Uma tarde negra (rosa) para o futebol brasileiro

Tarde de sol. Expectativa para a entrada de Flamengo e Botafogo para um clássico dramático. Se ganhar, o Botafogo briga por vaga na libertadores e rebaixa o Flamengo. Só a vitória salva os rubro-negros. Estádio cheio como sempre. À esquerda, lê-se a marca de cerveja nas cadeiras. dois botafoguenses ocupam o setor.

Entra o flamengo. Urros de sempre. Mengo, mengo. Do outro lado, demora. Passam cinco intermináveis minutos. Nada. De repente, surgem Seedorf, Fábio Ferreira, Elkeson e o resto do time. De rosa-choque. O estádio emudece por uma pequena eternidade como deveria, mas nunca faz, num minuto de silêncio. Então surge o grito do rubro-negros: VIADOS! VIADOS! Raça e Jovem berram a plenos pulmões. No lado botafoguense, estupor. Um senhor dá as costas e vai embora. A maioria chora copiosamente. Uns poucos ousam: Fogo! Fogo!

Surpreendentemente a Fla Gay resolve apoiar e grita Fogo! Fogo! também no lado rubro-negro. É ai que o pau come. Jovem e Raça resolvem bater nos corajosos. É a maior porrada da breve história do Engenhão. A tevê mostra três marombados dando conta de cerca de dez Raçaflas. Caos.

No campo, alguns jogadores do Flamengo riam. Manequinho, ponta esquerda do Botafogo, resolve tirar a camisa, joga-a no gramado e sai correndo do campo. Botafoguenses gritam seu nome aos prantos. Um dos atacantes do Flamengo, Gildo, pega a camisa e veste por cima do manto.  A situação se deteriora. O juiz, até então espectador da cena toda, resolve dar cartão amarelo pra Gildo. A pancadaria na arquibancada cessa pra assistir a cena. Gildo fecha em cima do juiz, furioso. Vermelho. Os jogadores do Botafogo seguram Gildo e o impedem de bater no juiz. Com a camisa do Botafogo, Gildo sai também chorando.

Este era o jogo da tv aberta para todo o Brasil. Como não esperava a reação da torcida, os primeiros gritos vazaram em alto e bom som para todo o Brasil. Em épocas de politicamente correto, um escândalo. Apesar do corte do som, as cenas mostram tudo. Filma-se o camarote do Flamengo. Presidente e atacante em recuperação primeiro riem escancaradamente do uniforme adversário. Depois xingam Gildo . A pancadaria recomeça no lado do flamengo. Agora, muitos botafoguenses saem do estádio. Outros tantos choram. Um queima a camisa (preta e branca). O locutor chama o vídeo da galera. Aparece um torcedor vestido de botafogo: “Caio, você acha que os gays do Brasil vão passar a torcer pelo Botafogo daqui pra frente?” Silêncio… Nas arquibancadas o batalhão de choque restaura a ordem à base de porrada. No campo, o juiz se retira. Não há condições de jogo. À noite, nas ruas, não se viam botafoguenses – o que não é novidade. As repercussões são internacionais. Grupos glbt se proclamam botafoguenses. O meia hora lança uma edição extra, no dia seguinte.

Não há espaço neste texto para citar as consequências políticas e futebolísticas dos dias seguintes.

José Augusto Catalano

Panorama Tricolor/ FluNews

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