Fluminense, time de todxs (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, devido ao “combinadão” de sempre, não conseguimos chegar ao empate que nos levaria à final da Taça Guanabara. O time do “ôto patamá” foi massacrado no segundo tempo, e precisaram anular dois gols e um pênalti (este último sem qualquer previsão legal para tal) para poder dar uma satisfação mínima aos corroboradores da insanidade megalomaníaca que os cerca. Como sempre, somos a pedra no sapato rubro-negro, que precisa praticamente de uma retroescavadeira para nos remover. E como sempre, a torcida tricolor deu show, principalmente de inteligência, ao exigir que a nefasta diretoria rubro-negra pague às famílias dos meninos mortos pela negligência dos dirigentes da época. Do outro lado, como já sabemos, a limitação e o parco vocabulário da torcida dos remadores se resignou a responder com uma “ofensa” que já ouvimos há décadas, a de “time de viados”. E é sobre essa questão que vou me debruçar hoje nesta coluna.

Não é segredo para ninguém – ou quase ninguém – que o Brasil ainda é um país extremamente preconceituoso. De racismo a homofobia, passando por vários outros, vemos de tudo no nosso dia-a-dia. Muitas vezes, contudo, essas posturas aparecem disfarçadas em comentários de teor “humorístico”, brincadeiras “inocentes” e outras que sirvam para legitimar as mesmas sem grandes efeitos colaterais para quem as pratica, mas, é claro, extremamente danosas àqueles que são os alvos das mesmas. Lentamente, porém, esse cenário começou a mudar desde que o racismo passou a ser considerado crime, em 1989. Demorou mais 30 anos até que, em junho do ano passado, a lei que considera racismo como crime passasse a abarcar também a homofobia em seu escopo. O Fluminense, como sempre, foi pioneiro no combate à homofobia, iniciando inclusive a campanha “#timedetodos” em fevereiro do ano passado, antes da lei anti-homofobia passar a valer.

PODCAST DO PANORAMA: CLIQUE AQUI.

Os novos tempos e a evolução da sociedade do ponto de vista humanitário exigem uma adequação comportamental. A tolerância às diferenças precisa existir, mas com respeito aos direitos de todos. Cada um de nós é único, mas todos somos humanos. Entender isso é estar preparado para viver em sociedade no século XXI. O atraso que persiste devido à mentalidade sobretudo da primeira metade do século XX, passada de geração para geração, não vai resistir para sempre. Quanto mais cedo entendermos isso, mais rapidamente abriremos a nossa mente, deixaremos de ser pessoas intolerantes e estaremos preparados para o futuro. Isto posto, a realidade é que a quantidade de cidadãos brasileiros que ainda reproduzem comportamentos reprováveis é imensa. E isso se reflete, é óbvio, no futebol. A cantoria homofóbica comum não só à torcida do Flamengo, mas a quase todas, é o sintoma de que falta muito ainda para alcançarmos um nivel aceitável de civilidade.

Falando de Fluminense, é bastante louvável a posição do clube. Ser o “time de todos” é um passo na direção correta para encontrar eco em todas as camadas da sociedade, em todos os aspectos, atingindo todos os públicos. Torcedores do Fluminense mais “conservadores” podem não gostar desse tipo de posicionamento, mas é necessário que a nossa própria torcida evolua primeiro nesse sentido se quisermos denunciar as demais. Foi um soco no estômago do Flamengo a denúncia por homofobia, principalmente porque membros da Fla TV a praticaram, e espero que consigam aprender algo com isso e engajar na mesma campanha que o Fluminense, já que sempre se declaram como o “time do povo”, muito embora estejam cada vez mais gentrificando sua torcida e afastando o “povão” dos estádios. Contudo, isso não é suficiente. O árbitro de uma partida entre São Paulo e Corinthians interrompeu a peleja por conta de gritos homofóbicos. Esse tipo de coisa tem que virar norma. E com multa.

