Sobre Castilho e os traidores do Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

Em memória de Pedro Oliveira, Roque Marinato Junior e Sérgio de Souza Pinto

Castilho faria aniversário nestes dias, ou faz – nunca sabemos ao certo.

Falou-se pouco a respeito, o que até faz sentido. O que cerca o Fluminense atual é o desfoque de sua história, provocado por sua desastrosa gestão que fez e faz tudo para enaltecer seus feitos como os maiores de todos os tempos, por pura vaidade estúpida e, claro, algum tipo de vantagem pessoal nos negócios.

Tudo isso ajuda a entender o buraco onde nos metemos, ou melhor, onde nos meteram.

Há mais de dez anos o Fluminense vive uma farsa. Apodrecido em seu ventre administrativo, enfiado numa dívida bilionária às custas de gastos exorbitantes e irresponsáveis, manobrados por mentiras e dissimulações, o Tricolor se afastou de seu curso natural e amargou uma seca de títulos com ausência de protagonismo. Conseguiu quebrar o jejum com o bicampeonato carioca e a esperada Libertadores, mas que ninguém se iluda: as conquistas têm muito mais a força do acaso do que todos gostaríamos. O próprio presidente do Fluminense admitiu em carta pública que o título continental veio antes do esperado, a mesma carta onde se tentava explicar o inexplicável: o rombo nas contas do clube no ano de maior aporte de recursos da história tricolor.

Outrora voltado para a valorização de seus feitos históricos, o Fluminense foi manipulado por essa gente a ponto de se tornar uma empresa de fofocas, uma espécie de Rede TV do futebol, com seus vassalos patéticos em vídeos grotescos ou ainda em textos encomendados nas redes sociais. Tudo para passar uma mentira de grande gestão que jamais existiu, apesar dos títulos conquistados – muitas gestões tricolores medíocres também conseguiram esse feito antes.

A obsessão pela Libertadores e sua conquista criaram uma espécie de alienação coletiva: nada mais importava! Ganhamos o maior título de todos os tempos, tínhamos o maior time de todos os tempos e quem não concordasse “não era tricolor”. O massacre que sofremos do City não gerou qualquer auto crítica. Somos os melhores. O resultado não poderia ser outro no decorrer do tempo: um desastre. Quantos não gritaram “Ganhou a Libertadores, pode fazer o que quiser, até roubar tudo!”? Pois é…

Entramos 2024 com o elenco mais envelhecido de todos os grandes times do mundo. O planejamento estúpido garantiu a Recopa em dois jogos medíocres com a fraquíssima LDU, mas custou a perda de tricampeonato carioca ansiado há quase 40 anos, e desde então o nosso avião está em queda livre. A maior soma de dinheiro já amealhada pelo Fluminense numa temporada foi torrada, sem retorno esportivo e sem abatimento da dívida. Os resultados aí estão.

O Fluminense hoje está longe demais de Castilho porque está muito perto das sandices de gente como Felipe Melo e Marcelo, e não há museu novo com rococós da Libertadores, desprezando 120 anos de história, que engane o torcedor.

O resultado de tanta mentira resulta em mais uma luta contra o rebaixamento. O Fluminense da história real está ferido de morte, enquanto o Fluminense Fake se arrasta no Brasileirão.

Não se trata de satanizar pessoas por conta de uma péssima temporada. O caso é perceber o quanto o Fluminense poderia ter crescido desde 2010 mas não conseguiu. E o quanto ele é marcado pela mentira desde 2019.

A mentira patética, deliberada, escroque.

Um clube que sequer paga o FGTS de funcionários pode ter qual saneamento financeiro? Um clube que fajuta seus balanços descaradamente para enganar a opinião pública.

Um clube que prioriza contratar veteranos decadentes, e usa seus jovens valores como moeda de troca, tem qual perspectiva de modernização?

Alguém acha normal que os jogadores da base sempre percam posições para os exóticos “reforços”? Para o clube é péssimo, mas muita gente lucra com isso.

O clube que não pode instituir o voto on line por causa de uma gestão covarde, que tem medo de encarar a voz dos sócios em todo o Brasil, mas que os recebe com biometria no Maracanã. Hipocrisia. Canalhice. Desfaçatez.

O clube que quase chutou André porque tinha Hudson, e que dispensa jogadores por 2% do valor original. Promoção ou trapaça?

Podemos falar de Evanílson? De Metinho e tantos outros?

Vamos falar de Live Sorte?

Se tudo no Fluminense está correto, será que seus dirigentes teriam coragem de abrir seus sigilos fiscais e bancários, por exemplo?

Quem naturalizou todo esse processo precisa ser chamado do que realmente é: traidor da pátria tricolor.

Chega de mentiras. O Fluminense está gravemente doente, sob risco de passar a maior vergonha de sua história.

Rebaixamento em 2024, depois de torrar a maior fortuna recebida em 122 anos, é mil vezes pior do que todos os rebaixamentos dos anos 1990. Imagine hoje com internet o quanto as crianças tricolores não serão humilhadas, em caso de descenso.

Mesmo doente, o Fluminense conseguiu fazer o que sempre fez: ganhar títulos. Agora, a Libertadores não pode servir como escora para uma gestão irresponsável, temerária, arrogante e mentirosa, que coloca o clube em risco de destruição. Chega dessa estupidez! O Fluminense é muito maior do que a Libertadores – quando ela começou, o Flu já tinha quase 60 anos de história.

O Fluminense precisa de tratamento urgente. Sua cura passa por derrubar a doença que é essa gestão. Ela precisa ser debelada, aniquilada, antes que o clube seja entregue a troco de banana numa SAF fajuta para sugar seus últimos recursos.

Chegando até aqui, a gente percebe o quanto o Fluminense está longe de Castilho no dia a dia.

Chega de tanta farsa. Chega de traidores da pátria tricolor.

Não nos subestimem.

2 Comments

  1. Já não há esperanças, nem a curto, nem longo prazo. Completo amadorismo ou o que é pior: gerado pelo oportunismo. E nem Saf resolverá: o MB está armando pra ser o CEO. Seguiremos com veteranos, vendendo jovens a preço de banana e enriquecendo os dirigentes, sendo alegria dos empresários. Este ano só vi os jogos do flu, e caminha pra não ver mais nada. Cansei. ST.

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