Ulisses Alves da Silveira (por Paulo-Roberto Andel)

Pelo nome, praticamente ninguém conhece. Cerca de 99% dos torcedores nem sabem de quem se trata, o que é normal pois a maioria só decora nomes de ídolos e artilheiros. Além do mais, vivemos num país onde o desapreço é a regra. Ontem mesmo, na passagem de Ruy Carlos Ostermann, vimos um noticiário tímido para um dos maiores jornalistas esportivos de todos os tempos no Brasil.

Ulisses Alves da Silveira era lateral esquerdo e dos bons. Dos ótimos. Houve quem o comparasse a Branco na base, pensem. Mas não funcionou por dois motivos: os problemas com drogas e o verdadeiro soco que levou quando perdeu sua chance nos profissionais, com a efêmera efetivação de Marcelo.

Sua carreira no campo se espatifou de forma irrecuperável. Anos mais tarde, foi trabalhar em escolinhas de futebol, o que fez até morrer semana passada, na véspera do nosso empate com o Mamelodi e do aniversário de 30 anos do gol de barriga. O ex-lateral-esquerdo, de 39 anos, teria sofrido um infarto caminhando pela Rua Professor Latge, no bairro do Rocha. A causa da morte ainda não foi oficialmente confirmada.

Muita gente tentou ajudar Ulisses, como o jornalista Caio Barbosa. Infelizmente não deu certo.

A última frase de Caio define tudo: “Haveria espaço pros dois no mundo do futebol”.

A triste história de Ulisses não é a primeira, longe disso. No próprio Fluminense há muitos casos, ainda que nenhum tivesse um desfecho fatal. Mas o que faz o clube perder tantos talentos ao longo do tempo pelos mais diversos motivos, que mal deixam rastro no time de cima? Na minoria das vezes é o aceno milionário; no resto, nem sempre sabemos.

O falso moralismo virá com força: “isso é problema de cada um”. Não. Discordo. Numa sociedade sofrida como a brasileira, sabemos que esses casos infelizmente acontecem, e não é culpa exclusiva do Fluminense quando um de seus jogadores sucumbe a problemas com drogas. O clube não é clínica de recuperação, dirão alguns. Mas precisa ser mais do que uma máquina de moer carne humana.

Sinceramente, o que é feito para preservar ao máximo esses jovens?

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Estamos na véspera de uma grande decisão. Os corações tricolores estão a mil pelo mundo afora. É uma Copa e tudo pode acontecer. Que venha o melhor para o Fluminense. Está longe de ser fácil, tão longe quanto está do impossível.

Qualquer que seja o resultado desta segunda-feira, ao olhar para frente o Fluminense precisa de vez tratar seus jovens jogadores com a atenção que eles merecem, em vez de serem basicamente moeda de troca para a contratação de veteranos decadentes indicados por empresários, sempre com contratos cheios de aditivos e quase sempre com resultados pálidos em campo.

É possível disputar as próximas temporadas com um time base formado no clube, acrescido de boas contratações pontuais, lutando por retorno esportivo e financeiro. Basta ter vontade política e priorizar o Fluminense em vez de pessoas físicas e jurídicas por aí.