrini Neto, o Manfrini. Eternizado por Waldyr Amaral como Manfra (deeeeeeeeeez é a camisa dele!), jogou no Fluminense de 73 a 75 e foi, contra sua vontade, trocado, junto com Mario Sérgio, por Dirceu. Acima de jogador, era um apaixonado pelo Fluminense.

No sábado, dia 07 de novembro, o Fluminense foi a São Paulo enfrentar o Palmeiras. O time paulista já tinha vários jogadores da Academia, timaço da primeira metade dos anos 70. Eurico, Dudu, Ademir da Guia, Edu e César, jogavam naquele time dirigido por ninguém menos do que Rubens Minelli. Ainda tinha o Baldochi, reserva da Seleção tricampeã. 22.096 pagantes assistiram ao Fluminense atropelar o Palestra, com três gols de Flávio. Denílson voltara, completando o scratch titular.

Deu na FSP do dia seguinte: “O Fluminense ganhou com relativa facilidade o jogo dos líderes, com três gols de Flávio. Teve o melhor jogador em campo, Samarone, um centroavante que aproveitou bem as oportunidades de gol, Flávio, e além de um time mais estruturado e objetivo. Utilizou uma armadilha que funcionou com sucesso diante da inexplicável ingenuidade do adversário: a malícia, ou “catimba”, com que destruiu a tranquilidade palmeirense”.

Na quinta-feira seguinte, o time tricolor teria pela frente mais um clássico. Daquela vez, seria o Botafogo. Flávio fora expulso em São Paulo e Mickey, protagonista da fase final, jogaria pela primeira vez como titular. Até então, entrara no decorrer dos jogos, geralmente, no lugar de Samarone. 1 x 1 e Mickey deixaria seu primeiro gol no campeonato. PC Caju empataria. Além do craque alvinegro, jogaram pelo Botafogo outros nomes que fizeram muito sucesso naquele tempo: Ubirajara (um dos atores principais do lance do gol da final de 1971 que deu o título ao Fluminense), Moisés (um xerife de verdade e autor da frase: “zagueiro que se preze não ganha Belfort Duarte”. Prêmio dado ao jogador que ficava ao menos duzentos jogos oficiais sem sofrer expulsões ao longo de, no mínimo, dez anos), Carlos Roberto, Nei Conceição, Nilson Dias, Roberto (reserva da Seleção tricampeã), Ferreti. Em tempo, Arnaldo César Coelho foi o árbitro. Naquele tempo, faltavam dedos para se contar craques em campo.

No domingo seguinte ao clássico contra o Botafogo, não houve jogos pelo torneio: foram realizadas as eleições para o Senado (2/3) e Câmara Federal. Foi a primeira eleição para o Congresso depois de implantado, pela ditadura, o bipartidarismo (Arena e MDB). No Senado, a Arena fez 41 cadeiras e o MDB, 4. Na Câmara, a Arena ficou com 223 e o MDB, com 87 cadeiras. Esse seria o colégio eleitoral que elegeria Ernesto Geisel, em 1974.

Na quarta-feira, dia 18, o Fluminense voltava a São Paulo para enfrentar o Santos, no Pacaembu. O Santos de Pelé, Cejas, Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo, Rildo, Clodoaldo e Edu. Desses, cinco foram campeões mundiais no México. A expectativa dos paulistas pelo jogo era grande. Mesmo já desclassificados, enfrentariam um time que, com grande campanha, conseguira grande respeito dos adversários.

“O Santos tenta a reabilitação contra um líder” foi a manchete da Folha de São Paulo, que ainda publicou: “Para o técnico Antoninho, o Fluminense será o nosso melhor adversário da Taça de Prata, mas vamos jogar tranquilos e podemos deslanchar nessa partida. Uma vitória contra o Fluminense apagará um pouco os maus resultados. E, segundo Pelé, a responsabilidade de uma vitória é totalmente deles. Tudo agora ficou mais fácil. Jogamos sem pensar em classificação e poderemos produzir o máximo. Na opinião de Clodoaldo, o Fluminense é o melhor time da Taça de Prata e, automaticamente, o adversário mais perigoso. mas, precisamos urgentemente da reabilitação e creio que a hora é essa“.

O Fluminense jogou sem Assis, expulso contra o Botafogo. O tricolor sofreria sua terceira derrota no campeonato, no entanto, nada que atrapalhasse suas chances de classificação. Armando Marques apitou o jogo e 17.623 torcedores compareceram.

No domingo, dia 22, o grande clássico das multidões: Fla x Flu. O Fluminense vivia momentos de tensão. Flávio, o artilheiro, não havia aparecido nas Laranjeiras na sexta-feira para treinar. Ninguém sabia ao certo se o centroavante retornara de São Paulo, após o jogo contra o Santos. Tudo contornado depois, Flávio foi para o jogo. Numa época que colocar mais de 80 mil pessoas no Maior do Mundo era fácil, 81.616 pagantes assistiram ao jogo.

