Zanzifest 2017 (por Alva Benigno)

Não quero lhe falar do meu grande amor, nem de mágoas, rancores e podres poderes. Errei, copiei o que não devia, sou humana. Quero deixar minhas desculpas a quem se ofendeu.

Estou de volta. Este é o meu país.

E QUEM NÃO GOSTOU DA MINHA VOLTA QUE SE FODA.

ATO 1

Zacarias del Botox

Chiquinho, com um traje digamos kistch, adentra gloriosamente as Laranjeiras de mãos dadas com Esmeralda, em vestido que pode ser classificado como de gosto duvidoso. Após a passagem triunfal pela roleta, o casal adentra o club. Parecem satisfeitos e felizes. Dão adeusinhos para sócios antigos, aceitam tirar fotos com subcelebridades, sorriem, ostentam alto astral.

Ao passar pelo Bar dos Guerreiros e subir as escadas da glória, CZ vê um de seus desafetos mais curiosos, um personagem das redes sociais conhecido nos arredores (e na sauna) pelo inusitado apelido de Zacarias do Botox. E o velho Chico repara o andar um tanto exótico do transeuntes que, num instante, vira-se e posiciona suas pernas tal como um integrante do eterno grupo Dzi Croquetes. A risada caótica precede um cutucão em Esmê e a pergunta: “Darling, esse esquisitão ali da frente tem culotes ou usa silicone na cloaca?”. A esposa é implacável: “Zanzi, não seja indiscreto. Hoje em dia existem calcinhas com enchimento, forro, pode ser isso ou cuecas também. Vamos respeitar a diversidade.”

O velho começa a rir. Adentra o salão, é bajulado como um prócer do club, um claro candidato à beneverência. O homem que botou K. Pacett para correr, o homem que reduziu o colérico Agaynaldo Happybath a nitrato de pó de merda, o Macunaíma Tricolor – o anti-herói sem caráter algum. Altivo, supremo, Zanzibar está convicto de seu poder: interfere em eleições, humilha blogayros vendidos, fala barbaridades alto. A olhada não foi à toa. Chico recebeu prints onde Zacarias o insulta, fala mentiras sobre o velho e posa de machão porradeiro. E resolve sua primeira vingança na Floofest.

Deixa Esmê conversando com uma senhora vetusta, branca, de bem, em nome de Deus contra a corrupção. Vai em direção ao desafeto. Os olhares se encontram:

– Você é o tal Zacarias do Botox?

ATO 2

O lutador na pista

AGonzalez, o inimigo número um do MFT (Movimento dos Feiosos Tricolores) e da Flubbk (Associação de Cronistas Analfabetos do Club), desfila pelo ambiente do Saloon Nobre com seus braços nodosos e o crânio raspado à navalha, vestido a camiseta do Sobranada (uma nova ordem filantrópica tricolor). Também um desafeto de Zacarias do Botox, ele fita o exato momento em que Chiquinho Zanzibar, seu admirador, aborda o esquisito senhor que traja calcinha com forro.

O velho Chico sempre no caminho.

ATO 3

Chiquinho fala de longe que é bom rever AGonzalez, mas não recebe uma resposta amistosa do lutador, que praticamente ruge e vai na direção de Zacatox. Olho no olho, dispara: “Bundão”. Precavido, o exótico tricolor da calcinha com enchimento não apresenta qualquer réplica: sabe onde pode chegar.

Francisco da Zanzibar dispara sua risada caótica enquanto a música come solta no baile e Esmê dança nas revoluções profundas do frontman Paulo Ricardo. E grita para Zaca: “Tira essa peruca, criatura! Deixa de ser ridículo: isso aqui é a festa do nosso club, e não um point de pegação para entendidos. Acordado pelos dois bandeirantes do pedaço, Zaca se afasta e meio que sai em passos serelepes, como se fosse um coreógrafo do conjunto estadunidense Village People, com altos teores rebolativos estilo musa da bateria. Antes de descer a bela escada, escuta quatro vezes “Bundão, bundão” e, de longe, vê a risada de seu desafeto e adversário da sauna.

EPÍLOGO

Cara a cara, o lutador careca e o velho safado se encontram.

– Não importa o que disserem, sempre te admirarei. Poucos têm a sua essência. Assim como falam muito de mim, também falam de você. É coisa de gentinha hipócrita, medíocre, frígida de corpo e alma, gente que não sabe o que é uma verdadeira transa total.

– Vá atrás do Zaca e pega na calcinha forrada dele, porra!

– Eu gosto de classe. Suburbano boiola rebolando não faz meu tipo.

– Toma vergonha na cara, seu safado.

O velho chora de rir. Esporro de seu ídolo é quase um poema para os ouvidos. Enquanto isso, Zacatox está no outro lado do club, se aproximando da sauna em busca de um olhar 43.

(Continua)

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Polly