Yitzhak Rabin foi um general e político israelense, um dos ganhadores do prêmio Nobel da Paz de 1994 por ter se engajado na aprovação do Acordo de Paz de Oslo, que deu origem à Autoridade Nacional Palestina e por seus esforços de paz com os países do Oriente Médio. Foi assassinado durante um comício em 1995 por um estudante de extrema direita que se opunha às tratativas de Rabin com os palestinos e outros povos árabes.
Pedro Abad é presidente do Fluminense e tem se engajado na luta pela paz no futebol em um dos estados da federação mais violentos do país. Para isso, propôs recurso juntamente com o C.R. Flamengo para que uma liminar desarrazoada que limitava o público nos clássicos regionais a uma só torcida fosse derrubada. O recurso jurídico alcançou seu objetivo e a decisão da Taça Guanabara será realizada com as duas torcidas. Ontem pela manhã, os dois presidentes, reunidos nas Laranjeiras, deram uma coletiva para anunciar o sucesso no recurso e a logística da partida.
Ninguém o atingiu com um tiro, mas rajadas de ódio foram disparadas contra a ação do mandatário Tricolor.
Palestinos e judeus, tricolores e rubro-negros, o que têm a ver? Absolutamente nada. Política, religião e esporte não se misturam, ou não deveriam se misturar. Assemelham-se, contudo, as situações quando tratamos dos radicais, cujas ações odiosas, guardadas as devidas proporções, são perpetradas no sentido de que a paz não se estabeleça, seja no campo de batalha, seja no campo esportivo.
É esse grupo que ostensivamente proclama que o Fluminense deveria pensar somente em si, e que a atitude de Abad se assemelharia a uma heresia.
Flamengo e Fluminense sempre foram rivais dentro de campo. Não há dúvida, também, de que o clube da Gávea, apoiado pela imprensa fiel, já agiu ostensivamente para prejudicar-nos em mais de uma oportunidade. E o que tem o Fluminense com isso? O presidente Abad, quando interpôs o recurso contra a decisão da torcida única não o fez pelo rival, embora tal decisão o favorecesse. Fez por seus princípios, pela tradição fidalga do Fluminense, pela coerência com o princípio de que o futebol se faz com times, mas também com torcidas, fez pelo espírito do esporte, fez por Oscar Cox, fez sobretudo pela paz.
O Fluminense, assim agindo, inclusive convidando o presidente rubro-negro a respirar o sacrossanto ar das Laranjeiras, deu um exemplo formidável de como clubes arquirrivais dentro de campo podem conviver em harmonia fora dele. Pela grandiosidade das partes envolvidas, pelo tamanho das rivalidades, essa manifestação conjunta pode ser considerada, talvez, a mais relevante já realizada no futebol brasileiro e o marco inicial para que a paz gradativamente retorne ao futebol.
Utopia que seja, prefiro um gesto dessa grandeza ao que um dirigente do próprio rubro-negro protagonizou nas redes sociais logo após a festa do Oscar. Ninguém precisa desse tipo de boçalidade que, menos do que ser engraçada, aguça os ódios dos já predispostos à violência.
Se do lado de lá há sinal de boa vontade, ótimo. Se já na semana que vem não houver, ótimo, também. O que verdadeiramente importa é o Fluminense agir de acordo com seus princípios de ética e moral, buscando, ainda que juridicamente, a reparação de qualquer injustiça perpetrada contra a instituição, contra o seu torcedor, contra todo o torcedor.
O Fluminense, vale repetir, não lutou pelos interesses do Flamengo, buscou a realização de sua própria história de lutas pela ética desportiva. Calar-se diante disso por interesses menores – e qualquer outro interesse seria menor – mancharia indelevelmente a nossa reputação futebolística, nossa imaculada reputação que muitos ainda tentam e teimam em denegrir.
Tínhamos o direito ao nosso lado, mas abrimos mão dele para lutarmos por Justiça. Lição dada a todo o Brasil e, inclusive, ao Flamengo. Tenho a certeza de que robustecemos ainda mais a nossa dignidade e que, lá na Gávea, eles devem ter aprendido que “roubado não é mais gostoso”. Se isso aconteceu, somos vitoriosos duas vezes.
E que a Taça Guanabara seja de quem a merecer, de fato e de direito.
Panorama Tricolor
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Perfeito!
Penso igualmente. Paz e rivalidade. É possível sim. Segue.tc