Toalete da alegria (por Alva Benigno)

alva japonês tricolor

Chiquinho Zanzibar em mais uma de suas aventuras loucas na sede das Laranjeiras, no sábado passado. Era dia de Flu Fest e a biba-mor não ia deixar passar a oportunidade.

Chegou cedo às Laranjeiras, com cabelo impecavelmente alinhado e sem a proximidade do bofinho, para preservar a relação. Esmeralda, a coitada, marcou aula com o personal trainer e não o acompanhou.

Acompanhou o talk show dos ídolos, fez cara feia para o escritor comunista – mas cochichou que, se fosse liberal e desse mole, ele fazia – e admirou discretamente a boa forma de Pintinho, o craque tricolor dos anos 70 e 80. Também ficou doido com a voz do Fiúza, capaz de provocar emoções diferentes.

Depois foi ver a tradicional pelada no gramado das Laranjeiras – já pensando como ficaria ali o sonhado shopping center de alguns celenterados -, observando os craques do passado e fazendo scouts em sua cabeça devassa: quem engordou, quem tem ainda pernão, como eram os shortinhos dos uniformes de antigamente. E especulou com funcionários se poderia ter acesso ao vestiário. Um luxo. Sem conseguir seu intento, acompanhou um pouco o jogo para depois dar a clássica passada na sauna. Um lanchinho rápido.

Voltando para Copacabana, resolveu descansar para ter forças para a festa noturna. Ia ter show da Blitz, uma noite para dançar a valer. E bofes por todos os lados. Só que desta vez teria que segurar a onda: Esmeralda também ia ao convescote tricolor. Não teria jeito de ficar com seus boys no balcão superior do Salão Nobre: daria muito na pinta. Não se pode vencer todas.

Tomou banho, sonhou com grandes supositórios, desistiu e foi relaxar. Ao entrar no quarto, Esmeralda passava pomada Minâncora no pescoço: “Me machuquei com um exercício, amor”. Ah, bom. Com a luz apagada, ela via televisão e ele fingia dormir, enquanto sonhava com gatos padrão G Magazine – nada de Vampeta.

Foram para as Laranjeiras por volta de dez da noite. Foi uma entrada triunfal: o conselheiro da viadagem com sua estampa de homem branco, de bem, ao lado da respeitável esposa, mostrando a importância do casamento no high society do clube. Logo Chiquinho encontrou colegas e correligionários, sempre de olho nos aspirantes e juvenis. Cada aperto de mão lhe passava uma força estranha, um calor que provocava o verão. Subiu para o balcão, mas detestou o slogan “O Fluminense somos todos nós”, pensando com seus botões efeminados: ” Que porra é essa? O Fluminense é meu! Eu é que vou mandar aqui nesse ebó, cacete! Tão pensando que vão botar gentalha no meu terreiro?”

Foi dar uma volta pelas dependências do clube, enquanto a patroa conversava com dois atletas da casa. Desceu a escada monumental e resolveu manjar o bar guerreiro à esquerda. Acenou para uma das mesas, com três antigos coleguinhas dos tempos do abalou bangoo e de outras peraltices no famoso bar Corujinha, símbolo LGBT da velha Copacabana: Agenor, Roger e Ney, o velho “Trio Malícia”. Dois senhores e um bofinho em delicada conversa a trois. Deu um sorrisinho: “Queridões, depois me chamem no Whats! Call me!”. Saiu do centenário prédio e foi tomar ar perto dos bustos imortais de Laranjeiras; afinal, o casal de ébano revigora e rejuvenesce.

Na volta, permitiu a si mesmo um breve momento romântico ao abraçar Esmeralda por trás durante o show da Blitz. Em certo momento, ela deu um sorriso malicioso pensando em certa empolgação do cônjuge, sem perceber que o Macunaíma tricolor estava empolgado era com a citação a Sérgio Moro feita pelo excêntrico cantor Evandro Mesquita. “Você não soube me amar!”. Chiquinho, um pilantra cínico, sorriu. Mona falsa!

O ponto culminante da festa foi quando teve minutos de folga para praticar seu esporte predileto: uma incansável lavada de mãos no toalete, alternando com idas ao mictório e lá praticando discretos olhares lânguidos para os transeuntes. O bofinho jamais saberia, Esmeralda era uma distraída por natureza. Num súbito, um craque guarani, mais bêbado do que um gambá, passou a desferir palavrões sob encomenda para um dos comunistas tricolores, de avantajado porte físico e sangue espanhol. O clima ficou nojento, com obreiros políticos dando faniquitos. O velho Chico da Alaska não se fez de rogado: manjou o que foi possível para poder se satisfazer sozinho em casa mais tarde.

Ao sair do toalete, não teve dúvidas: ídolo à parte, a Espanha deu uma goleada no Paraguai por 22 a 11. Brasil-sil-sil! Deu até um beijo de língua em Esmeralda. Não era Natal, mas Chiquinho sentira prazer como se tivesse peru na festa.

Pegou o táxi e, durante a viagem, chifrou o bofinho mandão do clube. Sobre o banheiro? O colonizador sempre vence o colonizado.

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Panorama Tricolor

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