A entrevista alienígena de Abel (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, a entrevista coletiva de Abel Braga após a vitória sobre o Botafogo tem um quê de alienígena que é muito difícil de digerir. Sua postura arrogante e até agressiva em relação às perguntas feitas pelos jornalistas, como se fosse uma espécie de “mestre dos magos” do futebol, me incomodou profundamente, principalmente porque, apesar de ser famoso por vira e mexe falar umas besteiras que acabam ecoando (temos zagueiros para seis anos, 0 a 0 é melhor que 2 a 1, e por aí vai), o tom adotado jamais foi esse.

Ao afirmar que Samuel Xavier estava bem, ele desafia a nossa inteligência para proteger um lateral direito de 30 anos que já deveria ter se acostumado às críticas. Ao falar de “ano político” para justificar as críticas ao time, ele parece esquecer que, há dois jogos, estava falando de fechar a casinha para poder garantir resultado contra o AUDAX. Por último, a afronta no que tange à figura do baladeiro Caio Paulista, dando a entender que não importa a opinião da torcida em nada. Grande erro, Abel.

Foi a torcida que, muitas vezes, segurou você no colo, principalmente durante a sua tragédia familiar. É certo que você foi vitorioso aqui, mas deveria acompanhar o que a torcida cansou de fazer durante os momentos de crise, em que estávamos à beira do precipício. Você pode ter sido formado no Fluminense, Abel, mas não é mais tricolor que a torcida do Fluminense inteira, que vive pelo time e respira as três cores que traduzem tradição desde que nasceu.

Muito se falou em respeito, de que era necessário deixar Abel trabalhar e “respeitá-lo” por ser uma figura veterana e vencedora, e também por conta da sua idade avançada. O problema é que respeito precisa ser conquistado, não exigido, e essa é uma das principais confusões que a sociedade parece fazer a respeito desse tópico. Quando Abel ganha títulos pelo clube, fala que o Fluminense é foda e que o torcedor é soberano, ele ganha nosso respeito. Quando dá entrevistas ridículas como esta última, ele perde. É assim que funciona.

É triste constatar que Abel Braga tenha se rendido ao discurso raso da blindagem do elenco, críticas às vaias, exaltação à diretoria e arrogância extrema. Que nem mesmo se dê ao trabalho de explicar a razão de Nathan passar a ser preterido e Ganso não ter sido opção uma vez sequer, apesar de Arias ter aproveitado bem as suas chances. A sensação de que o time está rendendo abaixo do que pode já nos persegue há anos. Com um elenco melhor, era de se esperar que isso mudasse. Ledo engano.

Por fim, em cerca de pouco mais de uma semana faremos a estreia na segunda fase da pré-Libertadores. E, dependendo das escolhas para a altitude, pode ser que precisemos fazer o resultado no Rio para garantir a classificação. Dessa forma, não acho muito sábio peitar a torcida num momento como esse, podendo precisar dela daqui a algumas semanas. No fundo, Abel, você não ganha e perde com a sua cabeça, não. Você ganha e perde com o Fluminense, que é a religião de milhões de abnegados. A sua responsabilidade não é apenas com o seu elenco, e você, depois de décadas nesse meio, já deveria saber bem disso.

Curtas:

– Gabriel Barbosa e Flamengo já denunciaram o caso de suposto racismo numa delegacia? Acredito que já houve tempo hábil para tal… né? Afinal, a reclamação sobre a arbitragem (correta) do Fla x Flu de domingo foi protocolada à FFERJ no mesmo dia. Prioridades.

– Teve alguma nota oficial do Flamengo ou pedido de abertura de inquérito para investigar os cânticos homofóbicos da torcida rubro-negra inteira no Engenhão? Não? Ah.

– Nunca vi um castigo tão certeiro quanto o ocorrido após o intervalo do clássico da última quinta. Enquanto os menores do Rio ensejaram cânticos para remeter ao nosso pior momento do século passado, o Fluminense virava o jogo e derrubava mais um técnico.

– O Fluminense, que já jogou e ganhou dois clássicos, está numa situação bem confortável para se classificar para a fase semifinal do Carioca. Não será nenhuma surpresa que lidere em breve a competição, visto que os rivais ainda vão se enfrentar. Apesar da Portuguesa ser meio carne de pescoço (é a melhor dos pequenos), os dois adversários da sequência, Nova Iguaçu (quarta) e Volta Redonda (sábado), são os piores times do campeonato. Ótimos confrontos e um bom treinamento para a partida da Libertadores que ocorrerá na outra semana.

– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 2 x 0 Portuguesa; Nova Iguaçu 1 x 4 Fluminense; Fluminense 3 x 0 Volta Redonda.

1 Comments

  1. Fala parça.
    Ausente, problemas diversos, me afastam daquilo que gosto. As vezes vc tem que estar atuando, participando, contribuindo, mas a continuidade é incerta.
    Deixa pra lá.
    Sem comentários, pra mim, Yago já é titular na Lateral direita. Como pode perder posição para um improvisado. Teremos que aturar o gagá Abel e torcer pra que os outros errem mais que ele.
    St.

Comments are closed.