São 40 anos do bicampeonato brasileiro com um time histórico, Casal 20 emblemático, Carlos Alberto Parreira como técnico. Difícil colocar em ordem de importância tudo isso. Foi a união de um monte de detalhes e mais algumas coisas que fizeram o Fluminense campeão brasileiro de 1984, no meio do caminho de um tricampeonato estadual. E dessa época tenho memórias muito vivas em mim. Porque deixo meu passado me abraçar, gosto de relembrar. Sou dessas.

Sempre detestei matemática, professores de matemática, aulas de matemática. Até chegar o professor Élcio, no Colégio Hélio Alonso. Ele era terrível. Já entrava em sala de aula esmurrando a porta e gritando: “Coloquem na folha…nome, número e turma”. Pronto. Era mais uma prova surpresa de álgebra ou trigonometria. Élcio tinha um único jaleco de dois bolsos, onde guardava suas pastilhas da Garoto. Fumava pra caramba.

Das suas aulas lembro muito pouco. Mas fui descobrir a paixão do mestre pelo Fluminense no day after daquele título brasileiro, quando surgiu com a camisa tricolor por baixo do jaleco surradinho. Melhor ainda, lembro dele zoando os gêmeos vascaínos e a maioria rubro-negra.

Élcio era uma figuraça. Ele chegou a fazer uns cálculos de quantos metros foi o lançamento do Delei para o Assis marcar na saída do Raul, em 1983; de quanto o Aldo correu antes de cruzar para o nosso 10 cabecear no gol do Fillol em 1984 e, qual a velocidade da bola na cobrança de falta do Paulinho em 1985. Era o tricampeonato em números redondos, de uma ciência exata que, até então, eu detestava. E quando alguém contestava, ele perguntava: Qual seu time? Se não fosse tricolor, ele replicava: “Fica quieto, meu filho. E aprende”. Entre um cigarro e outro, mais uma prova surpresa. Só que já não me apavorava mais e, por incrível que pareça, aprendi um pouco de matemática. Até porque ele bolava umas letras com músicas de torcida pra gente decorar as fórmulas. Só que, 40 anos depois, desculpe, mestre. A memória falhou.

Quando comecei a lembrar dos dois jogos da final contra o Vasco e daquela campanha inquestionável, me veio o mestre Élcio, seu jaleco, suas provas, seus cálculos, sua paixão pelo Fluminense. E a certeza de que tudo no Tricolor é inesquecível.