Amigos, amigas, a “teimosia” acima dos propósitos cobra sempre um preço alto. Pode ter parecido a alguns que as duas vitórias seguidas contra adversários desmantelados, em partidas no máximo equilibradas, era indicador de uma jornada ladeira acima rumo ao G-6 e, quiçá, ao G-4.
Está sempre sujeito a ser tragado por armadilhas aquele que se acomoda com o que aparentemente está dando certo. Vale lembrar que o Fluminense, antes das referidas vitórias, havia percorrido um trajeto cheio de tropeços e derrotas, perdendo para Fortaleza e Corinthians, assim como empatando com o Atlético GO em casa.
O Fluminense ainda está longe de apresentar um futebol que transmita confiança e que, portanto, justifique não buscar aprimoramento, que só virá com mudanças e não com insistência naquilo que no máximo produz alguns resultados que mal refletem o andamento das partidas.
O Fluminense poderia ter começado o jogo com grave revés se Marcos Felipe não houvesse feito uma defesa espetacular. Aliás, não é a primeira vez que o Fluminense se safa de começar as partidas sendo vazado graças a intervenções milagrosas do nosso goleiro ou bolas que parem na trave. Dessa vez, foram as duas coisas numa mesma jogada, em que nossa defesa permitiu que o atacante cabeceasse quase de dentro da pequena área num lance de bola parada.
O Santos veio para a partida num 3-4-3, um esquema que só faz sentido se para atuar com linhas avançadas pressionando o adversário, pelo menos no meu entendimento. E foi o que o Santos fez, contando com a energia pulsante que vinha da arquibancada, disposta a empurrar o time para fora do buraco em que anda metido.
O Fluminense repete a dose das últimas jornadas, baixando as linhas e deixando John Kennedy isolado na frente. Para piorar, tenta fazer a transição com bolas longas. É claro que há mérito na pressão santista, com jogadores que entregaram boa qualidade técnica e uma disposição de quem disputava uma final de campeonato, enquanto o Fluminense parecia não entender o jogo que estava jogando.
Antes do jogo, na live do Panorama, assim como na minha última coluna e na participação do pós jogo do Fla-Flu, eu já cobrava que Marcão tirasse Caio Paulista do time e colocasse Martinelli. Quais as razões? A primeira delas é que, no meu entendimento, um jogador como Martinelli não pode ficar no banco de time nenhum do futebol brasileiro. A segunda razão é a performance de Caio Paulista desde o retorno da lesão que o afastou por intermináveis semanas da equipe. Para terminar, com Martinelli o Fluminense ganha qualidade na transição e aproximação dos volantes da área ofensiva.
A dar suporte à minha tese, temos aqueles minutos do Fla-Flu em que o Fluminense atuou exatamente dessa forma, momentos em que estivemos próximos de conquistar uma goleada, tamanha a superioridade que criamos no meio de campo. Contra o Santos, mais uma vez tivemos a impressão de que o Fluminense jogava sem meio de campo, até porque Árias não fazia a ligação entre meio e ataque por dentro.
A ideia de Marcão era forçar o jogo pela esquerda, com Luís Henrique e Árias atuando próximos, deixando Caio Paulista a atuar, de forma apagada, pelo lado direito. Talvez Marcão tivesse a ideia de sacrificar nosso principal ponto forte ofensivo, que são as ações de Luís Henrique pelo lado direito, para tentar ressuscitar o futebol de Caio Paulista, quue ninguém sabe se existe mesmo ou se foi uma invenção da nossa imaginação, a tal ponto de justificar o clube investir R$ 8 milhões na compra de 50% dos seus direitos, isso após ter feito uma prorrogação de empréstimo sem cláusula de compra. Nesse caso, não dá nem para dizer que o Fluminense tirou alguma vantagem, exceto o negócio tenha sido um meio indireto de pagar dívidas com seu empresário. Do ponto de vista técnico, que é o que interessa, não há nada que justifique algo assim.
