Um tiro à luz opaca (por Felipe Fleury)

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Ricardo Drubscky já é passado, mas não há como deixar de tocar em seu nome quando se pretende qualificar o atual momento da gestão do futebol tricolor: catastrófico. Drubscky foi o mais emblemático exemplo da falta de planejamento e descaso com as coisas do Fluminense perpetrados pelo comando do futebol.

Durou uma desclassificação no fraco campeonato carioca e dois jogos no brasileiro, de tão ruim que é. Nada pessoal contra o homem. Despediu-se educadamente do clube, parece ser uma pessoa de bem, mas não está e nunca esteve à altura de dirigir o Fluminense. A sua demissão em tempo quase recorde somente serviu para corroborar o enorme equívoco que foi a sua contratação, fruto de uma gestão temerária que pouco se importa com os destinos do Flu.

Qualquer tricolor com um átimo de discernimento vaticinou que a sua saída seria questão de tempo. Na média do que vi por aí, o seu prazo de validade seria entre cinco e dez rodadas de duração. Foram duas.

Quando comentei a sua contratação, publiquei aqui no panorama um texto intitulado: “Um tiro no escuro”. Evitei a crítica contundente sobre um treinador que se apresentava ao Flu com um currículo bastante humilde, para não dizer menos. Fui benevolente a ponto de lhe dar a chance de queimar a minha e quase todas as línguas tricolores com a possibilidade de que, por um acaso, desse certo. A mesma possibilidade de se acertar um alvo com um tiro às escuras.

Não pretendo aqui me vangloriar do anunciado fracasso de Drubscky. Na verdade, desejei que tivesse êxito no comando do Fluminense, mas as chances disso acontecer eram tão ínfimas que qualquer tricolor fora de Álvaro Chaves certamente já sabia o resultado de sua desastrosa contratação.

Pois bem. A sua rápida demissão foi um alento para a torcida tricolor, um alento que durou menos de 24h.

Enquanto muitos sonhavam com Cuca, Dorival, Abel e até o velho RG foi cogitado, a cúpula tricolor, em tempo recorde, tirou da cartola o substituto de Drubscky: Enderson Moreira.

Da mesma forma que não fui leviano com o ex-treinador, não serei com Enderson. Não criticarei o seu trabalho antes mesmo de ter se iniciado. O que eu posso dizer, contudo, é que se Drubscky foi um tiro no escuro, Enderson é um tiro à luz opaca, aquela bem tênue, crepuscular. Com um currículo ligeiramente melhor, o novo treinador tem a chance de ter um desempenho superior ao de seu antecessor, o que não significa dizer que seja um profissional à altura do Fluminense.

Ainda há outra diferença que pesa a favor do recém-contratado. Enquanto Ricardo Drubscky não via na equipe que comandava condições de almejar qualquer posição honrosa na competição, Enderson Moreira anunciou que pretende conduzir seus comandados à briga, pelo menos, por uma vaga na Libertadores, o que, diante das circunstâncias, já é um alento.

Soube que cogitaram primeiramente Dorival, mas a sua pedida, de cerca de quinhentos mil mensais, foi rechaçada. A Enderson Moreira o Flu deverá pagar metade disso. Parece, então, que tudo se resume a quem cobra menos. Nas Laranjeiras não há planejamento, nem o sentido de importância que deveria ter um treinador para uma equipe.

Quando foram renovados os contratos de Jean, Wagner, Cavalieri e Fred, o comando tricolor deveria ter conferido a mesma relevância à contratação de um novo treinador, alguém experiente e notoriamente competente. Poderia não ter dado certo, mas ninguém pecaria por omissão.

Drubscky cai. Quase simultaneamente grassa nas redes sociais a informação de que Cuca fora demitido do seu empregador chinês. A esperança da torcida, assim, recai sobre uma eventual proposta tricolor ao melhor técnico brasileiro em atividade. Ledo engano. Cuca, nem por um breve instante, foi pretendido. E se perguntarem aos nobres dirigentes o motivo, certamente dirão que foi porque estaria fora das condições financeiras do clube. Mas aí entra a contradição a que fiz referência acima: houve condições e planos para a renovação de contratos milionários de alguns jogadores, mas a um nome para o comando técnico da equipe não se deu a mesma importância, como se fosse uma função menor. Não é. É tão importante quanto a de um artilheiro, um meia habilidoso ou um goleiro de qualidade.

Preferiram, assim, como se desejassem testar a paciência da torcida, novamente a opção pela incerteza, pela pequenez. Opção que não deu certo nas duas últimas tentativas.

Enderson, assim como Drubscky, é um profissional sério. Diante, porém, do desempenho do Tricolor nos últimos anos, o Fluminense precisa de algo mais. Precisa voltar ao cenário dos líderes, precisa disputar títulos, voltar a Libertadores, não apenas para trazer troféus que afagam o âmago do torcedor, mas para que esses troféus tragam excelente contrapartida financeira. Sem investimento não há retorno.

Não se trata de mera cornetagem. Trata-se da constatação de que assuntos mais importantes estão sendo relegados a segundo plano, o que se demonstra pela contratação de técnicos de segunda categoria como Cristóvão, Drubscky e, agora, Enderson.

Assim como desejei queimar a língua com Drubscky, também desejo estar errado quanto a Enderson. Torcerei como nunca para que seja no Fluminense o que ainda não foi em outros clubes que dirigiu, porque acima de tudo sou tricolor.

Por fim, faço um apelo ao torcedor. Não importam os malfeitos praticados contra o clube por quem deveria cuidar dele, não importam os resultados negativos ou um elenco aquém daquele que deveria envergar o manto tricolor, não importam os Cristóvãos, Drubsckys ou Endersons; os Peters, Marios e Fernandos. A única coisa que verdadeiramente importa é o Fluminense.

Não desista dele jamais. Seja sócio independentemente do seu momento para poder, com a sua ajuda, torná-lo um dia autossuficiente, e, para com o seu voto, interferir diretamente no seu destino.

Enderson Moreira é fato consumado. Torçamos por ele e pelo Fluminense.

Panorama Tricolor

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Imagem: maemita virtual /guis