Uma noite histórica no Maracanã (por Marcelo Savioli)

SEJA LUZ PARA O LUIZ. COLABORE.

Amigos, amigas, a vida é feita de experiências. O Fluminense já me proporcionou experiências suficientes para preencher umas três ou quatro. Mas esse clube não se farta nunca de me fazer viver episódios inacreditáveis.

Cheguei ao Maracanã por volta das 15h30 e logo me deparei com um mar de tricolores. O comitê de recepção foi encontrar o Antônio Gonzalez logo na entrada. Foi aí que eu comecei a entender que tarde era aquela. Dei dois passos e encontrei o professor Eduardo Coelho, o grande autor do livro que remete à memorável conquista do Mundial de Clubes de 1952.

Já era história demais para meros cinco minutos. Então, ouço uma voz: “Savioli”. Era a de Leo Moretti, uma das criaturas mais doces que eu já conheci, sempre esbanjando luz. Talvez eu ainda não tivesse entendido o que estava acontecendo. Mais alguns passo e estava com Mário Bill, Ronaldão, Biel, Zé e aquela galera que revolucionou nossa torcida, mostrando que pista não precisa ser para brigar.

O mundo já estava perfeito, mas aí vem a vontade de ir ao banheiro e eu vivo a lenda urbana da loira do banheiro. Impossível ir a um jogo do Fluminense e não se apaixonar. Se era o canto da sereia eu não sei, mas que mulher linda! Que mulheres lindas tem a nossa torcida!

Um romance não precisa, necessariamente, terminar na cama, na verdade acabou terminando mesmo na porrada, porque os dissidentes são muito educados quando estão ganhando, mas quando se deparam com uma ameaça mostram quem são. Quase acabei asfixiado pelo gás de pimenta. Mas que diabos, era Fla-Flu! Mas ela é inseparável das minhas memórias daquele sábado.

Assim como a nossa torcida. Ah a nossa torcida! Se alguém ousasse tentar um dia descrever, todo o mundo civilizado seria tricolor. Mas teimam em exaltar uma caricatura, sem alma, sem cor e sem graça.

O Fluminense fez sábado o que já fizera durante a conquista da Taça Guanabara. Foi maiúsculo, corajoso, com cara de Fluminense. Pasmem vocês que tomamos um gol de contra-ataque. Num Fla-Flu? Que coisa louca! Louco nada! Louco foi que continuamos buscando o jogo, com o espetacular Paulo Henrique Ganso comandando o time com a frieza dos gênios. Passou por ele a jogada do gol de empate, ainda no primeiro tempo.

Ganso, que deveria ser o camisa 10 da Seleção Brasileira, foi injustiçado, injuriado e sabotado por anos, mas teve a humildade e a honra de prosseguir. É dele esse campeonato. É dele o saldo das melhores exibições do Fluminense na temporada. É dele, assim como de Germán Cano, que chegou para ser ídolo. Não, amigas, amigos, Cano não chegou para ser ídolo do Real Madri, do Manchester, do Palmeiras ou do Vasco, chegou para ser ídolo do Fluminense.

Alguém tem noção do que é ser ídolo do Fluminense Football Club, a maior lenda do esporte mundial? O que dizer de Jhon Arias, aquele que ninguém colocava no time lá no início da temporada? Saiu do ostracismo para entrar para a história.

Não vou falar de Nino, Yago, André e Calegari. Esses já carregam o peso da história nas costas. Nada teria acontecido sem eles. Nada, amigas, amigos!

O Fluminense é o campeão do Rio de Janeiro de uma forma curiosa. Jogamos o melhor futebol por algumas semanas. Aquele Fluminense e Vasco é uma doce lembrança, porque só na época da Máquina vi um Vasco tão humilhado em campo. Mesmo assim, os erros de decisões quase nos tiraram da final contra um Botafogo muito inferior, mas que se sobressaiu diante da inutilidade de nossa ideia de jogo.

Só que tinha lá o Germán Cano, com sua simplicidade e imensa capacidade de colocar a bola para dentro. Foram quatro gols nos últimos três jogos. Pode-se dizer que ganhamos o campeonato no momento em que marcou o gol salvador contra o Botafogo aos 50 minutos do segundo tempo. Gol após o qual não acreditávamos mais em nada.

Até que Abel finalmente assume o fato de que não é possível jogar sem meio de campo. Não é possível a sociedade humana reproduzir o erro de não ter Ganso em campo. Foi só isso para que na noite de ontem a Dissidência sucumbisse em campo diante de um Fluminense autoritário, disposto a jogar e mostrar qual é o seu lugar nessa brincadeira.

Eu estou muito feliz, mas eu quero todos os títulos dessa temporada. Todos! Porque isso aqui é Fluminense!

Parabéns a todos os tricolores que foram ao Maracanã neste sábado. Fomos soberbos, incontestáveis, mesmo sendo sabotados pela nossa própria diretoria, que abriu mão de ter um estádio ¾ nosso para fazer o inverso. Vamos vencer tudo isso e transformar o Flu para que ele continue sendo o que sempre foi: honra e glória do Brasil e exemplo para o mundo.

Saudações Tricolores!