Razão pela qual Marcão talvez insista tanto em Caio Paulista como titular, de modo a tentar justificar o injustificável. Ao final da partida, a explicação era de que Caio Paulista se dedica muito e que tem certeza de que ele voltará a jogar o futebol que nós, muito provavelmente, imaginamos que ele jogava. Tomara que sim, que nossa imaginação não seja só imaginação, mas o time titular não é casa de recuperação de atletas. Que fique no banco, entre quando necessário e, se voltar a jogar num nível que justifique sua titularidade e isso for viável taticamente, que volte a ser titular. Eu não consigo enxergar outra forma de se fazer futebol.
Perdendo de 1 a 0, Marcão não trocou peças no intervalo, mas adiantou as linhas e conseguiu quebrar a transição santista. É verdade que o time subiu assustadoramente de produção. Os intermináveis chutões para a frente foram substituídos por uma transição feita de pé em pé, frustrando todas as tentativas do Santos de realizar desarmes na pressão. Com isso, o Fluminense foi empurrando o Santos para trás e Luís Henrique quase empata em ótima trama do nosso ataque.
Parecia que agora as coisas estavam nos seus devidos lugares e que o Fluminense empataria e viraria o jogo, já que o Santos não mostrava ter recursos para mudar a trajetória do jogo. A partida se desenvolvia tão nas imediações da área santista, que Marcos Felipe, após um chutão da defesa do Santos, veio interceptar a bola no meio da nossa intermediária. E aí vem a segunda ação desastrada da noite. Marcos Felipe fez um lançamento, só ele sabe para quem, dando velocidade e quase nenhuma altura à bola. O resultado não poderia ter sido pior. A bola é interceptada pela defesa santista e o contragolpe pega nossa intermediária toda escancarada. Num quatro contra dois, o Santos chega fácil à nossa área e Diego Tardelli marca dentro da pequena área, escorando o passe da direita.
Daí em diante, Marcão mexeu muito no time, nos deixou com quatro atacantes, nosso domínio se tornou pouco produtivo e o Santos segurou bem o resultado até o final.
Não, a primeira ação desastrada da noite não foi a falha de Marlon no primeiro gol do Santos. Seria tirar o mérito do lançamento perfeito do meia santista para Madson. Sim, Marlon errou, mas tem muito mais mérito do lançamento e do deslocamento perfeito do atacante do que no erro.
O primeiro desastre da noite foi o cartão amarelo infantil recebido por John Kenedy, ao revidar uma entrada mais dura de um atleta santista. Começo a ter pesadelos imediatos com a possibilidade de termos Fred ou Bobadilla no comando do ataque, com o prestimoso auxílio de Caio Paulista. Se Marcão não teria de onde tirar explicações para barrar John Kenedy e promover o retorno de Fred ao time titular, a oportunidade surgiu com a boca arreganhada e todos os dentes à mostra.
É a mesma lição mais uma vez, para não ser redundante. Marcão acredita que a única coisa que justifica uma mudança no time é uma sequência de resultados ruins. O que justifica uma mudança é a possibilidade de melhorar, mesmo quando os bons resultados maquiam a mediocridade. As oportunidades passam debaixo de seu nariz e ele não percebe. Não percebe que não há nenhum sentido em um time como o Fluminense passar 45 minutos oferecendo a bola e sua intermediária ao adversário, esperando a benção de uma bola vadia ou a sorte da bola não entrar no nosso gol.
Era para ter começado o jogo com Martinelli no lugar de Caio Paulista, com Árias mais aberto pela esquerda, enquanto o próprio Martinelli e Yago se aproximariam do ataque por dentro, com o suporte de André auxiliando a construção de jogo, tirando a responsabilidade dos ponteiros de serem os que criam as jogadas e ainda precisam chegar na área para finalizar.
Era para ter começado o jogo buscando o domínio da meia cancha, marcando em bloco médio, como fez no Fla-Flu, após a entrada de Martinelli no lugar de Caio Paulista, e como fez ontem desde o início da segunda etapa. É assim que o Fluminense joga bem e – olha que curiosidade – concede menos oportunidades de gols ao adversário, enquanto criamos as nossas.
É difícil ver isso ou é mais importante defender as próprias teses estratégicas?
Saudações Tricolores!