Um jogo e duas medidas (por Mauro Jácome)

198 - 31082014 - Um jogo e duas medidasA utilização do volante Edson nos últimos jogos permitiu ao torcedor ter uma noção do seu potencial. Ouvíamos falar dos bons treinos, mas treino é treino…

É certo que os tricolores que viram o primeiro tempo contra o Goiás gostaram. Não sei o que pensa Cristóvão Borges, mas acho que, agora, tem dúvidas da titularidade de Valência. Comparando os dois, vejo o Valência com mais capacidade de marcação porque tem maior raio de ação à frente da área, além de se posicionar muito bem entre os dois zagueiros. Edson tem maior desenvoltura no apoio: passe e versatilidade para chegar à área adversária.

Num jogo em que a tendência seja de pressão do adversário, o Valência seria o mais indicado. Por outro lado, se o Fluminense tiver que tomar a iniciativa, o Edson terá mais utilidade.

Pena que o novato já tenha se machucado: sentiu a coxa no apronto final para o jogo de logo mais contra o Corinthians.

Racismo

O Grêmio deverá receber uma punição exemplar. Correto. É preciso acentuar a repressão a esses atos. Da mesma forma, a violência por parte das torcidas também vem sendo tratada com mais rigor. Tanto num caso, como no outro, os responsáveis diretos devem ser arrolados nas punições. Com relação aos atos de racismo contra o goleiro Aranha, do Santos, parece, alguns criminosos serão enquadrados na lei e o Grêmio será julgado solidariamente.

No entanto, nas atitudes de violência das torcidas, os clubes têm recebido sua parte, mas pouco se fez para prender os agressores. Então, os problemas continuam. Na realidade, o torcedor não está muito preocupado se, somente, o seu “clube de coração” se dá mal.

A Copa não acabou

Para quem achou que a Copa do Mundo aqui no Brasil teve um bom futebol, certamente, vai acompanhar a Champions e alguns nacionais da Europa. As seleções que aqui estiveram estarão espalhadas pelos principais times europeus: Chelsea, Manchester City, Manchester United, Arsenal, Liverpool, Real Madrid, Barcelona, Bayern, PSG, Juventus.

Como amostra, ontem, em Liverpool, Everton e Chelsea fizeram um jogaço. O time de Londres venceu por 6 x 3, com show de Fábregas e Diego Costa. Pelo lado do Everton, Mirallas jogou muito.

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Há 30 anos…

Procurando notícias sobre a espetacular vitória do Fluminense sobre o Corinthians, em 1984, na semifinal do Brasileiro daquele ano, encontrei duas versões sobre o jogo: a da Folha de São Paulo e a do Jornal do Brasil. Antagônicas. Uma tentando, por tudo, desqualificar uma bela vitória; outra, bem mais próxima à realidade:

Folha de São Paulo

Coisas do futebol, da vida. Ontem, foi o avesso do domingo passado. O mesmo Corinthians que botou o Flamengo na roda, acabou entrando no ritmo do antifutebol do Fluminense de Parreira. Em lugar do sol e da festa, chuvas e nuvens pretas, um cenário ideal para o arrasta-pé vagabundo deste domingo no Morumbi. (…) Apenas em alguns lances fugazes, o Corinthians conseguiu repetir seu ritual de toques, chapéus, bolas de calcanhar, procurando espaços para abrir a retranca do Fluminense, que lembrava o Brasil indireto da natimorta seleção de Parreira. Com a eficiente colaboração do juiz Luís Carlos Félix e dos seus dois bandeirinhas pernambucanos o Fluminense conseguia segurar o jogo no meio do campo, arriscando um ou outro contra-ataque. Foi num deles que Mauro ficou comendo mosca e Assis, aquele mesmo que nunca deixou de ser reserva no São Paulo, acabou com o que restava da alegria corintiana. (…) O Corinthians voltou para o segundo tempo exatamente como acabou o primeiro: entrando no joguinho do Fluminense, time que só tem uma jogada, com o ponta esquerda Tato indo até a linha de fundo e centrando para Assis ou Washington. (…) Futebol tem disso: tem dia que dá tudo certo, tem dia que dá tudo errado. Uma insistente tesoura no placar eletrônico, a denunciar a censura, era o símbolo silencioso de uma tarde que não estava mesmo para a alegria da galera. Domingo que vem tem mais.

Jornal do Brasil

O reluzente placar eletrônico do Morumbi piscava suas letras brilhantes. Ao final do jogo, para indicar o melhor em campo – Tato. Tudo bem, estava certo. Com um minuto de jogo, Tato já colocava a bola na cabeça de Washington. Édson tirou a bola, que ia entrando. E veio o período de estudos entre os dois times, até que aos 17, Casagrande deu o primeiro dos dois chutes do Corinthians em todo o jogo. Paulo Vitor defendeu bem. E o Corinthians ficou por aí. Bem que a sua fiel torcida tentou empurrá-lo à frente. Mas havia um bloqueio a impedir suas arrancadas.

Quando aos 23 minutos Tato conseguiu outra boa jogada, o Morumbi já diminuía seu grito. E aos 28, quando Mauro teve que intimidar Tato com força, fazendo uma falta bruta, o estádio ficou em silêncio. Havia reconhecido, afinal, estar diante de uma força tática invejável. Aos 39, Mauro teve novamente que recorrer à força. Derrubou Tato outra vez. E foi Romerito, num cruzamento perfeito, quem colocou a bola na cabeça de Assis: 1 a 0 e a torcida do Fluminense explodiu. O time voltou a campo para o segundo tempo querendo jogo. Entrou correndo, lépido, festejou mais uma vez sua torcida e, aos 3 minutos, Aldo fez uma jogada que deixou Washington e Assis na frente de Carlos. Quase outro gol.

Aos 8 e 9 minutos, Casagrande e Biro-Biro chegaram a ficar em boa situação na área, mas foram desarmados. O Corinthians insistia. Tentava atacar pelo lado direito. Impossível. Um bloqueio fechava seus espaços. Tentava o outro lado, e lá estava todo o time do Fluminense a bloqueá-lo. No estádio, eufórica, só se ouvia a torcida do Fluminense. Alegre, gozadora, dava olé ao ritmo do toque de bola do time, toque que, por duas vezes, levou Delei a ficar livre na frente de Carlos. Os chutes, precipitados, mandaram a bola por cima.

O Fluminense já era o dono do jogo quando Tato fez 2 a 0, aos 36 minutos, completando uma jogada que começou com Washington, passou por Assis e até pelo goleiro Carlos, que não conseguiu conter a bola. Paulo Vitor, pouco depois, fez sua segunda defesa em toda a partida, segurando com firmeza uma cobrança de falta de Zenon. Mas só dava Fluminense, com olé e tudo. E, aos 40 só não marcou seu terceiro gol porque Carlos fez uma ótima defesa, espalmando um chute forte de Duílio, após outra grande jogada de Tato.

Na arquibancada, reconhecendo o poderio tático do time, a torcida homenageou Parreira, gritando seu nome em coro. Em campo, nada mais havia a fazer. Era esperar o próximo jogo, no Rio. E o placar sabia disso. Fez brilhar o nome de Tato “o melhor em campo” e apagou-se.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJácome

Imagem: Jornal do Brasil / Montagem

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