Xerém para todos os gostos (por Claudia Barros)

Recém-chegada a Brasília, lá pelos idos de 1993, fui a um supermercado em busca de xerém. Queria fazer aquela iguaria que tão bem representava minha terra e meus costumes.
Qual foi a minha surpresa quando, ao procurar por xerém naquele mercado tradicional da Asa Norte, deparei-me com a seguinte afirmação:

“Ah, o que você quer é quirela! E está na seção de comida para pássaros”.

Descobri que aqui, na cultura da região central do Brasil, xerém, aquela comida excepcional e que funciona como uma excelente e deliciosa base, é “apenas” comida de passarinho.

Xerém é uma espécie de papa, feita com milho triturado, cozido por horas no leite, onde se acrescenta sal. Após horas de cozimento, sempre acompanhado de perto por quem pilota o fogão, sob pena de queimar, surge uma massa com perfume especial, sabor maravilhoso e textura incomparável.

Para acompanhar, qualquer proteína da sua preferência.

Pois bem, esse é o meu xerém.

Mas há outro xerém do qual eu não apenas gosto, mas torço, vibro e brigo.

É a casa de fazer craques do Fluminense. É o Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras, localizado em Xerém, distrito de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

E a produção de jogadores do Fluminense, oriunda das bases do clube, protagonizou nessa semana uma epopeia no tradicional estádio Defensores del Chaco, na bela Assunção, no Paraguai.

Com grandes atuações de André e Alexsander, coube a John Kennedy o protagonismo da noite, junto com o fantástico Cano, o argentino dos dois LLs.

Se xerém é a base para a proteína do seu agrado, Xerém é a base para a tecitura tricolor.

O mérito de Diniz, no jogo de volta pelas quartas de final da Libertadores 2023, foi não se acovardar e não abusar da vantagem adquirida no Maracanã. Ao contrário, ousou com um time claramente ofensivo.

Tendo como ponto forte a juventude e o talento de John Kennedy, não tardou para que Xerém começasse a fazer a diferença. Arisco, sorrateiro, preciso e colaborativo, JK abriu o placar e deu mais tranquilidade ao time, naquele estádio-caldeirão.

Mesmo após o empate paraguaio, continuou riscando a zaga adversária, sendo decisivo ao atrair a marcação do Olímpia, ao irritar os adversários com seu talento desconcertante e ao deixar os companheiros em condições de finalização.

Nota para mais uma atuação segura e decisiva de Fábio, sobretudo nos minutos iniciais da partida. Nota também para o maior artilheiro do planeta, German Cano.

Mas quem foi a verdadeira bola da vez, na última quinta-feira, foi Xerém. A base.
Viva o xerém. Viva Xerém.