O preocupante vestiário tricolor (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, o time titular do Fluminense, que estreará na Copa Libertadores da América no dia 20 de abril, ainda não conseguiu emplacar uma vitória sequer no fraquíssimo Campeonato Carioca. Os mais conservadores podem apontar que o Volta Redonda é o melhor dos pequenos, o que não deixa de ser verdade, ou que estão há mais tempo treinando, também um fato, ou mesmo que a falta de ritmo, a volta das férias, o alinhamento dos astros, a má qualidade do gramado… tudo isso possa ter pesado para o revés. Porém, o empate com o Vasco na terça-feira passada, num jogo em que era cristalina a fragilidade do adversário e, no fim de tudo, ainda pareceu que saímos no lucro, posto que merecíamos ter perdido, levanta muitas angústias e incertezas. Muitos podem alegar que o time ou o elenco não estão ainda completos. Afinal, pode ser que a qualquer momento desembarquem nas Laranjeiras David Duarte, David Braz, William Bigode, Matheus Babi, Jean Pyerre, Giuliano, Renato Augusto, entre outros ventilados, especulados ou dados como certos. Mas minha preocupação é o vestiário.

Desde antes de começar a ser rodada por aí uma informação de que Roger Machado teria dificuldades em gerir o vestiário, eu já tinha feito esse apontamento em um dos programas do PANORAMA. Há aqui um problema de coerência, no meu entender. O Campeonato Carioca era para ser o laboratório visando o restante da temporada, ou seja, a pré-temporada do Fluminense. A intenção inicialmente era dar descanso ao elenco principal, visto que o Brasileirão do ano passado se arrastou até esse ano. Justo. Infelizmente, Aílton ficou à beira do gramado, o que era um erro. Roger deveria ter assumido desde o início. A maionese desandou, foram escalados jogadores que não podem nem pisar mais em Álvaro Chaves ou no CT, casos de Raí, Caio Vinícius e Rafael Ribeiro, a arbitragem nos assaltou no primeiro jogo e tomamos aquela cipoada no segundo. Só aí o técnico do Fluminense se dignou a comandar a equipe, fazendo o que inicialmente corroborava com o seu discurso de que todos teriam chance: rodou os jogadores, escalou uma equipe mista entre reservas e bons valores que subiram da base, e o resultado foram três vitórias em três partidas.

Os reservas, com todas as suas limitações, buscaram seu espaço. Julião meteu gol e deu assistência, a molecada começou a aparecer, Gabriel Teixeira passou a se firmar e até o esquecido Ganso meteu gol. Aí, de uma hora para outra, mudou completamente o time. Para ilustrar o que quero dizer, coloco aqui a escalação da equipe que venceu o Boavista, com uma atuação razoável (e que só não meteu mais porque do outro lado tinha Kléver, cria de Xerém): Marcos Felipe; Igor Julião, Nino, Matheus Ferraz e Danilo Barcelos; Yago, Martinelli (Hudson), Gabriel Teixeira (Caio Paulista) e Michel Araújo (Wellington); Samuel (Kayky) e Lucca. Desses jogadores citados, só Marcos Felipe, Nino, Yago, Martinelli e Lucca começaram jogando na partida seguinte. Roger se precipitou, no meu entender. Se futebol é momento, Julião não deveria ser barrado, nem Danilo Barcelos, nem Gabriel Teixeira, nem o Michel Araújo. Samuel poderia sair para a estreia do Fred, e o Lucca era o único da turma que já deveria ter saído mesmo, então podia dar lugar ao próprio Kayky ou ao John Kennedy. Você teria uma equipe com mais ritmo de jogo, incluiria o goleador e, no segundo tempo, promoveria trocas. Calegari e Nenê, por exemplo.

Infelizmente, parte do problema defensivo foi ocasionado pela ausência de Ferraz, que se machucou, e a entrada de Frazan, que sabemos que é fraco. Não é à toa que o Fluminense quer dois zagueiros. Não temos reposição adequada para Nino e Luccas Claro. Mais preocupante, todavia, é a lateral esquerda. Fiquei sabendo que Jefté vai ganhar chances, e assim espero que seja. Mas Roger precisa resolver a questão da recomposição defensiva. Talvez Martinelli precise de algum outro volante com mais qualidade ao lado dele, talvez seja necessário jogar com três volantes, ou talvez até três zagueiros. Há pouco tempo para identificar o problema, pois ele nos trava ofensivamente também. Se ficamos muito preocupados em não tomar bola nas costas, não desenvolvemos nosso jogo ofensivo. Nossas laterais não podem se tornar avenidas. Enfim, talvez seja cedo para cobrar resultados de Roger, mas ele precisa entender que está lidando com pessoas. Se foi prometido aos reservas que eles teriam chance de provar que merecem um lugar ao sol, ele não pode voltar com o time titular inteiro após três vitórias seguidas desses caras que estão suando sangue pela vaga na equipe. Se o futebol é meritocrático, é hora de mostrar isso.

Curtas:

– Acho David Braz um zagueiro no mesmo nível do Ferraz, com a diferença de que é mais novo e com menos problemas físicos. Trazê-lo pensando numa aposentadoria de Ferraz no fim do ano faz algum sentido.

– Já o Mateus da Babi, sinceramente, fede a caso Robinho. Investimento muito grande para alguém que vem com a “missão” de ser reserva imediato do Fred. Com todo respeito ao rapaz, que poderia tranquilamente jogar basquete, mas ainda falta muito pra isso. Não vejo esse futebol todo nele pra valer o que querem por ele.

– Willian Bigode já virou novela mexicana. Será útil se vier, mas precisamos de um plano B decente. Ficar na mão do Palmeiras não dá.

– Jean Pyerre me parece problemático pela relação com o pai (bem parecido com o caso Miguel), e talvez uma troca um pelo outro fosse bom para ambas as partes. Mas não sei se o Grêmio estaria disposto. No geral, acho uma boa contratação, se vier, para uma posição que temos “excesso” de jogadores, porém carência ao mesmo tempo. Sobre Giuliano e Renato Augusto, não tenho muito a comentar. Vi muito pouco do primeiro e não sei em que forma está o segundo.

– Palpite para a próxima partida: Macaé é o lanterna e provavelmente será rebaixado. Menos de 4 a 0 neles eu nem comemoro.