O Fluminense de Marcão é o projeto de não time (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, quem, como eu, esperou uma escalação lúcida do Fluminense na noite de ontem, no Alfredo Jaconi, recebeu com cara de tacho mais uma escalação delirante do nosso aprendiz de não treinador.

Eu digo “aprendiz de não treinador” porque Marcão tem se esforçado para levar à frente o projeto de não time do Fluminense. Para isso, é preciso ser um não treinador, condição que Marcão vem assumindo com até então insuspeita competência.

Deve ser produto de alguma espécie de conspiração secreta do Sobrenatural de Almeida o fato de Gabriel Teixeira e Luís Henrique terem ficado de fora desse jogo, ambos por questões musculares. Gabriel Teixeira jogou 45 minutos de um segundo tempo depois de mais de um mês parado.

Era o que Marcão precisava para satisfazer seu desejo reprimido de atuar pelas pontas com os criativos, impetuosos, rápidos e talentosos Caio Paulista e Lucca.

Sim, amigos, amigas, o Fluminense atua com pontas. Pontas que não sabem fazer um mísero cruzamento, que encontram no trato com a bola um desafio quase que intransponível. Pois Marcão ainda teve a inventividade de tirar John Kennedy de campo, o único dos três com talento, para pôr em seu lugar Abel Hernández após o intervalo.

Aliás, foi a ideia “sem pontas do Marcão”, que também tirava Caio Paulista para fortalecer o meio com Cazares. Confesso que fiquei com a impressão de que a ideia era algo como jogarmos no 4-3-1-2, com Lucca e Abel Hernández atuando próximos e por dentro, mas não deu tempo para explicar, porque Marcão resolveu colocar o potente e desinibido John Árias, que, como de praxe, nada acrescentou ao time.

O saldo foi que trocamos, taticamente, um volante por um meia de criação, o que podia ser feito com uma e não com três trocas, se, claro, era esse o propósito.

Depois de atuação descomunal na partida de ontem, quando atuou durante os 90 minutos brigando ferozmente com a bola, Lucca deve ter conquistado para sempre seu lugar no coração de Marcão. Mas podem esperar que o prêmio será nosso, provavelmente assistindo a uma escalação com Lucca, Caio Paulista e Fred no ataque. E é essa a escalação que Marcão nos pede para apoiar no estádio.

Mas se até o Nino acha que perdemos por um detalhe um jogo em que o adversário meteu de bola na nossa trave para baixo, como pedir realismo justo do técnico, que vive sua fantasia e delírios do não time do Fluminense?

O Fluminense é o não time. Porque não tem escalação, não tem padrão de jogo, não tem objetivos, ambição ou propósitos. Todos são muito unidos e animados. Eles só não sabem o porquê e o para que.

Não se pode dizer que Marcão esteja inventando a roda. Ele só desfila serelepe pela beirada do campo na carruagem de delírios que sobre as rodas transita. A roda foi inventada lá atrás, quando critérios técnicos e realistas foram substituídos por critérios como: “é o meu sonho vê-lo terminando a carreira pelo Fluminense”, “ele é o nosso Gum”, “é um cara bom de vestiário”, “o pai dele é feio, chato, bobo e ruim” e outras disfunções cognitivas futebolísticas.

Como a que levou o Fluminense a pagar R$ 8 milhões por 50% do Caio Paulista. Isso, amigas, amigos, se não é assunto para páginas policiais, tem que pelo menos figurar naquele quadro do programa do Silvio Santos em que ele sugeria à criança a troca de um mustang por um par de meias e vinha aquela voz esganiçada lá de dentro: SIMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!

E ainda chamavam aquilo, se não me engano, de “Domingo Legal”.

Aliás, nossos jogadores são muito unidos, exceto quando a bola rola. A partir desse momento, é um distanciamento tal, que parece que Marcão instaurou um lockdown no time. Pelo menos entre o meio e o ataque, entre um ponta e outro e entre o centroavante e os volantes. Volantes e centroavante se encontram três vezes no estádio: antes, no intervalo e depois do jogo, sempre no vestiário. Entre eles tem aquele enorme espaço desabitado do campo, que, irônica e involuntariamente, já foi graficamente retratado pelo infográfico de um grande veículo de mídia.

O propósito do infográfico era mostrar nosso desenho tático. Você olha e, desiludido, rapidamente conclui que aquilo não tem a menor possibilidade de dar certo. Ali, naquele deserto de tricolores, é onde transita o “camisa 10”, essa figura tão desprezada no futebol atual. E aqui no Fluminense nós temos o Cazares, que é um dublê de camisa 10, que atua melhor pela ponta direita e que é incompatível com os 45 minutos iniciais de jogo. Ou seja: é um camisa 10, que não é tão camisa 10 assim, com quem a gente só pode contar no segundo tempo.

São coisas desse Fluminense não time. As coisas são assim com o propósito de serem disfuncionais e viabilizarem as maiores atrocidades nas escalações e substituições.

Antes de escrever minha crônica, li a sempre brilhante análise do Edgar. É leitura obrigatório para quem quer entender um pouco essa coisa tão difícil de entender, que é o Fluminense, que, aliás, quem parece ter entendido muito bem foi o meu amigo Fleury, que escreveu uma crônica de um parágrafo e quatro linhas.

Amigos, amigas, não pode haver nada mais apropriado para servir de análise de um jogo do Fluminense do que um artigo com um parágrafo e quatro linhas. Não digo nem que seja ironia. É precisão mesmo, porque esse trabalho feito pelo departamento de futebol do Fluminense merece até menos. Certamente, as quatro linhas escritas foram fruto de nada mais que generosidade.

Generosidade que Marcão não tem com o torcedor. Quer apoio, mas não há hipótese de escalar um time capaz de produzir um bom espetáculo, que seja.

Saudações Tricolores!

1 Comments

  1. Savioli, não há um pingo de estratégia ou movimentação planejada, todo tempo corre_ se de forma atabalhoada e o Flu é envolvido pelo adversário sempre. Marcão não pode ser tecnico nem de time de condomínio, muito menos do Flu. Vamos ver o Am. MG e Cuiabá na libertadores e nós nem na sula. ST….

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