Trechos de Fluminense Cotidiano (da Redação)

Fluminense Cotidiano é o 22° livro escrito por Paulo-Roberto Andel sobre o Fluminense, incluindo obras em parceria. Abaixo, publicamos dois trechos da obra, que se encontra disponível para encomenda no Sebo X, WhatsApp 21 99634-8756 e Instagram @seboxis

É TUDO VERDADE
Notícias do Jornal dos Sports

02/01/1995

Não passou de um sonho de fim de ano a intenção do Fluminense de contratar Ricardo Gomes. O Paris Saint-Germain, satisfeito com suas atuações, sendo um dos ídolos do time, não abriu mão dele, obrigando o vice-presidente Alcides Antunes a uma contratação mais barata, a do zagueiro Sorlei, de 21 anos, vindo do Coritiba, onde era titular e capitão da equipe desde os 18, além de ter integrado a Seleção Brasileira de juniores em 1993. Só falta o artilheiro Ézio, considerado imprescindível pelo treinador Joel Santana.

01/03/1983

O treinador Cláudio Garcia só vai definir o time para o jogo contra o Corinthians no coletivo de sexta-feira. A tendência é a manutenção no quadrado do meio-campo com Leomir, Delei, Cristóvão e Amauri, ficando Paulinho no banco para qualquer eventualidade.

O jogo-treino de ontem contra o Atlético de Luanda nas Laranjeiras foi levado a sério pelos africanos, treinados por Antônio Clemente. Duílio, Aldo e Jasson já estavam entregues ao Departamento Médico, e Leomir levou uma pancada no joelho durante a atividade. O time titular jogou com Paulo Victor, Zé Carlos (Marinho), Alexandre, Branco e Cândido; Deley, Leomir e Cristóvão; Wilsinho (Machado), Flávio Renato (Ferreira) e Paulinho (Amauri).

02/01/1980

A diretoria do Fluminense continua negando a possibilidade de contratação do atacante Enéas, da Portuguesa de Desportos, e disseram que por enquanto os reforços são só Marinho, Osni e Tulica. Quanto a Givanildo, o clube continua na expectativa, mas sabe que o Santa Cruz só admite trocá-lo por Wendell.

O Fluminense não deve utilizar os juvenis Delei, Rock e Flávio, que estavam cotados para irem para o profissional.

02/01/1975

No Flu, tudo depende das eleições do próximo dia 07. Concorrem os candidatos Francisco Horta Cavalcanti, apoiado pelo grupo do falecido presidente Laport, e Gil Carneiro de Mendonça, apoiado pelo presidente da FIFA João Havelange.

Apesar de estar apoiando Francisco Horta Cavalcanti, o atual presidente Jorge Frias de Paula acha que tanto ele quanto Gil Carneiro têm capacidade de chegar à presidência e realizar um bom trabalho: “Ambos são muito competentes e o que vencer terá meu apoio”.

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FLUMINENSE, 97 ANOS
21/07/1999
Artur da Távola
Senado Nacional

No mês dos 97 anos do Fluminense recordo-me de seu campo, nas Laranjeiras, a quantos jogos ali assisti em minha juventude! Era o tempo de Castilho, Pindaro e Pinheiro, Pascoal, Telesca e Bigode, Telê, Didi, Carlyle, Ambrois e Rodrigues. Eu era atleta do Fluminense, jogava voleibol, que então se chamava volleyball. Quando havia futebol nas Laranjeiras, ficávamos, os atletas, na Social do Clube. Havia uma menina bonita. E atleta de clube é uma espécie de herói ou semideus daquele pequeno e ilusório universo. As nadadoras eram estrelas. As do atletismo e basquete, à época, menos. De uma menina magra, sem busto, a turma mangava: ‘‘campeã de natação! Nada de peito e nada de costas’’… Na década de 50, o Fluminense ainda possuía ecos das glórias antigas. Era, mesmo, o pó-de-arroz: o clube ainda grã-fino. Depois, tornou-se clube de classe média. Mas, refinamento, se é detestável como prática social, não deixa de ter seu sabor quando somos jovens sem essa de cogitações ideológicas. Tornei-me Fluminense por causa da camisa tricolor, vinho e verde escuro em faixas mais largas e branco em estreitas, escudo à altura do coração, calções brancos. As cores me emocionavam. Pena: a camisa gloriosa sofreu sucessivas alterações (cada qual pior que a anterior), culminando em 97 com um calção cor de vinho e camisa disforme, a meu ver (subjetivamente) responsáveis pela fase aziaga que redundou em rebaixamentos e humilhações. Clube que altera seus símbolos morre na alma. Ah, meu Fluminense de tanto glamour, que foi falindo, desistindo, descendo, levando, inclusive, a nossa alegria, emoção e mitologia oriundas do inenarrável prazer de, sem se saber por que, identificar-se com cores, bandeira, escudo e sair por aí a torcer e a brigar, emoção pura, gostosa, porque infantil e sem explicação. Fora, tristeza! Avante! Embora a viver momento pouco expressivo no futebol, o Fluminense é parte fundamental do desenvolvimento do desporto brasileiro e merece homenagem ao completar 97 anos. ‘‘Sou tricolor de coração! Ah, este time tantas vezes campeão’’!…

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IVO, O CAMPEÃO DE UM JOGO SÓ
27/11/2022

Dia 26 de novembro de 1980, há exatos 42 anos. Já classificado para a final do Campeonato Carioca, o Fluminense cumpria tabela na última rodada do segundo turno diante do America, numa quarta-feira à noite. Jogo para pouco mais de 1.500 pagantes, com o Maracanã vazio.

