Há valor em uma desclassificação?
Esperei um dia inteiro para escrever este comentário de cabeça fria, com menor carga emocional para evitar falar bobagem e ser injusto.
Hoje, mais conformado e aparentemente entendendo melhor o que aconteceu em Assunção resolvi escrever sobre o jogo, Vamos lá.
Parece que o nosso glorioso Fluminense não assimilou as duras lições das finais da Libertadores de 2008 e da Sul americana de 2009. Lembro-me bem que naquela Libertadores o Renato Gaúcho fez um discurso prepotente depois de ser derrotado em Quito por 4 x 2. Primeiro, o Flu se preparou muito mal para o jogo. Acreditando que era mais forte que a LDU (o que era verdade) minimizou os efeitos da altitude e só chegou em Quito na véspera do jogo. Falou que a altitude não afetaria os jogadores a ponto de influenciar no resultado do jogo, dada a superioridade do seu elenco. Depois do jogo, derrotado por 4 x 2, disse que bastava fazer dois gols no Rio que o Flu seria campeão, tarefa que considerava fácil por ter um time mais qualificado. O primeiro e crucial erro do RG foi não entender que placar necessitava no Rio. O Flu precisava fazer três e não apenas dois gols para ser campeão. A sua mensagem parece ter calado no inconsciente dos jogadores do Flu, que, ao fazerem o placar de 3 x 1, reduziram o ritmo do jogo e o levaram em banho-maria até o final do tempo regulamentar um jogo que tinham nas mãos. Resultado: frustração da torcida.
Agora o Abel repete o mesmo discurso sem de dar conta que as palavras têm força e que o pensamento do líder, do comandante, permeia o grupo e define a forma de encarar a o desafio, no caso a partida de futebol. Assim como o RG, Abel declarou aos quatro cantos que o placar de 0 x 0 em casa não era um mal resultado. Os anjos disseram amém. O seu desejo parece ter impregnado a mente dos atletas, que aceitaram o empate sem gols com enorme conformismo, dado que não agrediram o Olimpia como se esperava para construir uma diferença que desse conforto ao time na partida de volta, como a LDU fizera em 2008 e 2009. Assim como os placares das primeiras partidas nas finais de 2008 e 2009, o 0 x 0 determinou a desclassificação do Fluminense, principalmente pela forma como o time se comportou em Assunção. O Fluminense tem um elenco muito melhor que o Olimpia e dominou os dois jogos, mas, como tem sido corriqueiro, não fez os gols de que necessitava, do mesmo modo como em todos os jogos contra clubes grandes neste ano, senão vejamos: perdemos do Grêmio por 3 x0 no Rio e empatamos em 0 x 0 em Porto Alegre. Perdemos do Flamengo, do Vasco e do Botafogo no Carioca, com grave deficiência de gols. E agora fizemos apenas um mísero gol em 180 minutos de partida contra o Olimpia, e mesmo assim graças a um erro da defesa adversária, gol feito pelo jogador mais improvável. É muito pouco para quem tinha pretensões de ser bi no Carioca e se classificar na Libertadores.
Sorte do Atlético Mineiro, azar do Flu
A sorte que esteve do lado do AM nesses dois jogos contra o Tijuana faltou a Flu. No primeiro jogo no México, empatou nos acréscimos e ontem o goleiro fez uma defesa milagrosa no pênalti que decretaria sua desclassificação. Enquanto isso, o Flu levou dois gols em jogadas evitáveis: o primeiro, uma falta desnecessária e um erro do goleiro; o segundo, fruto de um pênalti inexistente, além de não ter um pênalti marcado a seu favor. Coisas do futebol!
Saldo da desclassificação
Acho injustas e perigosas as críticas ao time e ao Abel neste momento delicado. Erros acontecem, partidas se perdem. Enquanto a torcida do Corinthians abraçou o time na volta depois da desclassificação, algumas pessoas da nossa torcida estão colocando muito carga e culpa nas costas do elenco e do treinador. O momento é de tristeza sim, mas estamos no início do Brasileirão e o time precisa recuperar sua autoconfiança para buscar o penta ou a classificação para a Libertadores de 2014. Se os jogadores baixarem a cabeça e não encontrarem a torcida nos estádios nos próximos jogos no Rio corremos um sério risco de passarmos em branco em 2013. Portanto, vamos curar a nossa ressaca, entender que futebol tem momentos de frustração, mas que há compensações que podem ser conquistadas se nos mantivermos no racional e não exagerarmos nas críticas, sobretudo quando sabemos que podemos reverter o quadro.
A Diretoria do clube e a Comissão Técnica precisam repensar a estratégia de 2013 e reconsiderar a idéia de que o time não precisa de reforços. Como tenho dito e repetido, a nossa defesa é fraca e o meio de campo depende muito do futebol do Deco, que parece ter esgotado sua condição atlética para continuar jogando. Precisamos reforçar esses setores com urgência. O ataque está falhando porque não estamos sabendo conduzir a bola da defesa para o ataque e estamos errando passes em demasia, em especial aquele que coloca o Fred em condição de arrematar para o gol. A saída do Abel neste momento seria altamente prejudicial ao time. Não vale a pena trocar o Abel por um Joel Santana, um Renato Gaúcho ou um zé-ninguém qualquer.
Jorge Dantas
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Rumo ao penta Fluzão.
st