As pessoas só aprendem, infelizmente, quando lhes dói no bolso. Não ser babaca é difícil se você aprendeu a vida inteira que essa era a maneira “natural” ou “certa” de viver. Exige-se um nível de senso crítico e de autorreflexão elevados para mudar seu próprio jeito de ser ou de pensar, em vez de querer que todo mundo te aceite “como você é”, mesmo que você seja alguém insuportável. Não foram raras as vezes em que testemunhei crianças – eu disse CRIANÇAS – dizendo para mim que não torceriam para o Fluminense porque é um “time de viados”. Isso é muito grave. Crianças são reflexos dos adultos. Se os adultos possuem uma única maneira homofóbica de fazer troça com determinado time (com milhares de stickers homofóbicos em grupos de Whatsapp, só para citar um exemplo bobo), não dá para esperar que as crianças e adolescentes não copiem o mesmo comportamento. E quando falamos principalmente de uma torcida grande, a quantidade de pessoas a replicar o agora crime de homofobia será gigantesco.

Falei bastante, e sei que não vou agradar parte da torcida com o meu posicionamento, mas não me importo nem um pouco. Mudar é difícil e incomoda, mas é extremamente necessário. Se o Flamengo, que possuiu uma torcida organizada gay, não conseguiu nem com isso mudar a mentalidade de seus torcedores, que nós, torcedores do Fluminense, que convivemos há décadas com a homofobia nos estádios, sejamos os primeiros a realmente combatê-la. Evoluir mentalmente é um desafio, mas tenho certeza que estamos preparado para ele. Tentaram nos empurrar a pecha de racistas goela abaixo, mas mostramos que jamais fomos assim, ao menos não de forma exclusiva, enquanto a sociedade comungava das mesmas convenções sociais, ainda que nocivas. Hoje, temos a chance de ser o diferencial e mostrar que o futebol é, sim, lugar de todos, e que o preconceito não cabe mais aqui. Temos uma chance de ouro, tricolores. Tenhamos discernimento para aproveitá-la. Homofobia, não! = / =

xxxxxxxxxx

Vou dedicar apenas um parágrafo à Sula, porque é mais do que óbvio que será o jogo do ano até aqui. Não teremos Fernando Pacheco, que bagunçou a vida dos dissidentes, pois ele não estava inscrito. Logo, deve entrar o Caio Paulista, que também não entrou mal no clássico, já que Wellington Silva não estará disponível. Odair precisa parar de insistir com Luccas Claro e Digão na zaga, este último mantido apenas por ser o capitão da equipe. Ferraz e Nino precisam atuar no Chile. No meio, Hudson, Yago e Nenê seriam a minha aposta, já que Ganso não deve entrar de início. Yuri e Henrique foram mal no Fla x Flu, e hoje são reservas, no meu entender. Michel Araújo pode ser uma opção no decorrer do jogo para tornar o Fluminense mais ofensivo, talvez tirando Yago, se não conseguirmos decidir rapidamente a partida. Precisamos vencer, e será uma baita decepção se voltarmos sem essa vaga. Não podemos nem cogitar essa possibilidade. Pra cima deles, Fluzão!

Curtas:

– Excelente o posicionamento do presidente Mário Bittencourt colocando André Valentim contra a parede. Porém, a defesa institucional do Fluminense precisa ser feita em todos os momentos. Nem sempre o presidente em si precisa aparecer para tal, mas alguém do Fluminense precisa. Chega de ficar engolindo sapo e depender dos próprios torcedores para nos defender.

– Depois do jogo de quarta, já deu para perceber que esse campeonato é mais um de cartas marcadas. Podiam dar logo a taça pros protegidos e não ter segundo turno. Já esperamos arbitragens vergonhosas nos jogos decisivos mesmo. Fred nunca esteve tão certo quando disse, em 2015, que o Carioca tinha que acabar. Tem mesmo.

– Após o jogo contra o Unión La Calera, nesta terça, o Fluminense só entrará em campo na quarta-feira seguinte, contra o Moto Clube do Maranhão, pela estreia da Copa do Brasil. Falarei mais sobre este jogo na próxima coluna, mas é bom entrarmos sem salto alto… essa Copa do Brasil está permeada de zebras.

– Palpite para o próximo jogo: Unión La Calera 0 x 2 Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade