Veredas, sem grande sertão (por Walace Cestari)

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Nonada. Milhões que não compram sorrisos. Foi proposta? Não foi. Foi sim. Jornal que falou. Ó só.

Vendem-se jogadores de futebol profissional. Consagrados, campeões e de bom currículo.

Motivo: falência do patrocinador.

Das editorias dos periódicos, apenas os classificados ainda não venderam um jogador do Fluminense. A imprensa comercializa verdades inventadas, como se o clube estivesse na mendicância absoluta. Os círculos do inferno de Dante são revelados como destino para o Tricolor. E como há quem acredite.

Mas mais alguns vão. Será mesmo que vão? Que não seja, pelo menos, em vão.

Conca, por exemplo, deve sair. Vontade própria. Há uma proposta sobre a mesa, financeiramente viável, dependendo apenas do correto e justo valor que o detentor dos direitos do jogador deve receber como compensação.

Ídolo ou mercenário? A torcida do Flu envolve-se na falsa (ou fácil) polêmica, atiçada cada vez mais pelos meios de comunicação.

Em primeiro lugar, quem sabe da vida do Conca é ele mesmo. De fato, com o que já conquistou e com o que ganha por mês – ainda mais quando lhe foi oferecida uma proposta mais vantajosa pela diretoria do Flu –, não há o que se falar em necessidade. Entretanto, é direito dele ser mais milionário ainda do que é, se lhes são abertas tais portas.

Torna-se então um mercenário? O problema aí reside na passionalidade dessas classificações. Nem ídolo, nem mercenário. Por conta da irracionalidade da adoração, já expus aqui minha contrariedade à idolatria (http://www.panoramatricolor.com/idolos-por-walace-cestari/). Da mesma forma, o outro extremo revela a mesma superficialidade. Vale o mesmo para Fred, que tem em mãos também outro negócio da China.

Ambos são funcionários do clube. Pagos para treinar e jogar. Parece-nos que são mais do que outros pelo talento, pela habilidade. Conca suava a camisa pelo Flu! Errados estiveram todos os que não suaram. Eram pagos exatamente para isso. O suor, vontade e dedicação são as únicas cobranças possíveis de serem feitas. Talento e habilidade, esperamos apenas de quem possui o dom. Assim, quando habilidosos também são dedicados, parecem ser de outro planeta, quando deveriam corresponder à normalidade. Conca é um excelente funcionário. Fred, se falasse menos e tumultuasse menos o ambiente, mereceria o mesmo elogio. Ainda assim, é um funcionário bem eficiente.

Funcionários podem trocar de empresa por qualquer razão. Alguns farão falta, mas não estancarão a produção da empresa. Sua produtividade pode ser afetada. Fechar as portas, jamais. E, no mundo cercado dos conceitos de profissionalismo, basta que sejam respeitadas as condições contratuais: paguem-se as multas devidas e sigamos em frente.

De repente, diante de iminentes baixas eminentes, as redes sociais transbordam suas lágrimas em enchentes pessimistas: seremos rebaixados! Viramos chacota!

Eu fico aqui pensando: em que universo vivem essas pessoas que, por conta de um dois medalhões a menos em nosso elenco, encontraram outros dezesseis elencos melhores, mais fortes e mais bem organizados do que o nosso?

Leio os jornais e não vejo que todos os clubes do Brasileirão estão se reforçando de maneira tão imponente quanto o pessimismo tricolor enxerga. Vejo clubes perdendo jogadores por ações na justiça, vejo três ou quatro clubes se movimentando em busca de boas contratações, vejo certo clube anunciando interesse em todos os grandes craques do planeta (incluindo todo o elenco tricolor), mas não consigo ver dezesseis elencos que se reforçaram de maneira a mostrarem-se infinitamente superiores a nós.

Claro que futebol se ganha dentro das quatro linhas e análise de elenco serve de muito pouco no final das contas. Seja para o bem ou para o mal. De qualquer forma, se há de esperar-se a atuação da equipe, não há com o que se desesperar. Se o intuito é comparar as figurinhas entre os clubes, não estamos ocupando as piores posições nesse confronto.

O Flu é mais que Conca e Fred. É bom tê-los, pois são excelentes jogadores. Não tê-los, contudo, não nos faz fracos, não nos faz rotos. Quiçá aumente o protagonismo de outros. Que lhe aticem os brios. Algumas declarações de nossos guerreiros fazem-nos acreditar que há outro caminho. Outra estrada, diria meu companheiro Andel. Ainda que a pavimentação não seja como a anterior, as veredas que nos levam às conquistas costumam ser banhadas por suor e descrença. Travessia ∞

Panorama Tricolor

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