Poupando os titulares para a decisão do campeonato, que seria com o Vasco, o treinador Nelsinho mandou a campo o time reserva. Um dos jogadores que vibrava com a chance era um jovem goleiro de 21 anos, vindo da Desportiva Ferroviária do Espírito Santo e que havia sido destaque tricolor na Taça São Paulo de Juniores, hoje conhecida por Copinha.

Seu nome era Ivo. Jogou na base das Laranjeiras, foi treinado por ninguém menos do que Félix e confiava tanto em seu futebol que se recusou a ir para o Atlético Goianiense, clube que havia negociado o meia Gilberto com o Flu. Na transação, o Tricolor se comprometeu a enviar um goleiro para o Rubro-negro de Goiânia. Com a recusa de Ivo, o Fluminense mandou Carlos Afonso.

Numa partida sem grande ânimo, o America abriu o placar com o eterno tricolor Luisinho Lemos. Ivo não teve culpa no gol, mas acabou substituído apenas para que Braulino, o outro goleiro do elenco, tivesse oportunidade de jogo. O atacante Wallace empatou para o Fluminense ainda na primeira etapa.

No segundo tempo, já com Braulino no gol, o panorama do jogo não mudou. A pasmaceira se manteve até os 41 minutos do segundo tempo, quando o America confirmou sua vitória com um gol de Cleber. Por coincidência, este mesmo jogo foi o último disputado por um dos grandes craques do Flu: Cléber, multicampeão da Máquina e dos anos 1970, que encerrou sua passagem no Fluminense, indo para o Náutico.

O sonho de Ivo no Fluminense não se concretizou, nem o de Braulino, mas ambos registraram para sempre seus nomes no querido time campeão de 1980. Paulo Goulart levantou a taça e, poucos anos depois, começou a Era Paulo Victor, que duraria boa parte dos anos 1980, até ser sucedido por Ricardo Pinto. Outros goleiros passaram pelo Fluminense naquela década: Edson Cimento, Ricardo Lopes, Ricardo Cruz.

Ivo se chamava Wilson Roberto Schwambach. Faleceu anteontem, aos 61 anos, no Espírito Santo.

Cléber, super craque dos anos 1970 e multicampeão pelo Flu, já havia nos deixado em julho de 2009, quando residia em Campo Grande, MS.

Também já morreram o consagrado ponta-esquerda Zezé e o zagueiro Adilço.

AMERICA 2 x 1 FLUMINENSE
26/11/1980

Local: Maracanã (RJ)
Árbitro: Aloísio Felisberto da Silva
Renda: Cr$ 151.850,00
Público: 1.525 pagantes
Gols: primeiro tempo, Luisinho (15) e Wallace (26); no segundo tempo, Cléber (41)

AMERICA: Ernâni, Zé Paulo, Alcir, Zedílson e Álvaro; João Luís (Celso), Nedo e Luisinho; João Carlos, Porto Real (Cléber) e Nelson Borges. Treinador: Antônio Lopes.

FLUMINENSE: Ivo (Braulino), Marinho, Adilço, Paulo Roberto e Vassil; Edson, Cléber e Marcus; Paulo, Neinha e Wallace. Treinador: Nelsinho.

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MÁQUINA TRICOLOR, A LIRA DO DELÍRIO

Até o ano de 1975, o Fluminense era “apenas” o colonizador do futebol brasileiro. Sendo claro, o Fluminense ditou todos os parâmetros de excelência do esporte bretão: inventou a torcida, o estádio de porte, as competições, tudo. Campeão do mundo, do Brasil, do Rio, desafiando definições o Tricolor atravessou 73 anos escrevendo a história da maior paixão popular deste país. Mas ainda era pouco.

Durante dois anos, 1975 e 1976, a orquestra criada pelo maestro Francisco Horta, o eterno presidente, fez do Flu o time mais famoso do mundo: a Máquina Tricolor. Uma de suas façanhas foi simplesmente bater o Bayern Munchem, base da Alemanha bicampeã mundial em 1974, no Maracanã.

Entre o sonho e a realidade, a Máquina ganhou corações e mentes mundo afora. Basta uma única foto do time perfilado e todos sabem que ali está o maior Fluminense que se poderia sonhar.

Golear o Corinthians num sábado de Carnaval na estreia de Rivellino. Triturar os adversários no campeonato carioca, então o mais importante do Brasil. Esfarelar equipes estrangeiras e conquistar torneios internacionais.

Vencer ou vencer, eis a questão. Um time que virou uma legenda: a Máquina talvez só seja comparável em seu tempo à magnífica Holanda de Cruijff – que quase veio parar no Flu -, Neeskens e companhia. Monstros como Rivellino, Doval, Carlos Alberto Torres e Paulo Cézar Lima. Jovens craques como Edinho, Pintinho e Cléber. Tome Gil, Dirceu, Rodrigues Neto, Mário Sérgio, Manfrini e toda a turma. Dois anos de poesia nos gramados.

A força da Máquina era tamanha que em 1976 o Fluminense conseguiu a melhor média de público de sua história. E em 1977, já com a grande equipe desfeita, o Flu ainda tinha em campo jogadores como Wendell, Edinho, Rubens Galaxe, Pintinho, Cléber, Rivellino, Marinho Chagas e Doval, campeões da famosa Taça Teresa Herrera, e nomes escondidos no banco como os já veteranos Dirceu Lopes e César “Maluco”.

Tudo começou há quase 50 anos com a genialidade e o carisma inigualáveis do eterno presidente do Fluminense, Francisco Horta – o Maquinista.

Parece que foi ontem. O sonho não acabou: virou eternidade.