Treinar para quê (3ª edição)? (por Marcelo Vivone)

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Nas últimas quatro semanas, essa é a terceira que o treinamento, ou a falta de treinamento adequado em termos quantitativos e qualitativos, é tema dessa coluna.

E vejo que essa é uma preocupação, na verdade, um desespero, não só meu, mas de grande parte da torcida Tricolor. Seja em conversas com amigos sobre o Fluminense, ou ao assistir ao programa do Panorama Tricolor de segunda-feira (acesse aqui: Programa Panorama Tricolor 135), ou ao ler as colunas do amigo Rods aqui no Panorama (Quem é você?), ou do Gustavo Albuquerque.

Pelo muito pouco que tem jogado o Fluminense (mesmo no único jogo convincente que fizemos no ano, contra o Botafogo, os problemas do setor defensivo foram muito claros), pelos muitos erros táticos e técnicos, pelo mau posicionamento dos jogadores, pela inexistência de um cobrador de faltas de razoável qualidade, é muito clara, óbvia, a necessidade de se fortalecer e aprimorar o treinamento de todo o grupo.

E o que continuamos sendo obrigados a engolir (além do Zagalo)? Acompanhar a rotina de programação com somente uma hora e meia ou duas horas de treinamentos diário e ler e ouvir repetidas declarações dos próprios jogadores (Edson foi um deles) de que somente com muito trabalho e dedicação o quadro no Fluminense pode ser alterado. Será que muito trabalho é representado por essas uma hora e meia ou duas horas diárias? Será essa a solução?

E repare o leitor que o que estava ruim foi piorado nessa semana. Se nas outras duas semanas em que desenvolvi o tema o clube realizou treinamento em horário integral em apenas um dia treinamento, salvo engano na divulgação do próprio site do Fluminense, como se pode ver na foto de capa dessa coluna, essa semana não haverá um dia sequer em que o time irá treinar em dois turnos.

Isso mesmo, após um domingo em que sofremos a segunda derrota para um time considerado pequeno, o clube não fará um dia sequer de treinamento integral. É ou não é para o torcedor se desesperar?

Lembrando que o Fluminense é o único dos clubes grandes do Brasil que não está disputando uma competição paralela ao Campeonato Carioca e, portanto, o único que tem tido o conforto de não jogar durante a semana.

Cristóvão

Vários pontos pesam contra a permanência do Cristóvão, sendo os principais a insistência na formação em linha do nosso setor defensivo e a dificuldade em substituir e mudar o panorama de um jogo.

Sobre a configuração defensiva, Cristóvão vem fazendo a difícil escolha para jogadores acostumados com a escola brasileira e sul-americana de impor uma forma de marcação utilizada principalmente na Espanha e na Inglaterra.

A opção baseia-se principalmente na diminuição de espaços. A última linha de defesa é adiantada, geralmente sendo fixada em linha, e os jogadores de meio de campo e ataque “mordem” o adversário o tempo todo. A partir de certa posição do campo, o jogador adversário que tem a bola é marcado por dois ou até três jogadores. A intenção é sufocar o adversário e reconquistar rapidamente a posse de bola.

O problema com o nosso time é que Cristóvão só conseguiu implantar a parte de avançar a última linha de marcadores e de manter seu posicionamento em linha. Não há pegada dos jogadores de meio de campo e ataque condizente com esse padrão e, como resultado, vemos nossos zagueiros centrais sempre no “mano a mano” ou correndo atrás do atacante e os laterais tomando bola nas costas e sem cobertura.

Ou seja, por conta dessa tentativa sem sucesso do treinador, nosso setor defensivo e Cavalieri estão o tempo todo expostos e somos disparados a defesa mais vazada entre as equipes grandes e até com mais gols sofridos que algumas consideradas pequenas. Quantos jogos mais seremos derrotados até que o treinador consiga impor esse formato de marcação ou desista e volte ao padrão sul-americano?

Outro fator negativo do Cristóvão é a inaptidão de mudar nossas características de jogo durante uma partida. Nosso treinador parece se perder quando precisa mexer no time, seja no intervalo ou no decorrer do segundo tempo. Invariavelmente suas mexidas tornam a produtividade inferior ao que era apresentada até as mudanças.

Mas, independente do treinador, o que precisa mudar é a filosofia de trabalho nas Laranjeiras. Não adianta trazer o melhor treinador do mundo se o clube continuar fingindo que cobra empenho e dedicação dos jogadores. Como tantos erros que esse elenco em formação apresenta podem ser sanados com míseras 2 horas diárias de labuta?

E falo em filosofia do CLUBE porque já na época do Abel eu reclamava dessa condição de falta de treinamento. Desde 2103 já mudamos diretores, gerentes de futebol e técnicos e ninguém consegue impor uma carga de treinamentos condizente com um time que quer ser campeão no atual futebol profissional.

Abel

Essa semana foi divulgado pela imprensa um almoço entre Mário Bittencourt e Abel. Em que pese a informação oficial dada pelo clube de que o encontro foi apenas para tratar da negociação de dívida passada, evidentemente, pela situação atual e pelo desejo de 90% da torcida pela queda de Cristóvão, começaram as especulações sobre a volta do antigo técnico.

Sem fazer análise sobre o Abelão, volto a repetir: sem treinar não tem técnico que dê jeito. Não existe mágica no futebol.

Abel pode até voltar e melhorar alguma coisa, mas não teremos um time campeão sem treinamentos em quantidade e com qualidade. E não vai ser com duas horas diárias que esse trabalho será executado.

No pain, no gain.

Tragam o Bernardinho ou ressuscitem o Telê!

Panorama Tricolor

@Panoramatri @Mvivone

Imagem: fluminense.com.br

#SejasóciodoFlu

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