No final, 1 x 1, gols de Zanata, para os rubro-negros, e Cafuringa empatando. Gol de Cafuringa? Isso mesmo, por incrível que pareça. Cafu, como era chamado, marcou pouquíssimos gols na carreira, apesar da velocidade e da capacidade de driblar. O grande Bayern, de Sepp Meier, Beckenbauer,  Rummenigge e Gerd Muller, veio para um amistoso contra a Máquina, no Maracanã, em 1975. Vieram para jogar contra o time de Paulo César e Rivellino e saíram desnorteados e encantados com Cafuringa, em noite de Mané Garrincha.

Atlético Mineiro e Flu, jogo decisão

Atlético Mineiro vs. Fluminense é o jogo mais importante dentre os sete que compõem a rodada de hoje da Taça de Prata. Será em Belo Horizonte, no Mineirão, a partir das 16 horas.

O Atlético, se vencer, praticamente garantirá a sua passagem para as finais do torneio. O Fluminense está em situação idêntica, porém necessita ainda mais da vitória, porque, no seu encalço, no Grupo B, estão Flamengo e Internacional. Já o Atlético tem o Palmeiras a persegui-lo, no Grupo A. E nesse mesmo grupo, também o Grêmio ainda almeja aproximar-se mais da primeira colocação.

É, portanto, uma partida entre líderes dos dois grupos. Difícil prever o resultado mais lógico, porém fácil dizer que será uma grande partida. (FSP, 29/11/1970).

Segundo jornais da época, foi mesmo um jogão. Deu Atlético, 3 x 1, com um público de mais de 58 mil torcedores. O time do Atlético que disputou a Taça de Prata de 1970 era, praticamente, o mesmo time que se tornaria campeão brasileiro de 1971:

Time-base de 1970: Renato; Humberto, Grapete, Vantuir e Cincunegui; Odair e Vanderlei; Ronaldo, Vaguinho, Lola e Tião. Técnico: Telê Santana.

Time-base de 1971: Renato; Humberto, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. Técnico: Telê Santana.

Com a derrota do Flamengo para o Corinthians na última rodada, o Fluminense, ainda por jogar, se classificaria para o turno final se empatasse com o Atlético Paranaense. Flamengo e Internacional já haviam encerrado a participação na fase classificatória e tinham um ponto a mais do que o Fluminense, mas o tricolor tinha melhor saldo de gols.

O Governo brasileiro decidiu à noite, em Brasília, não emitir nenhum pronunciamento sobre o sequestro do Embaixador da Suíça no Brasil – ocorrido na manhã de ontem no Rio – enquanto não obtiver um quadro completo da situação. As providências governamentais só serão adotadas após um pronunciamento específico dos sequestradores. (FSP, 06/12/1970)

Nesse clima, o Fluminense foi a Curitiba e empatou com o Atlético Paranaense: 1 x 1. A falta de vitórias nos cinco jogos finais da primeira fase custou a liderança do Grupo B, mas a classificação estava garantida.

Na próxima coluna, a fase decisiva do Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1970.

Até lá.

1970 – Parte I: http://www.panoramatricolor.com/1970-parte-i-por-mauro-jacome/


Mauro Jácome

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

Revisão prévia: Rosa Jácome

Fontes de pesquisa:

http://www.rsssfbrasil.com/miscellaneous/matflutpr1970.htm

(Alexandre Magno Barreto Berwanger)

http://acervo.folha.com.br

Mais diversos.

Duas vezes no céu – O novo livro de Paulo-Roberto Andel sobre o Fluminense campeão em 2012 –

http://www.panoramatricolor.com/o-tetracampeonato-em-livro-da-redacao/

6 Comments

  1. muuitoooooooooooooo bommmmmmmmmmmmmm mesmo………..parabéns……….

  2. Jorge, você já procurou na moda retrô? Tenho quase certeza que a vi lá.

    Mauro, sensacional trabalho de pesquisa! Parabéns!

    ST!

  3. mais uma coisa: belíssima essa camisa branca, com as listras na gola e na manga. Belíssima! Pra mim, a camisa mais bonita de todos os tempos.
    Quero comprar uma dessas, mas não achei.

  4. Poxa, Mauro, estava fascinado e querendo ver o epílogo. mas, você, tal qual Janete Clair, não revelou neste capítulo quem matou o galo. Vou esperar ansioso o próximo capítulo.

    1. Quem matou o Galo foi um personagem do Walt Disney. Mas só revelarei na próxima e última coluna.

Comments are closed.